O cruzeirense, já esquecido de como se gozava um título, ejaculou precocemente neste domingo. Sem ter sido campeão de fato, deu a volta olímpica levantando uma taça de papelão. Sem a medalha de ouro, que certamente virá mas ainda não veio, Dagoberto subiu nas traves como se fosse um Diego Hipólito, aquele que já ganhou mas acabou perdendo. No afã de fazer frente à festa do atleticano na conquista da Libertadores - a maior que a cidade já viu em toda a sua história -, o cruzeirense acorreu à Praça Sete. Pra quem comemora o tri sem ter sido bi, celebrar mais um título sem conquistá-lo é um pulinho. Daqui a pouco veremos o cruzeirense na rua com aquele quepe do Didi Mocó, aquele com a mãozinha de ok no cucoruco - ou seja, a um passo de se achar Napoleão Bonaparte. As Maria pira, dizem os atleticanos no Twitter. Eu só não esperava que o fenômeno fosse literal. Comecei a me preocupar de verdade quando recebi mensagem de uma delas perguntando se por acaso, sua franga, você sabe o que é ser campeão com cinco rodadas de antecedência?. Fui obrigado a dar a mão à palmatória: talvez por um problema de QI, foge à minha compreensão essa coisa de ser campeão sem ter sido. Não sou Salvador Dalí pra tanto surrealismo. Quarta que vem, se o título do Cruzeiro se confirmar, é possível que seu torcedor se veja tetra, já que o tri ocorreu domingo. O bi, como se sabe, veio por fax. E o Gardenal, esqueceram na gaveta. O problema do cruzeirense é sua obsessão com o Atlético. Copia nossas músicas, chupinha nossas frases. Confessa, cruzeirense: depois da conquista, você coçou de vontade de ir para a porta da sede. Em Lourdes. Como ia dar na cara demais, a kombi foi parar no prédio de Alexandre Kalil. Lá debaixo gritavam: Ei, Kalil, VTNC. Mal sabiam elas que o presidente tem um quadro na parede de sua firma com esses mesmos dizeres, que tanto o orgulha, vindo de quem vem. Pena que não pôde se regozijar com a homenagem - estava viajando. Bom mesmo foi o Fantástico mostrando a festa do pseudo-título, que, por pseudo, não mereceu o hino do clube. Mandaram uma Lady Gaga, ou algo assim, enquanto aquela animação da eguinha vestida de Cruzeiro bailava em frente a um globo de lantejoulas. Esse pessoal tá de sacanagem - só pode ser coisa do Chico Pinheiro. Quarta que vem, se vier o tetra, a Globo deve enfim tocar o hino - o único do mundo a conter apenas uma estrofe. Toda vez que o escuto, me vem à cabeça a imagem atormentada de seu criador. Ele deve ter redigido o primeiro verso e, desanimado com a falta de tradição de seu cliente (o Cruzeiro é historicamente um São Caetano que deu certo), saiu para fumar um cigarro. Foi quando pensou: Quer saber? Vou deixar essa coisa assim mesmo. Mas, enfim, já estou tergiversando... Aproveito para pedir desculpas aos milhares de leitores deste blog que torcem para o Cruzeiro e me enviam mensagem carinhosas, com recorrentes recomendações à minha mãe, e questionando os seguidos posts em que cito o menor de Minas. Sempre cordiais, perguntam: Nobre jornalista, por que não fala do seu time? Gostam mesmo de ler sobre o meu Galo. A esses abnegados leitores, explico que a vida no Atlético está tediosa, culpa desta interminável espera pelo Mundial, capaz de transformar o Brasileirão numa brochante preliminar entre os juniores de Tupi e Caldense. Este o campeonato que vocês ganharam, sem ganhar. O que me resta na ocasião é cuidar de vocês, cativos e celestes leitores, os únicos tricampeões do Brasil a possuírem um título só. O bom disso é que o cruzeirense me oferece todos os dias um Dale 1,2,3 novo, uma bomba introjectada no corpo, uma taça de papelão. A piada já vem pronta, me poupando o trabalho. Eu olho pra isso tudo e, pleno de vergonha alheia, agradeço a sorte de ter nascido atleticano. Com todo respeito, obrigado, meu Deus. Autor: Fred M
Posted on: Tue, 12 Nov 2013 00:44:49 +0000