O silêncio é o ventre universal onde é gestada a consciência e - TopicsExpress



          

O silêncio é o ventre universal onde é gestada a consciência e sua expressão, a matéria. Como ventre universal o silêncio é, portanto, inominável e indefinível e está além da relação dicotômica na qual encapsulamos nossas experiências de interiorização, de silêncio exterior; resultando desta limitação conceitual do silêncio – como o simples oposto do som – as tentativas frustradas de se viver um silêncio interior. O silêncio interior ou exterior (pois de fato nem interiormente, nem exteriormente há silêncio) não pode jamais ser alcançado. O que experimentamos durante uma meditação, recolhimento ou alinhamento, e que por vezes descrevemos como silêncio não é mesmo o Silêncio, ventre universal. O ventre universal abarca em si, sem jamais se deixar tocar por eles, o silêncio interior e o exterior, sendo que estes de fato não são silêncio, senão sons ouvidos por vias distintas das habituais. Vejamos mais de perto. Quando dizemos que há silêncio exterior, em geral queremos dizer simplesmente que o som produzido pela voz física passou a ser emitido unicamente pela voz mental, visto que a voz realmente e em ultima instância é a mesma, diferindo apenas colorações e velocidade de expressão. Quando a expressão “silêncio exterior” se refere então à ausência de som no ambiente em que estamos, isto ainda, e facilmente se percebe, é relativo, visto que em geral a sensação de silêncio externo é fruto da retirada da atenção dos sons do ambiente, ou a percepção dos sons do ambiente por outras vias. Toda a manifestação é Som. A própria Consciência e seu véu, a Matéria Universal, é Som. O Espaço, que contém em si tanto Consciência e Matéria, este sim, é o verdadeiro Silêncio, e sua marca sempre presente - por ser este Silêncio Absoluto, a um só tempo o conjunto de todos os sons e ausência de todos os sons - se revela na Consciência como som interior e silêncio interior, e na Matéria como som exterior e silêncio exterior; recordando que o silêncio é apenas uma sensação ou impressão, uma vez que a Manifestação é Som e o silêncio que nela cremos experimentar é apenas Som em outro nível. Quando então, há verdadeiro Silêncio? Para responder a esta questão precisamos mergulhar na dinâmica da Manifestação, ela mesma. “O Espaço”, diz H.P.Blavatsky em seu Glossário Teosófico, “sempre foi, é e será; é a Causa eterna de tudo, a Divindade incompreensível, cujas vestimentas invisíveis constituem a mística raiz de toda matéria e do Universo.” Diz ela ainda: “O Espírito é a primeira diferenciação d’Aquele, a causa sem causa do Espírito e da Matéria”. A dinâmica da Manifestação universal – com a Consciência Una e Plena como aspecto imanifesto, e a Matéria universal e indiferenciada como aspecto manifesto – está nestas palavras sintetizada. O que chamamos o Universo, a experiência, a Dança Kósmica tem sua raiz e só é mesmo uma possibilidade, graças a estes dois elementos – que parecem ser dois apenas por conta da mente concreta e racional – que são uma coisa só essencialmente: a Consciência Plena e sua expressão ou palco de atuação, a Matéria. Por Consciência Plena quero dizer o Eu único e inerente a tudo, o Atman dos vedantinos, o Espírito Universal. E Matéria é a substância primordial que por sucessiva diferenciação forma o conjunto de campos de experiência em que os raios daquele Eu Único farão suas experiências. Temos aí, portanto, os três elementos primordiais da Dança ou Música Universal: A Consciência Plena, o Eu Universal, o Pai, portanto; a Matéria, Substância Primordial, a Mãe Universal; e o Filho, que surge da relação misteriosa dos dois elementos anteriores, a Alma, o “Eu Sou”, a Entidade a um só tempo espiritual e material, Centelha e Raio, mas ao mesmo tempo Una e idêntica à Consciência Plena. Estes três são as três Notas Raízes. E deles, que essencialmente são uma Única Nota, surge toda a Sinfonia da Manifestação Universal. No entanto, esta sinfonia tem seu contraponto nas pausas que sustentam e dão a ela inclusive sentido. A pausa é o próprio Espaço, a Causa sem causa. E o verdadeiro Silêncio é vivido quando qualquer um dos três elementos, qualquer uma das três Notas é reabsorvida no Espaço, Absoluto e incognoscível. Já aí não se pode dizer que este Silêncio é vivido, nem experimentado, pois ali se apaga a Consciência, elemento vivificador da experiência e mesmo a Matéria, substância da própria experiência; pode-se no máximo dizer que ali o Silêncio é. Não nos enganemos, todavia, imaginando que o Espaço, este Algo indescritível, esta Divindade “sempre incognoscível” está distante e somente por um alto grau de evolução ou desenvolvimento pode ser atingido. Ao contrário, esta Divindade “é a única coisa eterna que podemos facilmente imaginar, imóvel em sua abstração e não influenciada pela presença nem pela ausência de um universo objetivo” nela, mais uma vez citando as palavras de H.P.Blavatsky em seu Glossário Teosófico. Nós tomamos nossa existência ou expressão neste Espaço, e somos mesmo esta Divindade. Nossa Natureza real e eterna, imutável é esta Divindade. Logo que tanto nossa manifestação imaterial como material – Consciência e Forma – são o véu místico, porque unido à, desta Divindade, que somos nós mesmos. O Silêncio não se pode viver, não se pode experimentar, não se pode encapsular numa curta ou longa prática. O aceitar isto simplesmente é já recobrar a lembrança de nossa verdadeira Natureza e desfazer as amarras do esforço inútil em realizar o que somos. Visto que se já somos o que somos, todo esforço é desnecessário, e a Realidade desta Seidade deve-se apenas deixar que brilhe por si só. - Agnimitra, 04.09.13 Postado por Agnimitra
Posted on: Sat, 07 Sep 2013 08:03:01 +0000

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