O poeta francês Lamartine passava horas a fio olhando sempre para - TopicsExpress



          

O poeta francês Lamartine passava horas a fio olhando sempre para o mesmo mar. Alguém lhe perguntou certa vez: "Mas não se cansa de olhar sempre a mesma vista?" - "Não - respondeu -; por que será que todos vêem o que eu vejo e ninguém enxerga o que eu enxergo?" A sua alma de poeta permitia-lhe ver realidades diferentes nas paisagens de sempre. A alma contemplativa que o amor nos confere dá-nos também essa acuidade espiritual que nos permite ver mundos novos por trás das aparências sempre iguais do monótono viver diário. Em contrapartida, quando não existe uma viva preocupação por renovar o amor como o fator mais importante da vida conjugal e familiar, aparecem esses matrimônios corroídos pela monotonia. Lembro-me do Gilberto e da Cida. Acompanhei as suas vidas desde o início do casamento. Amavam-se muito. Gilberto, jovem advogado que achava lindíssima a sua "Cidinha", trabalhou muito e prosperou. Aconselhava-se espiritualmente comigo. Depois de catorze anos de casamento, Gilberto disse-me um dia: - O meu casamento entrou em crise. Morro de tédio e monotonia. Todos os dias, quando me levanto, vejo a Cida despenteada, sem se arrumar, horrorosa, com os pés enfiados nuns chinelos horríveis que não troca faz quinze anos, arrastando-se pelos corredores, cansada... Abro a porta do quarto e encontro as crianças, que já são adolescentes, discutindo, brigando... A minha casa parece um zoológico... "Depois, chego ao escritório e encontro lá a Mônica, uma estagiária. O panorama muda da água para o vinho. Ela é encantadora. Acho que tem uma queda por mim... Aproxima-se, charmosa...: "O senhor parece cansado...; não quer que lhe traga uma aspirina com uma coca-cola?" E afasta-se com um andar cadenciado que me arrebata... Estou perdendo a cabeça... Em casa, sinto-me acorrentado... Tenho necessidade de libertar-me. Por que condenar-me à prisão de um amor que já morreu? O contraste entre a Mônica e a Cidinha é muito forte... Não sei, não... O que me aconselha?... - Eu lhe daria quatro conselhos - respondi -, mas preciso antes que você me diga se está disposto a cumpri-los. - Sempre aceitei e pratiquei os seus conselhos, e não é agora, neste momento crítico, que deixarei de segui-los! - O primeiro - prossegui -, é que mande embora a estagiária... - Não! Isso não!! - Prometeu seguir os meus conselhos... Ao menos, dê-lhe trinta dias de férias remuneradas... - Isso sim, posso fazer... - Em segundo lugar - acrescentei -, leve o seu filho mais velho à igreja em que você se casou, e, diante do altar e do sacrário onde você prometeu à Cida que a amaria até que a morte os separasse, diga ao seu filho que pensa trocar a mãe dele pela Mônica... Já imaginou o que lhe responderá esse seu filho, que lhe parece um "bicho do zoológico", mas que ama o pai mais do que tudo no mundo? Quer que lhe diga?: "Pai, esperaria qualquer coisa de você, menos que fizesse uma cachorrada dessas com a minha mãe"... - O senhor está sendo duro demais - retrucou o meu amigo. - Não. Pense que estou apenas adiantando o que, muito provavelmente, lhe dirá o seu filho... "Terceiro conselho: olhe a Cida com outros olhos, como a mãe dos seus filhos, como aquela que perdeu a juventude e a beleza ao seu lado, que já fez o papel de enfermei ra - quantos remédios ela já não lhe levou à cama! -, mãe e companheira amorosa; e, especialmente, recomendo que aprofunde mais na sua vida espiritual, que está muito desleixada: daí tirará forças. E, por último, antes de ter essa conversa com o seu filho, espere que eu fale com a Cida... Diga-lhe que marque uma hora comigo... Veio a Cida, toda inocente, desarrumada, despenteada: - Cida, por favor, arrume a "fachada" e... compre outros chinelos! A Cida era inteligente. Foi ao cabeleireiro, comprou roupas novas, uns chinelos novos, tornou-se mais carinhosa com o Gilberto, preparou as "comidinhas" de que ele gostava... e terminou "reconquistando" o marido. Quando a Mônica voltou de férias, o Gilberto dispensou-a sumariamente. Hoje, Gilberto e Cida são muitos felizes. O filho mais velho formou-se em Engenharia. Nem suspeita de nada. Continua adorando o pai, como os demais irmãos. Mui tas vezes penso o que teria acontecido a essa família se o Gilberto se tivesse deixado enfeitiçar pelo canto da sereia. É evidente que nem o marido nem a mulher devem permitir esse desgaste. A monotonia densa, pesada, que torna a vida uniforme, insípida, tediosa, insustentável, venenosa, reclama clamorosamente uma renovação. portaldafamilia.org
Posted on: Tue, 10 Sep 2013 15:28:31 +0000

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