Para Você: Exitei durante dias se deveria escrever em resposta - TopicsExpress



          

Para Você: Exitei durante dias se deveria escrever em resposta à suas cartas. Me lembro de uma vez em que você se perguntou porque eu estava com uma de suas antigas cartas na minha bolsa e eu disse que andava com elas para me fazerem companhia, para não me sentir sozinha. Lembra? Virei a noite me perguntando se conseguiria colocar em sentenças o que eu sentia, não por não saber utilizar as palavras, as palavras certas ou erradas, as expressões familiares, as piadas internas, a intimidade do você. Eu tive medo de como me sinto ultimamente, do nada que estamos sendo ultimamente, da distância e dos mal entendidos. O que me entristece, pois já passei da fase da mágoa em relação ao nós aqui, se a gente ainda existir no plural, é que ambos parecemos não nos importar em sermos só a gente, um sem o outro. Deixamos de ser nós, e somos só, sós, sozinhos, um por cada um e nenhum dos dois pelo outro. Não que eu possa cobrar nada de ninguém ultimamente. Não tem sido bom do meu lado da estrada, por assim dizer. Não adianta mais que você ou qualquer outro me espere do outro lado, eu destruí as pontes entre o que restava de mim e do mundo. Não existe convivência pacífica entre o interno e o externo ultimamente. Não vinha conseguindo conviver comigo, com Isabel, com ninguém. Acredito que cheguei a um nível de depressão tão grande, que me fiz externa a tudo e a todos. O que não posso perdoar é o fato de que quase perdi tudo o que tinha com minha irmã, e saiba que sem ela não existe vida, ou alegria, ou lágrimas, ou brisa, ou música ou o meu eu. Eu parei de existir, por tanto sentir, por tanto ressentir, por tanto gostar, por tanto que eu fiquei com nada. Principalmente pela mania de não falar o que sinto, antes que se tranforme em um nunca mais. O que foi injusto de sua parte para comigo, e dói mais do que tudo admitir que me sinta assim, foi o descaso. A falta de valor, a simples substituição. Sei mais do que ninguém como é repelir proximidade depois de ter deixado alguém adentrar a menor parte que seja de mim, da minha vida. Eu faço isso como um movimento reflexo. Gostaria de não ser assim. Enquanto me abro eu já sei que será difícil fazer aquilo tudo novamente. Mas parecia valer a pena conosco, apesar dos pesares e apesar de nós mesmos nos sabotando a todo momento. Porque éramos e somos tão inadequados que parecíamos funcionar por completo. Tenho me acostumado com a rejeição ao longo dos anos, e por tal, quando eu vi Isabel sendo sempre a mesma, me amando como sempre me amou, continuando a fazer as mesmas coisas por mim, mesmo quando eu me sentia a última pessoa do mundo, isso criou uma espécie de culpa envolta em impaciência para com ela. Por que eu parei de acreditar que se amasse tanto alguém assim, que alguém poderia ter uma parte tão preservada assim, que eu nunca mudaria apesar de tudo que eu vinha fazendo ou deixado de fazer em nossa fraternidade antiga de desde sempre. Que o amor fosse algo tão incondicional mesmo diante da pequenez da gente. Das minhas imperfeições, da falta de demonstrações. E mesmo vendo meu lado mais sombrio, ela continua aqui. Diante de tudo, a revolta diante de tamanho altruísmo, diante de todos, menos de mim mesma. Eu não me sentia boa para ninguém, suficiente para ninguém, interessante para ninguém, cansada, eu acho. Como se já tivesse oferecido tudo o que eu tinha e tivesse ficado vazia, no vácuo. De todas as nossas discussões, gritarias ou lamentos, de dias mal falados, de frases ditas sem se pensar duas vezes, fica a necessidade que tenho da minha irmã e ela de mim. Quando ela me disse que me amava não pelo esforço, mas pelo nada que eu fazia e que já em sí era suficiente para se amar qualquer que seja, eu me achei suficiente novamente, e não inteira mas de pé. De pé diante dela. Então, quando escolhemos que nada vale a pena, que ninguém vale a pena o esforço de se estar junto, talvez seja pela mania de não nos acharmos suficientes para estar com ninguém. Me diga se pode ser isso, pelo menos uma parte ínfima da pessoa que você se deixa mostrar ao mundo. Pois vejo você se partir em vários, em vários lugares, com várias pessoas, menos comigo. E vem aquela velha sensação de culpa que relegamos à intimidade dos corpos e das essências. Precisamos das futilidades das relações para nos mantermos, para seguirmos pelas mudanças. Mas nos reduzimos a isso? Não me assusto com nossas mudanças, por não nos reconhecermos mais. Mas o que me tira o sono quando coloco a cabeça no travesseiro é pensar em um dia que não sentirei mais falta de você, estando acostumada a você não estar lá por mim e nem a precisar de mim. Precisamos precisar das pessoas mesmo que isso nos faça sentir vulneráveis e humanos por conseguinte. Vulnerabilidade, fragilidade, capacidade de se recompor mesmo achando que nunca mais será como antes. Porque já perdemos nossa certeza lembra? Porque viver de auto-preservação a esse ponto? Por que temer sempre dizer como se sente? Por que precisamos sentir tudo ao mesmo tempo só para não sentirmos nada no fundo? Intimidade nem sempre pode nos salvar de quão mal estamos nos sentindo, mas uma vez perdida, deixada ao acaso, deixada se sentir culpada por termos nos mostrado, partidos, velhos, crianças tateando uma solução. Deixamos a intimidade e ela a nós. E as pessoas também se vão. Aliás elas não irão mais estar. E diante de tudo, a questão que mais me entristece é me perguntar se tudo que vivemos juntos terá valido a pena diante da covardia em nos expormos e de sermos suficientes para um pequeno público privado, íntimo, parcial, entre quatro paredes, sem sala, sem porta da rua. E eu me pergunto se você ainda sente que exista lados nessa estrada não para esperamos um ao outro, mas para nos encontrarmos ao mesmo tempo. Eu me pergunto, esperando que você se pergunte também, pois ambos não precisamos perguntar um ao outro isso, mas sim a nós mesmos. Bem, eu me pergunto. Cecília.
Posted on: Sun, 18 Aug 2013 03:36:06 +0000

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