O consenso historiográfico hoje é de que a Bíblia é um - TopicsExpress



          

O consenso historiográfico hoje é de que a Bíblia é um documento como outro qualquer para a construção da história dos hebreus.14 16 17 18 19 20 21 Portanto, do ponto de vista historiográfico, a leitura da Bíblia envolve a mobilização de instrumentos de crítica que ajudem a ler o documento de forma objetiva – procedimento igualmente aplicado a qualquer tipo de estudo histórico. Como afirmou Herbert Niehr, “Como é o caso em todas as análises historiográficas, a história não pode ser simplesmente encontrada nas fontes. As fontes apenas providenciam o material a ser explorado. Para escrever historiografia ou história de uma religião não é suficiente recontar as fontes.” 22 Grande parte do debate entre maximalistas e minimalistas se situa em torno da existência ou não dos reinados de Davi e Salomão, já que toda a história bíblica anterior à Monarquia é considerada uma construção póstuma. Para autores como Philip Davies e Thomas Thompson (tidos como minimalistas), o mais provável é que esses reinados sequer tenham existido, já que não existem fontes arqueológicas que corroborem a existência de uma grande unidade política na Palestina desse período. No entanto, William G. Dever, e Amihai Mazar (tidos como maximalistas) defendem a historicidade dos reis e seus reinos, embora em patamares muito mais modestos do que aqueles desenhados pelo relato bíblico. De toda a forma, as evidências arqueológicas do período são extremamente contrárias à existência de um Grande Reino hebraico nesse período. De acordo com o arqueólogo Amihai Mazar, “nos podemos descrever a Monarquia Unificada como um Estado num primeiro estágio de desenvolvimento, longe de ser um Estado rico e em larga extensão como retrata o relato bíblico” 23 . A ideia da criação dos mitos de Davi e Salomão é explorada detalhadamente por Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman 24 Trabalhos sobre a inexistência dum estado centralizado israelense na época de Davi e Salomão foram realizados por Jessica N. Whisenant25 , David Ussishkin26 , Nadav Na’aman 27 , Margreet Steiner 28 , Whitelam e Franken29 , Killebrew 30 , entre outros. Para Philippe Abadie, é necessário ter em mente que a bíblia expressa a forma como os hebreus releram sua própria história, e explicita que a tarefa do historiador é confrontar documentos independentes buscando uma melhor compreensão dum objeto passado. E acrescenta: “Ora, nada disso aqui. Nenhum traço do êxodo nas fontes egípcias... nenhuma menção de um reino israelita poderoso no século X na documentação contemporânea... A Bíblia por único testemunho? Mas o testemunho é confiável?”.31 Uma visão semelhante é encontrada em William Dever. Segundo ele, “Aparece com clareza suficiente que todas as histórias do Antigo Israel são agora obsoletas... No que me concerne, meu próximo livro será uma história do Israel Antigo escrita em grande parte sem recurso à Bíblia hebraica, fundamentada na maior parte do tempo sobre os ricos dados arqueológicos que possuímos hoje”.32 . Hans Barstad , por sua vez, criticou o tom positivista dos debates entre maximalistas e minimalistas, e sugeriu que os estudiosos se voltassem para a análise do gênero literário dos textos antes de tudo. Segundo Herbert Niehr, “a Bíblia apresenta apenas evidência secundária (ou até terciária) para tudo o que aconteceu antes do exílio. Fontes primárias para a história da Palestina antiga são fornecidas por todos os tipos de vestígios arqueológicos”.33 Segundo Philippe Abadie, “o relato bíblico é frequentemente recebido como documento de história – o que é invalidado por uma análise mais aprofundada” 34 Muitos autores, como Jean Soler, apontam as raízes ideológicas do relato bíblico como, por exemplo, no famoso relato do cerco de Jerusalém por Senaqueribe na época do reinado de Ezequias. Enquanto as fontes extra-bíblicas apontam para a humilhação do rei judeu perante os invasores (o rei teria feito aliança com Senaqueribe, tendo entregue riquezas e suas próprias filhas para livrar o cerco de Jerusalém) o relato hebreu possui uma natureza diferente. Segundo Soler “de acordo com a Bíblia, esse ato de aliança e o pagamento do tributo se situam depois da perda de “vilas fortificadas de Judá” (2 R 18, 13), notavelmente de Lakish, v 14, mas antes do cerco de Jerusalém, o que se torna, assim, incompreensível. Por que razões o rei Senaqueribe, que vinha obter de Ezequias tudo o que desejava, teria posto cerco a Jerusalém?” 35 Ainda segundo Jean Soler, a arqueologia de Israel chegou à conclusão de que os hebreus não haviam colocado sua língua por escrito pelo menos até o século IX ou VIII a.C. Se Yahweh tivesse escrito de seu punho, em hebreu, os dez mandamentos sobre tabuletas de pedra, os hebreus não poderiam ter decifrado essa escrita por muitos séculos! É amplamente aceito hoje que o primeiro pedaço da Bíblia (a versão inicial de Deuteronômio), o quinto livro do Pentateuco atual, data do rei Josias que reinou em Jerusalem na segunda metade do século VII a.C., pouco antes da captura da capital por Nabucodonossor(...)36 Crítica Redacional[editar] A respeito da crítica redacional, a Bíblia de Jerusalém salienta que a presença de “um problema literário é fato inegável para quem se inclina atentamente sobre os textos. Desde as primeiras páginas do Gênesis encontram-se duplicatas, repetições e discordâncias: dois relatos das origens, que apesar de suas diferenças, contam de maneira dupla a criação do homem e da mulher (1, 1-2,4a e 2,4b-3,24); duas genealogias de Caim-Cainã (4,17 e 5,12-17); dois relatos combinados do dilúvio (6-8). Na história patriarcal, há duas apresentações da aliança com Abraão (Gn 15 e 17); duas expulsões de Agar (16 e 21); três relatos da desventura da mulher de um patriarca em país estrangeiro (12, 10-20; 20; 26,1-11); provavelmente duas histórias combinadas de José e de seus irmãos nos últimos capítulos do Gênesis. Em seguida, há dois relatos da vocação de Moisés (Ex 3, 1-4, 17 e 6,2-7,7), dois milagres da água em Meriba (Ex 17, 1-7 e Nm 20, 1-13); dois textos do Decálogo (Ex 20, 1-17 e Dt 5,6-21); quatro calendários litúrgicos (Ex 23, 14-19; 34, 18-23; Lv 23; Dt 16,1-16). Poderiam ser citados vários outros exemplos”. As incoerências internas ao texto bíblico são várias vezes apontadas, como em Êxodo 2, 18, “Os textos não concordam quanto ao nome e à pessoa do sogro de Moisés. Aqui temos Ragüel, sacerdote de Madiã; em 3,1; 4,18; 18,1 ele se chama Jetro. Nm 10,29 fala de Hobab, filho de Ragüel, o madianita, e Jz 1,16; 4,11, de Hobab, o quenita”.37 Ver também[editar] Apologética Hebreus Bíblia Crítica da Bíblia Referências 1.↑ Harpers Bible Dictionary, 1985 2.↑ a b John William Rogerson (1985). Old Testament Criticism in the Nineteenth Century. 3.↑ Jǒn Douglas Levenson. The Hebrew Bible, the Old Testament, and historical criticism. 4.↑ Antony F. Campbell, David Jobling, Charles E. Carter (1985). The Hebrew Bible in Modern Study. 5.↑ Fogarty, pág. 40 6.↑ Divino Afflante Spiritu. 7.↑ Catecismo Católico. 8.↑ H. S. Reimarus. Fragments. 9.↑ Richard N Soulen,R. Kendall Soulen. Handbook of Biblical Criticism. 10.↑ John Dominic Crossan. Jesus: a Revolutionary Biography. 11.↑ Marcus J. Borg. Reading The Bible Again For The First Time: taking the Bible seriously but not literally. 12.↑ Bruce Chilton. Rabbi Jesus: Na Intimate Biography. 13.↑ Géza Vermès. Jesus the Jew. 14.↑ a b Airton José da Silva. A História de Israel no Debate Atual (em português). 15.↑ H. Bruins and J. van der Plicht. Radiocarbon results from the middle bronze age., Jericó era deserta na data bíblica da conquista. Os resultados de Kenyon foram confirmados em 1995 por testes de carbono (...) 16.↑ Thomas L. Thompson. The Mythic Past: Biblical archaeology and the myth of Israel (em inglês). 17.↑ Keith W. Whitelam. The invention of Ancient Israel: the silecing of Palestinian History (em inglês). 18.↑ The Bibles get a reality check. 19.↑ Françoise Briquel-Chatonnet. Israel et Juda: Des Royaumes Parmi D’autres. 20.↑ Joseph Blenkinsopp. Civilizations of the Ancient Near East, v. II: Ahab of Israel and Jehoshaphat of Judah: The Syro-Palestinian Corridor in the Ninth Century. P. 1311. 21.↑ israel Finkelstein & Neil Asher Silberman. The Bible Unearthed. (em inglês). 22.↑ Herbert Niehr, The Rise of YHWH in Judahite and Israelite Religion 23.↑ Amihai Mazar. The Search for David and Solomon: An Archaeological Perspective, The quest for the Historical Israel (em inglês). 24.↑ Israel Finkelstein & Neil Asher Silberman. David and Solomon: in search of the Bible’s sacred kings (em inglês). 25.↑ Jessica N. Whisenant, Writing, Literacy, and Textual Transmission: The Production of Literary Documents in Iron Age Judah and the Composition of the Hebrew Bible, op. cit. 26.↑ David Ussishkin, Solomons Jerusalem : The Text and the Facts on the Ground, pp. 103-116, op. cit. 27.↑ Nadav Na’aman, Cow Town or Royal Capital? Evidence for Iron Age Israel, Biblical Archaeology Review 23, no.4, pp. 43-47 et p. 67 (1997). Nadav Na’aman, Sources and Composition in the History of David, pp. 170-186, in Origins of the Ancient Israelite States, edited by Volkmar Fritz and Philip R. Davies, Sheffield Academic Press (1996). Nadav Na’aman, The Contribution of the Amarna Letters to the Debate on Jerusalem’s Political Position in the Tenth Century B.C.E., Bulletin of the American Schools for Oriental Research, vol.304, pp. 17-27 (1996). 28.↑ Margreet Steiner, The Evidence from Kenyon’s Excavations in Jerusalem: A Response Essay, pp. 347-363, in Jerusalem in Bible and Archaeology (2003). The First Temple Period. Edited by Andrew G. Vaughn and Ann E. Killebrew. Atlanta: Society of Biblical Literature. Margreet Steiner, Excavations by Kathleen M. Kenyon in Jerusalem, 1961-1967, vol.III, The Settlement in the Bronze and Iron Ages, Copenhagen International Series 9, London: Sheffield Academic Press, pp. 280-288 (2001). 29.↑ Keith W. Whitelam, Palestine during the Iron Age, pp. 391-425, in The Biblical World, edited by John Barton, New York : Routledge (2002). 30.↑ Ann E. Killebrew, Biblical Jerusalem: An Archaeological Assessment, pp. 329-345, in Jerusalem in Bible and Archaeology, The First Temple Period, edited by Andrew G. Vaughn and Ann E. Killebrew, Atlanta: Society of Biblical Literature (2003). 31.↑ La Bible entre mémoire et relecture (em inglês). 32.↑ William G. Dever, Some Methodological reflections on Chronology and History Writing, p. 415 in The Bible and Radiocarbon Dating, op. cit. 33.↑ Herbert Niehr, The Rise of YHWH in Judahite and Iraelite Religion, pág. 47 34.↑ Philippe Abadie, L’histoire d’Israël entre mémoire et relecture. Les éditions Du cerf, 2009. Pág. 21 35.↑ Jean Soler, L’invention Du monothéisme. Tome I. Hachètte Littératures, 2003. Pág.37 36.↑ Jean Soler. Pourquoi le Monothéisme? (em francês). 37.↑ The Jerusalem Bible.
Posted on: Sun, 17 Nov 2013 15:50:26 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015