PROGRAMA DE TRABALHOS PARA A GERAÇÃO NOVA Para a Dame - TopicsExpress



          

PROGRAMA DE TRABALHOS PARA A GERAÇÃO NOVA Para a Dame Sagesse Sabe-se como em 1871 Antero concebeu uma obra, que não chegaria a concluir – e que aliás destruiu - que deveria intitular-se «Programa para os Trabalhos da Geração Nova» (ou da Geração Moderna, como escreveu Teófilo). Essa obra ficou como um dos actos falhados da cultura portuguesa contemporânea. Se à direita houve, na esteira do nacionalismo literário da geração de 90 e do nacionalismo político de integralistas e católicos, algo equivalente a um programa de trabalhos para uma geração que foi nova entre os anos 20 e 30 do século passado, à esquerda nunca se conseguiu forjar nada equivalente, não obstante as pretensões da Seara Nova e do neo-realismo. É essa tarefa que agora cabe à tua geração, suspeito eu, sobretudo àqueles elementos que, ao contrário de tantos outros, não se perderam pelas margens do desânimo e do abstencionismo. E tu serás justamente, entre esses elementos, alguém capaz de imprimir a tal tarefa o equilíbrio de que ela muito necessita, pensando futuros sem descurar a memória do passado, pensando o que é prático sem ignorar a carga de ideal que é preciso conferir-lhe para que tenha efectivo sentido. O que cabe à minha geração não será mais do que prestar-vos todo o auxílio que possa e saiba no desenvolvimento dessa vossa missão. E eu, por mim, reivindico apenas o direito de admirar o que, neste como noutros domínios, fores fazendo. Imagino que esse programa tenha de retomar algumas noções que foram importantes no século XIX e depois, de novo, durante algumas décadas do século XX, mas que entretanto se deixaram submergir pelo tsunami de «cientificidade» que transformou o panorama das ciências humanas – e estou por exemplo a lembrar-me da noção de «alienação», que seria, a meu ver, tão oportuno repensar. Imagino que terá de elaborar-se para além dos quadros mentais do marxismo e do «cientismo», e que terá de fazer um esforço para se situar algures na confluência do Marx e do Nietzsche, do Heidegger e do Steiner, como também do «socialismo» e do «liberalismo». Imagino que não poderá desenvolver-se sem uma grande atenção às ciências exactas, e nomeadamente às questões da geografia, do clima, do ambiente. E por fim imagino que terá de erguer-se como um edifício com dois alicerces, o de um materialismo racional, como diria o Bachelard, construído contra as primeiras evidências do senso comum, e o de um espiritualismo não tolhido pela dogmática de nenhuma igreja. Mas isto é o que eu imagino, e pode ser que fique muito aquém daquilo que vos caberá pensar e fazer.
Posted on: Sun, 28 Jul 2013 12:52:26 +0000

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