O recado das ruas Os sinais de inquietação da opinião pública - TopicsExpress



          

O recado das ruas Os sinais de inquietação da opinião pública vieram antes do esperado. Os Poderes do Estado, e dos estados em geral, sempre governaram com os olhos voltados para os próprios umbigos. Governam como senhores de baraço e cutelo, como se suas decisões fossem sempre acatadas obedientemente, como ukases dos antigos czares. Olham, em geral para os próprios interesses. E a manifestação das urnas que os elegem para eles é mais do que suficiente para sancionar e justificar o poder que têm. Como em todas as manifestações que repercutem, porém, um dia, o caldeirão das insatisfações explode e, sem que se conheça quem o aqueceu, transforma-se em multidões anônimas que dão um basta às carências dos que enfrentam o dia a dia. Não se conhece nenhum governante que, no Rio de Janeiro, tenha um dia experimentado os vagões lotados dos trens da central, ou dos metrôs abarrotados de cidades como São Paulo. A população do país não para de crescer. E o crescimento, que não é acompanhado pela melhoria das condições de vida da maioria da população, termina alimentando as insatisfações, que se acumulam. Sem líderes nem lideranças ostensivas, a temperatura aumenta e estimula os movimentos coletivos e anônimos, que não precisam de líderes para se exprimir e para explodir, surgidos ninguém sabe de onde, como nem por quê. Em Brasília, sem maiores repercussões, a presidente arriscou-se a ir a um estádio, sem motivo aparente. Os estádios de futebol sempre foram um termômetro em todo o país. Os cariocas dizem que os torcedores do Maracanã vaiavam até o minuto de silêncio, fosse qual fosse o motivo ou a razão. Afinal, ninguém enfrentava as dificuldades e pagava entradas para a maioria caras, arrancadas do bolso com dificuldade qualquer que fosse o motivo. Brasília não teria por que ser uma exceção. E a primeira mulher chefe do governo no país padeceu do desconforto de uma vaia. Não que tenha sido um aviso. O aumento do preço das passagens de ônibus, tanto no Rio quanto em São Paulo, de apenas vinte centavos, não faz a menor diferença para os milhões de brasileiros que têm seus automóveis. Não é o caso dos outros muitos milhões que vão ao trabalho e dele voltam para casa todos os dias durante 300 dias por ano, ganhando salário-mínimo para sustentar a família e suas necessidades. Dá o que pensar. Mais do que isso, dá para entender um movimento de tanta expressão, como o que ocorreu simultaneamente em dois dos mais importantes estados do país. Sem líderes, sem lideranças, sem outro estímulo que a indignação, serviu de advertência para os governantes responsáveis pelas concessões que dão a empresas de transporte, como parte de suas atribuições. Pensar antes nas consequências de atos aparentemente rotineiros deveria ser a preocupação de todos os que, em razão dos poderes que têm, precisam pensar antes de adotá-los ou autorizá-los. As lições das ruas não são úteis apenas para os governantes, mas para todos, a começar pelos empresários que têm interesses a zelar e a defender. A população não tem outros meios para se manifestar senão protestando. E quando eles são coletivos, costumam chegar mais rapidamente aos ouvidos dos que não têm o hábito de ouvi-los. Afinal, cautela, bom senso e ponderação nunca fizeram mal a ninguém. Em especial aos que vivem da participação coletiva. OCTACIANO NOGUEIRA Historiador e cientista político - Correio Braziliense
Posted on: Wed, 19 Jun 2013 14:20:24 +0000

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