Os Abomináveis Homens de Branco Resposta à coluna de Paulo - TopicsExpress



          

Os Abomináveis Homens de Branco Resposta à coluna de Paulo Sant’ana “A Dança dos Médicos”, publicada na Zero Hora do dia 11 de agosto de 2013. No atual momento da história nacional, em que a medicina vem sofrendo um ataque maciço por parte do governo, de muitos meios de comunicação e de pessoas, em geral, que tem opiniões a respeito do que seja o exercício da medicina, é inevitável que eu me manifeste. O médico é uma figura algumas vezes adorada e outras vezes odiada, todos nós, que exercemos a medicina, estamos acostumados com isto. Mas, felizmente os casos de ódio e rancor são uma minoria, se comparada com uma maioria de pessoas gratas e reconhecidas ao nosso trabalho. Na verdade, só há duas maneiras de saber o valor de um médico: A primeira delas é ser médico e, portanto, saber tudo pelo que é preciso passar, o quanto é preciso estudar, o quanto de esforço é necessário para enfrentar os desafios e agruras de uma formação extremamente exigente, durante a qual se lida com doença, sofrimento e morte em boa parte do tempo, não apenas do paciente, mas de seus familiares e amigos. Só nós sabemos o quanto temos de abrir mão de nossas vidas pessoais para estarmos disponíveis para estudar e nos atualizar constantemente, para trabalhar por quatorze a dezesseis horas por dia, muitas vezes em três ou quatro lugares diferentes, fazendo plantões de doze e vinte e quatro horas, em condições de trabalho nem sempre dignas e adequadas, sem direito a feriados, fins de semana e, não raro, sem férias, isso sem falar do direito de dormir uma noite completa sem ser acordado por um telefonema de um paciente ou de uma mãe, um filho, ou uma esposa desesperados. Por isto, uma das críticas mais dolorosas entre as tantas que temos ouvido, é de que somos "mercenários". Logo nós, que vezes sem conta atendemos pessoas nas mais diversas circunstâncias, até mesmo andando pelas ruas, viajando, pegando uma lotação, andando de elevador, ou até mesmo em horas de lazer, em uma festa, em uma praia ou onde quer que seja que alguém precise de ajuda e se ouça o brado "Um médico pelo amor de Deus!", sem nada exigir em troca a não ser um “muito obrigado doutor” e um tapinha nas costas, que para nós já é pagamento suficiente e é colocado na conta de Hipócrates (sim, a esmagadora maioria dos médicos honra o juramento de Hipócrates, embora haja ovelhas negras como em todas as profissões). A segunda maneira é ainda mais dolorosa, é ficando doente e precisar de um médico. Quem já padeceu de uma enfermidade grave e teve a sua própria vida, ou a de um ente querido, resgatada ou até mesmo salva pela mão de um médico certamente sabe o valor que tem este profissional. Ver nos olhos das pessoas este reconhecimento é a melhor recompensa que obtemos no exercício desta profissão, muito mais do que os pagamentos pecuniários recebidos que, de modo geral, estão muito abaixo do justo e merecido. O programa "+Médicos", ao qual você se refere simpaticamente na sua coluna "A Dança dos Médicos", é uma medida tomada às pressas, sem um diagnóstico e um planejamento de ações mais adequadas e profundas, que visem realmente identificar e solucionar os reais problemas da assistência à saúde no Brasil de modo planejado, responsável e eficaz. Um programa elaborado autoritariamente sem ouvir ninguém, nem mesmo as universidades envolvidas na formação de médicos, mas tirado diretamente da cabeça de um grupo que acredita ter solução para tudo e tem respostas prontas, que dispensam outras opiniões, ou seja, provenientes de mentes (o cacófato é oportuno no caso) de vocação perigosamente totalitária e ditatorial. Além de tratar-se de um projeto demagógico e eleitoreiro, que tem em mira a eleição do atual ministro da saúde ao governo de São Paulo, algo que de tão óbvio é quase inacreditável que tenha obtido o apoio de tanta gente, inclusive de muitas pessoas esclarecidas e com certo grau de cultura, das quais seria de se esperar uma maior capacidade de pensar e questionar a realidade ao invés de engolir sem mastigar as “verdades” absolutas que lhe são apresentadas. A baixa adesão ao programa, à qual você corretamente se refere em sua coluna, por parte dos médicos brasileiros, na verdade, é até surpreendentemente alta, dadas as circunstâncias. Provavelmente isto reflete o estado de desespero em que se encontram muitos médicos no Brasil, que ainda não tiveram uma oportunidade digna de trabalho e se atiram nesta "oferta" como se fosse uma tábua de salvação. A maioria dos médicos não aderiu e não vai aderir a esta aberração por uma questão de dignidade. A proposta que este programa está oferecendo aos médicos é não só indigna como abominável, pois, entre outras coisas, desrespeita a legislação do país em vários pontos, a começar pela regulamentação do exercício da medicina até a legislação trabalhista. Entre outras inadequações, o programa não oferece garantias de continuidade que permita ao médico realizar um projeto de vida para realmente se fixar em uma cidade do interior com sua família ou futura família. Sim! Por mais incrível que pareça médicos são pessoas normais, que têm família, têm filhos que precisam e dependem dele. Embora sua profissão não lhe deixe muito tempo para desfrutar a companhia desta família e se dedicar a ela como gostaria ou mereceria. A “solução” alternativa pré-formulada (e com segundas intenções ocultas) apresentada pelo governo é a vinda de médicos "estrangeiros", especialmente cubanos. A baixa adesão de estrangeiros também mostra o quanto a oferta é inaceitável. Os portugueses, por exemplo, consideraram ofensivo o convite feito pelo governo brasileiro nas condições propostas. Os cubanos, coitadinhos, não têm opção melhor. Primeiro, porque viver na ilha presídio de Fidel é pior do que qualquer outra coisa. Em Cuba um médico recebe U$20,00 por mês e precisa trabalhar de motorista de táxi, ou outra atividade voltada ao turismo, durante a noite e finais de semana para ter direito a uma vida um pouco mais digna. Segundo, porque se não se inscreverem "voluntariamente" para participar das, assim chamadas "missões no estrangeiro", ou "Cooperación Médico-Cubana", podem ser considerados “contra-revolucionários" e sujeitos a penas discricionárias que todos conhecem. Nas missões da Venezuela e da Bolívia, milhares de médicos "desertaram" (ou seja, fugiram), apesar do rígido controle a que são submetidos durante as "missões". Para completar, os médicos em missão não recebem o valor pleno oferecido pelos governos dos países "beneficiados". Na Venezuela, por exemplo, o governo Chávez pagava o equivalente a US$11 mil por médico, dos quais apenas US$240,00 eram pagos ao profissional, mais uma espécie de "bolsa família" de U$46,00 pagos diretamente a suas famílias pelo governo cubano. Sim, entre outras coisas impostas pelo “regulatório” (em anexo o regulamente aplicado na Bolívia, se você quiser se dar o trabalho de conhecer e admirar a preciosidade deste documento: é ver para crer) os médicos não podem trazer suas famílias, assim como não podem ler bibliografia estrangeira ou se relacionar afetivamente com "nativas", nem usar bebida alcoólica que não seja em comemorações nacionais cubanas ou se afastar do local para onde forem escalados sem autorização do “coordenador” (membro do partido). Ou seja, é um trabalho praticamente escravo e indigno de um ser humano, POR ISTO os médicos brasileiros não concordam com a vinda dos colegas cubanos NESTAS CONDIÇÕES, e não por um suposto "corporativismo" ou preocupação com a "concorrência". É porque não podemos concordar que seres humanos sejam tratados desta forma em nosso próprio país, onde, apesar de tudo, os direitos humanos ainda costuma ser valorizados e respeitados. Todo o ano centenas de médicos estrangeiros vem exercer a medicina no Brasil realizando o exame Revalida e são muito bem recebidos. Trabalhamos seguidamente lado a lado com muitos deles em diversos locais de trabalho sem nenhum problema ou preconceito. Aliás, seria uma tremenda injustiça com estes colegas, que se submeteram dignamente às exigências da lei brasileira, dar condições privilegiadas a outros apenas por questões políticas, demagógicas e ideológicas. Além disso, existe a questão da qualificação. Outro aspecto, também importante, de novo não por corporativismo, mas por questões de dignidade, moralidade e legalidade. A revalidação de diploma é uma exigência da legislação brasileira, assim como em qualquer outro país. Se um médico brasileiro quiser trabalhar nos EUA terá de se submeter a uma rigorosa prova de revalidação de diploma, que inclui três etapas. Infelizmente, não por culpa deles, mas devido à baixa qualidade dos cursos de "formação acelerada de médicos" existentes em Cuba com a finalidade de produzir médicos de aluguel para serem enviados a outros países "amigos" e servirem de fonte de divisas para o governo dos irmãos Castro. Outra justificativa apresentada é a de que os médicos brasileiros “não querem ir para o interior”. Não querem nas condições desumanas e indignas que são oferecidas, sem as mínimas condições de trabalho, sem a mínima infra-estrutura e garantia de fixação. Se o governo quisesse realmente resolver este problema bastaria a criação de uma carreira médico de estado com vagas a serem preenchidas por concurso público, como por exemplo acontece com a classe da qual você é aposentado, a dos delegados. Para compreender a situação dos médicos, imagine que um suposto ministro de um Ministério da Segurança (nem sei se existe, mesmo por que são tantos que é impossível saber todos) após uma “profunda análise” da situação da segurança no Brasil chegasse à brilhante conclusão que se deve a “falta de delegados de polícia” e, para dar resposta ao problema, cria o programa “+Delegados”, enviando advogados recém formados ou em final de curso para o interior suprir a falta de Delegados sem as mínimas condições de trabalho: sem arma, sem munição, sem cartório, sem escrivão, sem inspetores, sem técnicos, sem viaturas, sem computadores, sem cadeias ou apenas presídios sucateados indignos da condição humana, e dissesse que a culpa toda é dos Delegados que “não querem” ir para o interior. Outro aspecto, não abertamente revelado, é que um dos objetivos do programa é validar os diplomas de cerca de vinte mil pessoas formadas em faculdades medicina de outros países da América Latina - Argentina, Equador, Bolívia, Venezuela e, principalmente, em Cuba - que não puderam obter registro no CFM porque não conseguem ser aprovados no exame Revalida. Os quais inclusive se organizaram em uma associação médica paralela, a Associação Médica Nacional Maíra Fachini, para lutar pela validação de seus diplomas por via política apelando ao entendimento entre autoridades cubanas e brasileiras para tal aprovação. Também não é abertamente divulgado, que estas pessoas estudaram medicina em Cuba através de bolsas de estudo oferecidas pela ELAM (Escola Latino Americana de Medicina) exclusivamente para militantes do PT e de movimentos sociais ligados ao PT, inclusive o MST, selecionados através dos seguintes critérios "democráticos": - Ter no mínimo 2 (dois) anos de filiação partidária e apresentar carta de recomendação de instância partidária, ou seja, setorial, diretório ou comissão executiva de âmbito municipal, estadual ou nacional. Esclarecemos que não se trata de recomendação de um membro da instância, mas sim recomendação aprovada em reunião da instância partidária. Em resumo, o governo quer colocar a saúde do povo pobre aos cuidados de profissionais de qualificação não comprovada, enquanto os membros do governo buscam tratamento com médicos altamente qualificados no Hospital Sírio Libanês. O remédio que foi usado para curar o câncer de Dilma foi vetado para uso no SUS. Onde está a preocupação com a saúde do povo. Não estou me manifestando por uma causa própria, mas por uma questão de dignidade. Eu não sou afetado diretamente por estas medidas, pois estou quase me aposentando e sou destes médicos da Padre Chagas, aos quais você se refere pejorativamente. Só você não sabe pelo que passaram estes médicos até chegarem à Padre Chagas. Trabalhei no interior, inclusive em zona rural e nas vilas de Porto Alegre, atendi e ainda atendo a população carente, subi morro e chafurdei na lama para chegar onde se encontravam os pacientes que necessitavam de assistência. Ainda hoje, após 35 anos de trabalho ainda preciso trabalhar em outros lugares (sem condições mínimas, diga-se de passagem) além da Padre Chagas para ter uma vida medianamente digna, acredite, todos os meus ganhos somados não superam muito o valor de uma bolsa do “+Médicos”, não é por 20 centavos. Em uma coisa concordamos plenamente: sobre a qualidade da pena do jornalista J.R. Guzzo à qual você se refere na coluna do último domingo, que vai para o rol das que apreciei. Já que o respeita tanto, sugiro a leitura de um artigo dele, publicado na Veja do dia 10/07/2013, sobre os disparatados atos do governo contra a medicina e os médicos, com a citação do texto da Dra. Juliana Mynssen: "O dia em que a Presidenta Dilma em 10 minutos cuspiu no rosto de 370.000 médicos brasileiros". Para facilitar encontrar o texto, o mesmo está reproduzido neste link: slideshare.net/PublicPDF/doutora-juliana Cordialmente, Rubens Mário Mazzini Rodrigues Médico Psiquiatra - CRM 9760
Posted on: Tue, 13 Aug 2013 03:29:11 +0000

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