O poema de Ferreira Gullar, completo: Homem comum Sou um homem - TopicsExpress



          

O poema de Ferreira Gullar, completo: Homem comum Sou um homem comum de carne e de memória de osso e esquecimento. Ando a pé, de ônibus, de táxi, de avião e a vida sopra dentro de mim pânica feito a chama de um maçarico e pode subitamente cessar. Sou como você feito de coisas lembradas e esquecidas rostos e mãos, o guarda-sol vermelho ao meio-dia em Pastos-Bons, defuntas alegrias flores passarinhos facho de tarde luminosa nomes que já nem sei bandejas bandeiras bananeiras tudo misturado essa lenha perfumada - que se acende - e me faz caminhar Sou um homem comum brasileiro, maior, casado, reservista, e não vejo na vida, amigo, nenhum sentido, senão lutarmos juntos por um mundo melhor. Poeta fui de rápido destino. Mas a poesia é rara e não comove nem move o pau-de-arara. Quero, por isso, falar com você, de homem para homem, apoiar-me em você oferecer-lhe o meu braço que o tempo é pouco e o latifúndio está aí, matando. Que o tempo é pouco e aí estão o Chase Bank, a IT & T, a Bond and Share, a Wilson, a Hanna, a Anderson Clayton, e sabe-se lá quantos outros braços do polvo a nos sugar a vida e a bolsa Homem comum, igual a você, cruzo a Avenida sob a pressão do imperialismo. A sombra do latifúndio mancha a paisagem turva as águas do mar e a infância nos volta à boca, amarga, suja de lama e de fome. Mas somos muitos milhões de homens comuns e podemos formar uma muralha com nossos corpos de sonho e margaridas.
Posted on: Mon, 24 Jun 2013 18:58:47 +0000

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