"Papa" da cirurgia do recto vem chefiar unidade do cancro Por Ana Gerschenfeld Fundação Champalimaud quer desenvolver formas de reduzir carácter invasivo e mutilante dos tratamentos do cancro intestinal O médico britânico Bill Heald, "pai" de uma técnica cirúrgica hoje considerada como o tratamento-padrão do cancro rectal, vai dirigir a equipa da Fundação Champalimaud, em Lisboa, que se irá dedicar à área dos cancros colo-rectais, anunciou ontem em conferência de imprensa Leonor Beleza, presidente da fundação. Heald é um dos responsáveis da Pelican Cancer Foundation, associação britânica sem fins lucrativos que promove o desenvolvimento de novas terapias contra diversos cancros. Há uns 20 anos, lançou a técnica dita de "excisão total do meso-recto" ou ETM. Esta consiste em remover, para além do tumor do recto propriamente dito, todo o tecido envolvente (o meso-recto), onde há gânglios linfáticos que podem conter metástases e dar origem a um novo tumor. Graças a esta técnica, a taxa de recidiva destes cancros no local inicial caiu de mais de 30% para 9% e a taxa de sobrevivência de cinco anos dos doentes quase duplicou. As complicações genitais e urinárias associadas à cirurgia deste cancro também diminuíram, bem como o número de doentes a serem submetidos a colostomias definitivas, que os deixam para sempre incapacitados de defecar pela via natural. A ETM costuma ser combinada com radioterapia "para destruir os bocadinhos que o cirurgião não consegue atingir", explicou Heald, que esteve ontem presente em Lisboa. Ora, os meios e equipamentos disponíveis na fundação, que permitem aplicar radioterapia numa única dose e com grande precisão (guiadas por imagens de ressonância magnética), podem conduzir a melhorias substanciais dos tratamentos actuais. "Como cirurgião do cancro, passei a vida a tentar melhorar o tratamento cirúrgico do cancro colo-rectal", disse o médico, "e não sei se existe algum sítio mais inspirador do que a Fundação Champalimaud, onde cientistas e clínicos trabalham juntos, almoçam juntos..." Heald já constituiu a sua equipa, que integra, para além dele, dois cirurgiões e dois radioterapeutas. E espera conseguir desenvolver, com estes colegas portugueses, novos protocolos com radioterapia que permitam reduzir ainda mais o carácter mutilante e invasivo da cirurgia colo-rectal. Um "maravilhoso sonho" que qualifica de "extremamente entusiasmante". No futuro, também tenciona criar uma unidade de ensino para formar outros médicos. Os primeiros doentes poderão começar a ser tratados em breve, sendo as cirurgias realizadas no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, com o qual a fundação tem um acordo. Questionada pelos jornalistas sobre a situação no que respeita ao acesso aos serviços da fundação de doentes do Sistema Nacional de Saúde, Leonor Beleza respondeu não ter havido "nenhum desenvolvimento em relação aos hospitais do Estado. Existe um acordo, mas, para além de casos pontuais, ainda não se traduziu num trabalho conjunto", salientou.
Posted on: Sat, 13 Jul 2013 18:07:23 +0000
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