Parem tudo que estiverem fazendo e assistam essa raridade que acabou de ser postada no Youtube. Uma das experiências visuais mais geniais que já tive. Samuel Beckett, o dramaturgo do chamado "Teatro do absurdo", em parceria com o ator Buster Keaton criam um curta-metragem alegórico sobre o próprio Keaton - que viria a falecer um ano depois da realização desse filme - e a decadência em que se encontrava após o fim do cinema mudo. Por isso, nada mais genial do que fazer um filme completamente mudo e preto e branco, que remete ao passado, mas ao mesmo tempo ao presente, tornando-se atemporal. A decadência de Keaton é vista na casa onde vive, decrépita e com paredes esburacadas. Óbvio, há piadas pantomímicas típicas do cinema mudo, como Keaton tentando colocar um gato e um cachorro para fora de casa. Entretanto, é um filme extremamente melancólico e amargo. Keaton é construído como um homem que abdicou de mostrar sua imagem em público e de ver sua imagem no espelho, demonstrando o esquecimento pelo qual passava no final de sua vida. É como se ele não quisesse ver seu rosto, agora idoso e tomado pelas rugas típicas da velhice. Ao final, ele rasga fotografias do passado, como se não mais quisesse se lembrar desse tempo, e entre essas fotos, há algumas imagens de Chaplin, "rival" histórico de Keaton - na verdade os dois eram amigos e protagonizaram uma das cenas mais tocantes do filme autobiográfico de Chaplin, "Luzes da ribalta" (1952). Ao final, uma surpresa: Keaton se encontra consigo mesmo e se assusta com sua imagem atual, como se o esquecimento fosse algo do qual não poderia escapar. E nada mais genial do que o ato metonímico por parte de Beckett e Keaton em intitularem esse curta-metragem de "Film", ou seja, uma súmula da vida de boa parte dos artistas do cinema mudo esquecidos e inadaptados com a chegada do sonoro. Resumindo: belíssimo, tocante e revelador filme. Portanto, assistam...
Posted on: Sun, 11 Aug 2013 13:52:24 +0000