OS PORTAIS DE UMA INICIAÇÃO Mani Alvarez* O que é uma - TopicsExpress



          

OS PORTAIS DE UMA INICIAÇÃO Mani Alvarez* O que é uma Iniciação? É um imenso portal que se abre, é uma nova visão de mundo que surge, um insight inesperado que desvela um outro modo de ver a vida, enfim, é a elevação da consciência para uma dimensão mais sutil. Só há um problema: isso só acontece se houver um consentimento interno. A Iniciação é uma linguagem cifrada que só se legitima se a pessoa for pura o suficiente para ler o texto codificado. Só então ela obtém permissão para conhecer e desvendar o que ele diz. Assim foi subir a montanha de Saint Baume e alcançar a gruta onde Maria Madalena passou seus últimos momentos de vida na Terra. Muitas pessoas sobem a montanha, mas poucas chegam lá onde começa a Iniciação. Na antiguidade, nossos ancestrais sabiam que todo corpo material é constituído por elementos que influenciavam o físico e também nossas emoções. E assim como a desarmonia entre esses elementos provocava doenças físicas, também as emoções podiam se tornar confusas e conflituosas. Por isso, realizavam celebrações e rituais onde submetiam as pessoas a um processo de catarse que provocava a purificação e, em seguida, uma elevação da consciência. A purificação interior é o que permitia a Iniciação. Para eles, o mundo era composto por cinco forças arquetípicas: Água, Ar, Terra e Fogo. O quinto elemento era uma força sutil e espiritual, à qual chamaram de Éter. Toda a energia da natureza seria sintonizada com esses princípios de ressonância que eram chamados de “elementos primordiais”. Passamos por uma experiência semelhante durante nossa viagem ao sul da França, em busca dos mistérios de Maria Madalena e Santa Sara. A proposta em si mesma já continha um desejo - para muitas, inconsciente - de passar por uma Iniciação. Mas, como bem o sabiam nossos ancestrais, jamais se alcança um mistério sem uma purificação interior. A Água E o processo todo começou dentro da gruta de Maria Madalena, sob os pingos d´água que caíam sem cessar sobre nossas cabeças. A gruta inteira vertia suas lágrimas sobre nós. O insólito se fez presente na chuva intensa que caiu sobre toda a região na véspera, inesperadamente, encharcando a terra e filtrando a água para dentro da gruta. O chão estava todo molhado, lembrando o útero úmido de nossa primeira morada. A primeira Iniciação estava sendo processada para aqueles que se permitiram compreender o que estava acontecendo. Foi um momento de êxtase e elevação espiritual. Um primeiro portal estava sendo aberto para nós. Maria Madalena, em espírito, sorria. O elemento água simboliza as emoções inconscientes e sua força magnética rege toda a nossa vida emocional. Ele está presente dentro do útero e nos acolhe no início de nossa vida. Representa nossa soltura interna e a capacidade de fluir nas experiências e relacionamentos. É o elemento que processa o dar e o receber amor, mas, quando em excesso, pode levar a uma emoção ‘à flor da pele’, muita sensibilidade e apego às pessoas, a ideias ou coisas. E quando em falta, pode criar dificuldades de se relacionar, falta de flexibilidade e rigidez nos relacionamentos. A imensa compaixão de Maria Madalena providenciou para nós uma primeira Iniciação com o elemento água, para promover a nossa purificação emocional. Descemos a montanha com uma sensação interior de plenitude e paz. O Ar Em seguida, fomos surpreendidas durante um inocente passeio de barco nas proximidades de Marseille. O Mistral chegou repentinamente, e proporcionou experiências intensas e assustadoras no mar, repentinamente irado e com suas ondas agitadas. Mas foi ele o canal que nos guiou para o segundo portal de Iniciação. Ninguém esperava por aquele vento forte, nem os moradores do lugar. Mas o Mistral chegou para nos abrir mais um portal. Bruce Berger diz que o elemento Ar nasce “energeticamente” do centro do coração, e rege nossos desejos na vida, nossas paixões e aversões, ou seja, as batidas do nosso coração, o ritmo de nossa respiração, e expressam a harmonia de nossas emoções porque nos sintoniza com as forças do Cosmos e com a Fonte Divina. É através do elemento Ar que iniciamos o aprendizado da busca do espiritual, porque a cada respiração vivenciamos a vida (inspiração) e a morte (expiração). O medo acelera nossa respiração, porque buscamos avidamente inspirar a vida para dentro de nós. A paz suaviza nossa respiração, porque nos reconciliamos com o inevitável da morte. Por isso, o Ar é o elemento que rege o nosso sistema nervoso, e está profundamente ligado ao plano mental. O seu excesso produz pessoas extremamente mentais, racionais, estressadas, que respiram rápido para não perder o ritmo da vida. Em falta, pode levar a um estado de depressão, opressão, torpor, como quem se entrega antecipadamente ao fim. Em equilíbrio, provoca intenso desejo de aprender, de buscar a sabedoria, que é o conhecimento da razão junto com o coração. O Mistral nos colocou face a face com a morte. Nosso barco podia virar a qualquer momento. Nossa respiração ficou entrecortada pelo medo, a maioria buscou abrigo dentro do barco e, por alguns minutos, o Ar revolto tumultuou as águas da emoção, e o desespero se instalou. Era a segunda Iniciação que vivenciávamos e ela nos colocou diante do desafio da entrega ao desconhecido. O Ar nos convida ao ritmo da respiração cósmica, ao fluxo da natureza, ao embalo da vida ou da morte. Resistir a isso é deixar-se dominar pelo medo, e esse foi o ensinamento desse portal. A morte faz parte da vida, e é o Ar que nos ensina essa Lei cósmica. Esse foi o ensinamento de Maria Madalena para nós: aceitem! A Terra Na manhã seguinte, houve um incidente que nos colocou a todas diante de um novo desafio, desta vez claramente definido pelo elemento Terra. Na hora de sair do hotel, onde foram parar os maleiros? O ônibus na porta, o tempo passando, dezenas de malas espalhadas no hall do hotel, outras ainda nos corredores, e os maleiros sumiram... Então, cada uma teve de assumir a sua própria ‘mala’, que não era uma, e sim, duas ou três... O que significa isso? Significa simplesmente que somos nós que temos de carregar nossas bagagens na vida, tudo o que acumulamos, a matéria densa de nossos desejos, apegos, aquisições. Aqui, o elemento Terra se fez presente no peso de nossa corporeidade, de nossa encarnação na matéria. Isso pesa, e como... Quando temos Terra em excesso, temos também nossa mente fechada, muita rigidez (física e mental), muito apego à rotina e aos bens materiais. Quando em falta, somos dominados pela inércia, preguiça, medo. Nos tornamos desorientados e desorganizados. Falta chão em nossa vida. Tanto num caso quanto no outro, o elemento Terra governa reações de medo, que podem causar tremor nos joelhos, intestinos descontrolados, dores no pescoço. Geralmente são pessoas pouco sensíveis às realidades sutis, à linguagem de seu próprio corpo, e tem muito medo do desconhecido. Ter de carregar nossas próprias “malas” foi um teste para todas nós, porque de repente nos deparamos com a imensidade de coisas inúteis que acumulamos. Pior, algumas tiveram de carregar as “malas” de outras, o que é mais significativo ainda. Esse foi o terceiro ensinamento oferecido a nós pela compaixão de Maria Madalena: atenção com o que acumulam! O Fogo E finalmente, eis que chegamos a Saintes-Maries-de-la-Mer, e no meio da festividade alegre dos ciganos nas praças, suas roupas coloridas e suas músicas, buscamos o silêncio da capela onde estava a imagem de Santa Sara. Foi então que descobrimos como seria difícil chegar até ela, porque havia muita gente, muitas velas, muita ansiedade em entrar na cripta. Finalmente, conseguimos entrar. Era um lugar pequeno, ladeado por centenas de velas acesas, muita fumaça no ar e muita gente comprimida umas nas outras. Impossível andar, era a multidão que dirigia nossos passos. O fogo das velas conferia uma estranha sensação de estar dentro de uma fogueira. Santa Sara, em sua negritude, parecia chamar para o seu mistério. Vamos, atravessem o fogo... para chegar até mim é preciso uma transmutação da matéria em espírito! Novamente, o medo. Como realizar essa transmutação? Como sair da condição de ‘rebanho’ na multidão compacta e voar em espírito até ela? O elemento Fogo é um dos princípios energéticos mais difíceis de controlarmos em nossa vida, porque é a força de impulsão que nos leva a conquistar nossos objetivos. Está ligado ao plano dos desejos. Rege a força que impulsiona nosso corpo e queima para cima, por isso a pessoa regida pelo Fogo é impulsiva -- primeiro age, depois pensa. Costuma ser individualista, rápida, competitiva e guerreira. Quando em excesso, o elemento Fogo leva a um temperamento explosivo, egocêntrico, dominador. Muitas vezes a pessoa desenvolve até uma musculatura rígida e com pouca flexibilidade. Isso pode provocar dores e também acidentes. Mas, quando em falta, pode se deixar controlar facilmente, tornar-se uma pessoa sem opinião própria, com dificuldades em enfrentar seus problemas e tende a guardar ressentimentos. Lembrando que o Fogo expressa propósito, motivação e força de vontade, fica claro o propósito desse ensinamento no contexto de nossa Busca. Santa Sara parece nos conclamar a insistir na busca, pois só quem consegue passar pela Iniciação do Fogo vai ter a estrutura psíquica necessária para contemplar os Mistérios de Maria Madalena e Santa Sara -- que não são outros senão o Sagrado Feminino que buscamos. O Éter Vislumbramos, ao longe ainda, o quinto elemento, o Éter do espírito, o Éter que tudo contém, pois está acima e aquém de todo e qualquer elemento material. E, pelo menos em pensamento, compreendemos que o Sagrado Feminino não é outra coisa senão a presença desse elemento no âmago da matéria, a infinita capacidade que possuímos de gerar a vida, de criar, de dar vida a ideias, sonhos, projetos, que todos nós, seres humanos, possuímos. Em especial, a mulher, que abriga no seu corpo a gruta onde o Sagrado Feminino, a Taça Sagrada da Deusa, habita. *** Mani Álvarez Diretora do Centro Latino Americano de Saúde Integral – CLASI clasi.org.br
Posted on: Fri, 14 Jun 2013 19:50:48 +0000

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