PRIMAVERA PERIFÉRICA Já tem algum tempo que venho batendo na - TopicsExpress



          

PRIMAVERA PERIFÉRICA Já tem algum tempo que venho batendo na tecla que estamos vivendo, culturalmente falando, a nossa Primavera Periférica. Já estava mais do que na hora dessa gente mais do que bronzeada mostrar o seu valor. E quem tem valor não tem preço. Só quem não anda e não vive pelas quebradas de São Paulo, ou ainda torce o nariz, não sabe do que estou falando. Uma evolução aos gritos ocorre em silêncio e somente atentos ouvidos podem escutar. A periferia de São Paulo vive hoje a mesma efervescência cultural que a classe média viveu nos anos 60/70, considerada o auge da criatividade e engajamento artístico. Um exemplo é o rap, que é pra nós o que a MPB representava para os jovens na ditadura em que o Brasil estava mergulhado. O grafite, as nossas artes plásticas. E por aí vai. Desde quando o hip-hop surgiu, em meados dos anos 80, sacudindo os becos e vielas, dando voz aos excluídos e despertando os adormecidos, as ruas nunca mais foram as mesmas. As ruas, que estavam mortas, foram ressuscitadas e a literatura deu-lhes uma nova alma. Transformando as pessoas também. Ainda falta muito cimento em barraco de madeira e ainda falta muita terra pra combater o cimento no coração dos poderosos, e é disso que nossa arte fala: dessa coisa do branco no preto sem o preto no branco. Captou, capitão? Quem poderia imaginar que, um dia, um sarau de poesia – entre mais de 50 que acontecem em Sampa –, no extremo da periferia paulistana, região que já foi considerada Vietnã, devido à violência extrema, poderia completar dez anos de atividade? Quem poderia imaginar que a Literatura ia invadir bares e transformá-los em centros culturais, e que esses mesmo bares iam virar cineclubes, espaços para teatro, debates, música, dança, lançamento de livros, CDs e demais práticas culturais e artísticas? E o que seria mais importante, que viria do povo, para o povo, sem intervenção ou concessão de ninguém? Pois é, esse dia chegou. Os trabalhadores estão praticando um outro tipo de esporte: a Literatura falada. Aquela que não cabe nos livros, que não aceita enquadro da gramática, e que muitas vezes discorda da concordância. Mas e daí, concorda comigo? A Poesia está na pauta dos despautados, contrariando os despeitados. Acho que a gente fala certo, mas algumas pessoas insistem em escutar errado, só pelo prazer de praticar um outro esporte muito comum nas rodas letradas: a falta de generosidade, de senso e de patriotismo. Não posso entender como ainda tem pessoas que bradam retumbante que querem um país melhor, mas, ao mesmo tempo, não querem que o sol da liberdade brilhe pra todo mundo. Fomos nós, os esquecidos, que não fugimos à luta, e durante muitos anos tememos pela nossa própria vida. Por aqui ninguém vai pedir autorização pra ninguém pra escrever poesia, conto, romance e publicá-los, ou não, em livros que se espalham falecidos pelas paredes. É a boca suja limpando o passado, esfregando o poema na cara dos mesquinhos patriotas. Se a palavra liberta, então somos livres! E se algumas pessoas ainda não sabem, é isso que estamos fazendo: despertando os adormecidos para que todos saibam que não há mais tempo a perder, e a felicidade, ainda que tardia, deve ser conquistada, e que ninguém mais agradeça pelas migalhas do cotidiano. A beleza de nossas palavras que ora trilham nossas veredas brota de uma vida repleta de espinhos, mas que ninguém divide deste perfume chamado poesia, porque é a essência da nossa revolução. Quem nunca passou por nenhum tipo de inverno não pode entender a nossa Primavera, não pode compreender o valor que é a alegria de ver cada flor que nasce, regada com as lágrimas e o suor de um povo que “adora um deus chamado trabalho” nesse solo duro e nada gentil chamado Brasil. Poeta Sérgio Vaz - Cooperifaoficial #AntropofagiaPeriférica #MostraCulturalDaCooperifa
Posted on: Mon, 09 Sep 2013 18:08:07 +0000

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