O magnetismo nas polêmicas Nos vários diálogos que tive com - TopicsExpress



          

O magnetismo nas polêmicas Nos vários diálogos que tive com certos tipos de intelectuais observei que o poder dos mesmos se encontrava mais na indução de insegurança, ira e confusão no outro do que na coerência das idéias que defendiam. Observei também que tendem a relutar em ir para o confronto direto, incisivo e concentrado, preferindo desconcertar o interlocutor com indiretas que o deixem na dúvida a respeito de estar ou não sendo atacado. As armas mais proeminentes que verifiquei foram o sorriso cínico associado à calma e à fala debochada não assumida. São elementos que parecem sustentar-se na sensação auto-induzida de se estar no controle da situação e que possuem grande poder magnético de indução e grande impacto emocional em pessoas abertas e indefesas. Ao ser o interlocutor forçado a cair em estados emocionais desfavoráveis, seu fluxo de idéias sofre uma interrupção, o que o leva a girar em círculos à procura da melhor reação, das melhores frases a serem ditas e das melhores idéias a serem expressas. Para nos protegermos e refratarmos esse fluxo de força é imprescindível mantermos a calma ao máximo, relaxando enquanto aplicamos uma sobreposição concentrada de nossa idéia com descarte total das ludibriadoras idéias e falas alheias. Assim raptamos ao intelectual a sensação de controle e firmeza que induziu a si mesmo como ponto de apoio. O fundamento da sobreposição concentrada da idéia é a colocação do nosso ponto de vista durante as pausas no monólogo que o intelectual pretende instalar aliada à manutenção de uma ausência total de reação interna às suas tentativas indutórias e hipnóticas. A grande dificuldade é manter a mente quieta e sem interrupção do nosso fluxo de idéias. O melhor momento para desferir os ataques é durante as pausas que o oponente realiza para respirar ou para organizar as idéias. Entretanto, se o velhaco do intelecto for muito louco, daqueles que gritam sem pausas, talvez tenhamos que cortar sua fala ao meio, falando simultaneamente. Segundo a compreensão média, comum e corrente, aquele mais ataca durante uma discussão é o vencedor. Os leigos pressupõem que aquele que fala muito sabe mais e possui mais informações do que o oponente, ainda que fale apenas besteiras. Entretanto, a prática de muito falar é desgastante. O melhor é deixar que o oponente fale bastante para se cansar e, de tempos em tempos, atacá-lo fulminantemente em suas pausas. Use um tom de voz imperativo, dominante. Não corra atrás dos erros e enganos de seu oponente e nem tampouco alimente a ilusão de poder levá-lo a reconhecer seu erro. Não perca tempo na defensiva. Se quiser explicar suas razões faça-o de forma direta, sem perseguir a fala de seu inimigo. Devemos desenvolver a capacidade de encontrar as respostas a serem ditas sem preparo prévio, como se faz no Jeet Kune Do com os movimentos do corpo, no Jazz e no Flamenco com as frases musicais. A parada psíquica resulta da tendência em ficarmos procurando a melhor resposta ou reação ao momento. O caminho da superação é o de iniciarmos emitindo respostas errôneas ao mesmo tempo em que as vamos corrigindo progressivamente. Para tanto, convém encontrar situações de treino altamente realistas nas quais os erros possam ser cometidos ilimitadamente mas sem risco real para nossa integridade (para o boxeador seria o sparring, para o músico seriam os ensaios). As respostas corretas existem previamente em nossa psique inconsciente. A dificuldade reside em extraí-las pois, durante as discussões, nos paralisamos ao tentar criá-las. Nas discussões há um forte substrato emocional que é preponderante na definição de seus desfechos. Ao contrário das aparências em que todos acreditam, o que determina quem as vence é a convicção de estar com a razão e a capacidade de ser mais frio, direto e objetivo do que o outro. Preocupe-se em ser superior ao seu oponente em calma e frieza. Deixe que ele enlouqueça. Esteja presciente contra reações violentas e as receba com naturalidade. Não se deixe ser atingido por gritos ou tentativas de humilhações. As discussões são jogos: cada uma das partes tenta atingir a outra ao máximo e ser atingida ao mínimo. Há vários egos que nos tornam vulneráveis: a preocupação com o que o outro pode estar pensando, o desejo de fazê-lo reconhecer seus erros, o medo de sermos expostos ao ridículo, a impaciência ante suas rajadas de palavras etc. etc. etc. Todos nos vulnerabilizam e conduzem à parada psíquica. Os defensores de idéias absurdas, velhacos que odeiam a verdade e amam a mentira, trabalham com a desconcentração: impedem que o pensamento do interlocutor oponente se concentre. Ao impedir a concentração do pensamento, desarticulam a análise concentrada, fragmentando-a. Para induzir a desconcentração fragmentadora da análise, abordam muitos assuntos simultaneamente sem nenhuma profundidade. É por isso que muitas vezes a pessoa que defende a idéia mais coerente é a que perde a discussão. O poder magnético da fala do charlatão atrai a atenção do interlocutor oponente e arrasta seu pensamento para múltiplos temas que nenhuma importância possuem para a compreensão do ponto específico levantado mas que são eficientes para confundir a análise e criar no outro a necessidade de se explicar, de tentar corrigir erros, desfazer mal-entendidos etc. Ao "correr atrás" das bobagens ditas pelo espertalhão, o oponente sincero cai em uma armadilha: é atraído para a análise fragmentada e superficial que aborda simultaneamente muitos pontos sem penetrar em nenhum. É assim que as falhas lógicas, incoerências, falácias e sofismas se preservam. É assim que perguntas desaparecem sem terem sido respondidas. É o caos dialógico, o pandemônio de idéias, a confusão que favorece a mentira, o engano. Combatemos esta artimanha com a concentração da atenção e do pensamento na análise que estamos realizando, sem nos deixar desviar u distrair, a despeito de todas as provocações, desafios etc. Costuma dar resultado o procedimento de ignorar totalmente as asneiras que o oponente diz e ir colocando nossa idéia aos poucos, como se fôssemos absolutamente surdos às tentativas de indução de desconcentração, desvios e distrações. Jamais corra atrás do que lhe for dito, na vã esperança de que erros do velhaco possam ser reconhecidos. Quando as rajadas de palavras forem disparadas, deixe-as sair, aguente e aguarde calmamente. Não perca seu tempo correndo atrás delas pois é isso o que seu oponente deseja para confundí-lo. Obviamente, ele terá que parar para respirar e, neste momento, você faz suas colocações, as quais devem ser incisivas, sintéticas, diretas, curtas e fulminantes. Nos casos extremos em que o manipulador fala e grita como uma cachoeira, sem interrupções, podemos falar simultaneamente. Em algumas situações, podemos calá-lo somente olhando fixamente em seus olhos de forma determinada, quase ameaçadora, se conseguirmos instalar o estado interno correto. O olhar e a voz possuem enorme peso na emissão e na devolução dos feitiços e encantamentos por serem hipnóticos e anti-hipnóticos ao mesmo tempo. Algumas poucas (muito poucas!) vezes, você pode extrair do lixo dito por seu adversário alguma idéia para tecer um comentário destrutivo e confundí-lo. O que importa, aqui, não é fazê-lo compreender nada mas sim cumprir nossa parte, esclarecendo nosso ponto de vista (ato que pode ter o efeito de confundí-lo), pois somente podemos fazer compreender erros àqueles que desejam compreendê-los e não àqueles que desejam defender suas idéias. É perda de tempo tentar fazer um polemizador compreender algo. Divirta-se em vê-lo perdido e estonteado. Para resistir à rajada de palavras, é importante não se identificar com as mesmas. Resista ao magnetismo fatal da voz humana. Antes de tudo, é necessário um estado interno correto que se caracteriza por frieza, incisibilidade, objetividade, impiedosidade, adaptabilidade, flexibilidade e calma. O estado interno correto vem antes mesmo dos argumentos. Em polêmicas, os intelectuais sempre costumam impedir a exposição das idéias opostas às suas por meio de seguidas intervenções que afastam o pensamento do núcleo da análise, evitando seguir o curso do raciocínio que expomos, nos interrompendo a todo momento com observações e perguntas que embaralham as idéias etc. Esta prática tem como efeito confundir. Falam e pensam rápido, para confundir. Rejeitam totalmente a análise calma e imparcial. Temem se exporem ao confronto sozinhos e necessitam da segurança proporcionada pelas cadeias magnéticas que criam e comandam. A estratégia que utilizam para vencer as discussões é levar o oponente a se perder na confusão de sentimentos caóticos, induzindo-o a ficar possesso por emoções como ira, medo, vergonha etc. Para vencê-los, sempre tive que fazê-lo psicologicamente, dominando-me, ou seja, vencendo a mim mesmo para em seguida vencê-los por extensão. Podemos sintetizar os mecanismos sabotadores de análise nas polêmicas do seguinte modo: • intervenções que afastam a atenção e o pensamento da questão principal em discussão; • intervenções que tem o efeito de atingir o sentimento, confundindo; • intervenções múltiplas, contínuas e rápidas que não permitem que o pensamento do interlocutor seja exposto e acompanhado; • utilização de voz alta para provocar medo; • alusões a aspectos delicados da vida pessoal do interlocutor; • tentativas de diminuir e envergonhar o intelocutor mediante o apelo a titulações e fatos econômicos. Precisamos ser absolutamente impenetráveis a todas as formas de feitiço apontadas cima. Nenhuma deve ser capaz de afetar nosso ânimo. Se nos mantivermos firmes e inacessíveis como uma rocha enquanto expomos nossas idéias, ignorando totalmente as falas inúteis do manipulador, seu feitiço será lançado de volta, pela lei do movimento especular, atingindo-o. Então o veremos surtar loucamente atingido pelo ódio, pela vergonha, pelo medo e por outros estados internos maléficos que haviam sido destinados a nós mas que repelimos. Um conjunto de fúria e calma se faz indispensável. A destrutividade do espírito de combate necessita ter seu lugar na alma, do mesmo modo que a amabilidade e a doçura. Todas são funções psíquicas que não podem ser dispensadas. Em polêmicas graves, um dos segredos é uma espécie de raiva intensa porém controlada e direcionada. Olhe seu oponente nos olhos com fúria, sem medo, como em um combate. Porém sempre avalie as consequências posteriores que tal confronto possa ter. Nunca é saudável ter inimigos porque, se os vencemos, eles não nos esquecem e prosseguem nos perturbando, reunindo forças contra nós etc. Certos charlatães materialistas dogmáticos, céticos unilaterais, ortodoxos conservadores, fanáticos religiosos e outros sofistas inimigos da verdade rejeitam o estudo metódico por inquirição em estilo socrático.Tentam convencer confundindo ao invés de buscarem convencer esclarecendo porque vencer as discussões é sua meta única e maior, pela qual estão apaixonados. Não almejam estudar e compreender em comunhão com o interlocutor. Rechaçam o estudo sincero imparcial e a compreensão dos temas sob o ponto de vista alheio. Quando os pontos nevrálgicos de suas teorias são tocados por perguntas incisivas, lançam mão de estratégias ludibriadoras para distrair o inquiridor: falam muito ou lançam vários questionamentos recheados por termos provocativos com o intuito de desviar a atenção dos pontos fracos de suas hipóteses para assim mantê-los ocultos. Quando encurralados, se enfurecem para amedrontar (característica animal). Em última instância, estão comprometidos em defender as próprias idéias e não se interessam em estudar. A disposição que os sofistas possuem para o estudo verdadeiro é apenas parcial, relativa, pois a sustentam somente até o momento em que as falhas lógicas nos pontos nevrálgicos de suas teorias são expostas. A partir daí a disposição para o estudo termina. Não possuem preparo psicológico para os desconfortos da análise e carecem de uma capacidade fundamental em qualquer analista: a de trocar de ponto de vista continuamente. Infelizmente, no meio acadêmico de muitos países eles ainda são maioria. Acreditam-se donos da ciência e rejeitam a filosofia e a religião, ignorando que filosofia, ciência e religião se tornam desvios aberrantes quando divorciados. Como dominam os aparatos oficiais de elaboração de conhecimento e contam com a legitimação do poder, desde tal posição difundem a ignorância sob disfarce de sabedoria na sociedade. Aliás, a priorização de seus compromissos políticos e econômicos em detrimento da verdade provém desta posição. Podemos concluir, assim, que os sofistas charlatães defendem suas mentiras por serem estupidamente ignorantes ou talvez, na pior das hipóteses, por serem terrivelmente mal-intencionados. Assim opera neles o magnetismo. Observemos como se discute com charlatães em geral. Devemos nos ater ao ponto nevrálgico que dá origem à discussão e resistir a toda investida fascinatória que possa nos distrair e desviar o rumo da análise. Os charlatães necessitam, pela própria natureza de seus objetivos desonestos, impedir a análise esclarecedora e instalar a confusão, já que é somente assim que mentiras e hipóteses mal elaboradas podem resistir. Para tanto, costumam principiar a discussão em torno de um ponto e em seguida inserem, propositalmente, muitos outros pontos na discussão para torná-la caótica. Estes pontos inseridos astuciosamente aparentam ter ligação com o tema estudado mas na verdade apenas se destinam a distrair e confundir o pensamento, gerando o que chamo de caos dialógico. Este caos dialógico então camufla as incoerências e falhas lógicas dos raciocínios falaciosos fazendo as mentiras parecerem verdades e as verdades parecerem mentiras. É por esta razão que os juízes não permitem discussões em tribunais, mas apenas inquirições, pois sabem muito bem que as piores pessoas costumam ser as melhores na arte de ludibriar. É pela mesma razão que os filósofos antigos decidiam antecipadamente quem iria perguntar e quem iria responder. Combate-se facilmente tais artimanhas por meio da concentração e da recordação de si mesmo. Primeiro: deve-se capturar o ponto nevrálgico da discussão e não largá-lo de maneira alguma. Segundo: deve-se resistir a todas as tentativas de indução de fascinação e distração. É indispensável jamais correr atrás dos equívocos manifestados pelo opositor na tentativa de fazê-lo compreender e admitir seu erro pois é exatamente isso o que ele quer. Ao perder o tempo tentando convencê-lo, você se distrai e deixa de aprofundar o ponto que o espertinho quer manter oculto. Os charlatães sofisticam-se na arte de fascinar e distrair. Enquanto estão conseguindo fascinar, estão no comando, manipulando as crenças, sentimentos e pensamentos do opositor. Se, entretanto, este se torna refratário às fascinações, isto é, se passa a ignorá-las totalmente e continua em seu pensamento, a tentativa de indução de sentimentos fracassa totalmente. Então acontece algo curioso: o velhaco é atingido pelo fluxo de energia fascinatória que criou na mesma proporção de seus esforços para nos fascinar. Quanto maiores os esforços para manipular nossos sentimentos, maior a frustração ao não conseguí-lo. Então vários sentimentos negativos o invadem, do mesmo modo que seríamos invadidos caso não houvéssemos fechado a passagem ao fluxo magnético.
Posted on: Sat, 17 Aug 2013 14:57:42 +0000

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