Parte 03 de Escrito nas Estrelas: Já é dia claro quando a moça - TopicsExpress



          

Parte 03 de Escrito nas Estrelas: Já é dia claro quando a moça acorda. Está num quarto espaçoso, em uma cama grande e muito confortável. A decoração é simples, como se faltasse o toque feminino: um armário grande, uma cômoda em outra parede e uma televisão enorme fixa na parede, de frente para a cama. Tenta saber o que aconteceu e lembra-se do assalto e de ser salva por alguém. Nota que está na cama com as mesmas roupas do dia anterior e vira o rosto para o outro lado, vendo Henrique adormecido em um sofá, bem debaixo de uma janela espaçosa e coberta apenas pela cortina transparente. Ela ergue o corpo e o jovem acorda, sorrindo-lhe. – Como se sente, Sabrina? – Bem. Afinal o que houve, você estava me seguindo? – Não, não sou de fazer isso. – Sorri tão sereno que a desarma na mesma hora. – Acontece que você foi atacada exatamente à frente do meu prédio. Como vi que não era grave, trouxe-a para cima, limpei seu ferimento e deixei que dormisse. Apenas isso. – Obrigada por me ajudar. – Sorri, agradecida. Com um suspiro, continua. – O chato é ter que cancelar cartões, bloquear telefone... – Calma. Recuperei a sua bolsa, que está na sala. Mas agora, Sabrina, você realmente me deve um jantar. – Henrique... – Pode ser quando quiser. Não a quero forçar. Venha, vou fazer um café da manhã para nós. – Aponta uma porta e afirma. – Ali é o sanitário, fique à vontade. Enquanto a moça se lava, Henrique vai preparando uma refeição. O seu apartamento é pequeno, de dois quartos, uma sala espaçosa e cozinha ao estilo americano. Ela observa o jovem ligar a máquina de café e levar pão e mais outras coisas para o balcão que separa a cozinha da sala. Muda o olhar de lado e observa melhor a sala. Os sofás são de estilo moderno e aparentemente muito confortáveis. De frente, uma estante grande, que ocupa toda a parede, tem um equipamento completo de som e vídeo bem como inúmeros livros. Aproxima-se e olha os títulos, pois gosta muito de ler. Divertida, comenta: – Vejo que tem toda a coleção do John Mathew. Pelo jeito, deve ser fã dele. – Gosto desses livros, muito mesmo, e gosto do estilo dele escrever, desenvolto e sem excessos de descrições que acabam cansando a leitura. Você gosta? – Tá brincando, eu amo esse cara! – Sorri. – É um verdadeiro gênio e escreve como poucos. Eu só acho incrível que ele, sendo estrangeiro, consiga ambientar uma história completa aqui no Rio com tamanha perfeição. Como Vidas Cruzadas, por exemplo. Dá até para pensar que ele é brasileiro e usa um pseudônimo. – Gosto muito de Vidas Cruzadas e acho a sua melhor obra. Sabrina suspira e afirma: – Sempre desejei muito conhecê-lo, mas jamais aceitou qualquer convite que foi enviado para a editora e ela faz o maior segredo a seu respeito. Sabe, ele me transmite algo que nem sei explicar. – Assim, fico com ciumes. – Ora, Henrique, não diga bobagem. – A moça ri. – Venha, vamos comer algo. – Olha seu rosto e sorri de forma gentil. – Ainda bem que a pancada não deixou escoriações maiores, senão ia ter problemas nas gravações. Sentados lado a lado, tomam café. Quando terminam, ele retira os utensílios e Sabrina faz menção de ajudar. – Não se incomode com isso... – Ora, Henrique, eu também vivo sozinha e sei me virar. – Sempre pensei que tivesse uma dúzia de empregados e seguranças! – Dinheiro para isso até tenho e de sobra. Mas meu apartamento é o único lugar onde possuo privacidade. Chega a haver dias em que nem saio de casa a não ser para ir às gravações. – Assim você fica muito solitária, Sabrina. – A solidão é boa quando é uma escolha, Henrique, e eu gosto dela especialmente depois de ser sempre bombardeada pela mídia. Bem, obrigada por tudo, mas preciso ir. Henrique aproxima-se. Está vestindo uma camiseta justa com um jeans e a moça não para de apreciar seu corpo, atlético e forte. – Sabrina, falei sério sobre o jantar e acho que você vai descobrir que eu sou um cara bem legal. – Vou pensar, ok? Ela também chega mais perto para um beijo de despedida. Henrique, porém, movido por uma paixão irrefletida toma-a nos braços e beija-a com ardor. Ela cede no mesmo ato e ambos ficam algum tempo agarrados e beijando-se loucamente, até que a porta da rua se abre e Augusto entra, dando de cara com o amigo atracado na atriz mais bela da cidade. – CARACA! – Exclama, muito espantado, pois esperava tudo menos encontrar o amigo com aquela mulher, ainda por cima no seu apartamento. – Não acredito nos meus olhos... Assustada, Sabrina afasta-se e pega na bolsa. – Tenho que ir, adeus. – Afirma, saindo logo em seguida. Quando a garota sai, Henrique diz, chateado e triste: – Cara, você acabou de detonar com a chance perfeita. – Desculpe, mas ontem você disse para entrar direto, então não bati. Afinal pra quê que me deu a sua chave? – Tudo bem, Augusto, não foi sua culpa. – Arremata. – Meu Deus, cara, cada vez tô mais apaixonado. – Irmãozinho, acredita em mim: assim tu vai quebrar os dentes. Ela dormiu aqui? – Sim, mas não é o que pensa. – Explica, contando o incidente. – Que sorte que ela teve. O que fez ao assaltante? – Deve estar no hospital. Caguei ele a pau. Foi pra valer e não medi a força. No mínimo uma dúzia de costelas quebradas. Que se dane; bandido tem mais é que morrer. – Calminha aí pra também não virar bandido. – Afirma Augusto, apaziguador. – Bem, tínhamos combinado treinar um pouco, vamos? – Vamos. Só me deixe pegar o quimono. – Dá uma risada alegre para o amigo e continua. – Ei cara, você ainda não cansou de apanhar, não? – É o que vamos ver. Acho que hoje eu venço. – Isso eu também quero ver. Você sempre cai, maninho! ― ☼ ― Henrique não para de pensar na Sabrina, ansiando pelo dia que a verá novamente e isso ocorre na terça-feira, quando ela vai buscar o computador. Na loja só está ele e mais duas vendedoras, que ficam espantadas ao verem a atriz famosa. Ele sorri e faz sinal às funcionárias que vai tratar pessoalmente da moça. – Olá, Sabrina. – Cumprimenta, eloquente. – Veio ver seu micro ou a mim? – Oi, Henrique – ela estende um tabloide onde ambos aparecem abraçados no bar – entende agora o que digo? Ele olha a foto, lendo a reportagem sensacionalista e absurda. Sorri e encolhe os ombros. – Ora, meu anjo, ignore-os, apenas isso. Todos sabem que esse jornal não vale nada – ergue a voz para uma das funcionárias, pedindo-lhe – Carla, mande ver se o note da dona Sabrina Morais já está pronto. Quer um café, Sabrina? – Não, desculpe mas tenho pressa. Aqui está o seu computador. Muito obrigada, pois você me salvou de um bom aperto... dois, na verdade. – E o jantar? – Ele pega o micro e tira o HD. – Sabe, este micro é muito especial, você nem imagina o quanto. Talvez um dia eu lhe conte. – Parece exatamente igual ao meu, mas um pouco mais rápido. Não vi nada de especial. – Comenta e sorri, continuando. – Já vi que não me deixará em paz com esse jantar. Tá bom, na quinta-feira, pois é o único dia que eu tenho disponível esta semana. – Tá certo, na quinta. Você escolhe o dia e eu o lugar. Garanto que terá privacidade total e ficará bem contente. Tome o meu número. A moça pega seu micro, e Henrique oferece-lhe um pen drive, para ela salvar os dados, mas não aceita o pagamento por mais que ela insista. Quando Sabrina sai, não tira o olhar da porta por um bom tempo, até que uma das vendedoras fala: – Sabe, chefe, olhando de perto, ela não parece assim tão especial, mas é bonita como poucas. – Ela é a coisa mais especial do mundo, Marta, a mais especial do mundo. – Diz com um suspiro profundo. – Xi, o senhor tá mesmo apaixonado hein? – Por ela? – Henrique dá uma risada. – Sempre estive. Nunca perco um capítulo das novelas dela, nem os filmes. – Sei não, chefe, essa gente é intransponível. – A moça põe os olhos no jornal, que ficou esquecido, e vê a foto. – Caraca, vocês estão namorando! – Não, não estamos. Essa reportagem é mentirosa. Eu saía do banheiro, nesse bar, e colidimos acidentalmente. Estava segurando Sabrina assim porque ela ia caindo. – Pega o jornaleco e joga no lixo. – Logo, peço que não comente nada. Infelizmente, acho que o único apaixonado aqui sou eu. – Olhando essa foto, todo mundo vai pensar que ela e o senhor, bem... entende, né? – Sim, entendo, mas isso não é verdade, infelizmente para mim. – Eu acho que ela gostou do senhor, viu? – Por quê? – Porque olhou diferente, chefe. Se fosse o senhor, investia nela... ― ☼ ― A quinta-feira chega rápido, exceto para Henrique que conta as horas, minutos e até segundos. Quando o telefone toca, ele chega a saltar da cadeira e a voz da sua musa entra doce no seu ouvido. – “Oi, Henrique, conforme combinado estou ligando. A que horas nos encontramos?” – Oi, Sabrina, dezenove horas, pode ser? – Pergunta. – Pego você na sua casa. – “Não acha cedo demais?” – Não. Confie em mim que precisa ser cedo. – “Está bem. Anote meu endereço...” Sabrina desliga e sorri. Ela está bem fisgada pelo jovem engenheiro, mas tem muito medo de se envolver tão rápido. Por outro lado, deseja vê-lo de novo pois não consegue parar de pensar nele. Na hora marcada, o jovem toca no interfone, a atriz desce e os olhos do Henrique ficam arregalados perante tanta beleza. Ela traja um vestido verde, simples, e uma maquilhagem básica; mas, para ele, não poderia estar melhor nem mais bela. Derretido, abre a porta do carro enquanto diz: – Você está linda, Sabrina, linda demais! Ela olha-o e sorri, avaliando-o, pois ele também está belo aos seus olhos, usando um conjunto esportivo muito bem escolhido. Rodam por dez minutos e o jovem estaciona em uma rua tranquila, ainda no Leblon. Sabrina estranha o local, fora da região de comércio e lazer. Curiosa, pergunta: – Onde estamos, Henrique, pois aqui não há restaurantes? – Calma, terá um jantar que desconhece há muito tempo, pode crer em mim. – Sai do carro e abre a porta para a moça. Sem cerimônia, pega na sua cintura e caminha abraçado a ela, que acaba correspondendo, para seu deleite. – Temos de andar uns dez minutos porque lá nunca consigo estacionar. – O que você tem na mão? – Pergunta, vendo uma sacola enorme. – Um presente. Ele caminha simplesmente deliciado, sentindo o corpo da moça colado ao seu. Após uns minutos, pega uma chave e abre a porta de um prédio, convidando a atriz a entrar. Sobem para o décimo andar, a cobertura, e Henrique toca à campainha. Augusto abre a porta, ficando de olhos arregalados e queixo caído. – Oi, maninho, trouxe companhia para o jantar. Tem lugar? Antes que possa falar algo, Augusto é empurrado para o lado por uma linda menina de quatro anos, que se atira ao colo do tio e beija-o cheia de felicidade. – Tio Rique, tio Rique, que bom que veio! – Feliz aniversário, amor – diz, estendendo o embrulho – tome seu presente. Esta é Sabrina, minha amiga. – Oi, tia Sabrina, entra. – Pega a mão da Sabrina, puxando-a para dentro. – Mamãe vai adorar ver você. É você aquela moça da TV, né? Mamãe diz que você é a melhor do mundo! Mamãe, mamãe, tio Rique tá aqui e trouxe a moça da TV. – Filha, não precisa gritar. – Uma mulher dos seus vinte e quatro anos, muito bonita, aparece no hall de entrada e arregala os olhos. – Você!? E eu que achei que Augusto tava de sacanagem! Recompõe-se e diz: – Desculpe. Entre e seja bem-vinda à nossa casa. – Beija Henrique. – Que feio, mano, passou quinze dias sem dar notícias. Podia ter ligado e aproveitado pra dar um oi prós pais. Devia tentar convencê-los a saírem de Porto Alegre e viverem aqui conosco. Me preocupo demais com eles, tchê. Já estão sentados na sala com a menina abrindo o presente, deliciada. Sabrina conversa com Augusto, enquanto a irmã dá uma bronca no Henrique que ri: – Eu liguei ontem, Nádia, e bem sabe que eles não virão para cá. Você passa lá quinze dias e já começa o sotaque gaúcho! – Até parece que contigo não é a mesma coisa. Bem, vamos esperar Letícia chegar para servirmos o jantar. – Ela não está na França com o marido? – Voltaram segunda. Assim a turma da antiga fica reunida novamente. Sabrina sente um aperto no coração ao ver aquela reunião familiar, ser tratada como uma pessoa totalmente comum, apesar do choque inicial do seu aparecimento. São todos corteses, gentis, e conversam alegremente, fazendo com que ela se esqueça por algumas horas de quem é, tornando-se mais uma anônima como eles. Como Henrique havia dito, ela teria algo que não conhecia há anos. Quando o último casal chega, jantam muito bem e, na sobremesa, trazem o bolo de aniversário da menina. Enquanto tomam licores, Sabrina olha os livros na estante. Nádia, irmã de Henrique, aproxima-se dela, entabulando uma conversa. – Vejo que gostas de ler. – Sim, muito, e noto que não é só Henrique que gosta do John Mathew. Vocês também têm todas as suas obras. – Gostamos demais, sim. – Nadá sorri. – Você não gosta dele? – Tá brincando!? Eu o amo e também tenho todos os seus livros. Queria muito conhecê-lo, mas a editora não diz nada. É como se ele fosse um fantasma! – Bem, um dia terá de aparecer. – Nádia dá uma risada e continua. – Provavelmente ele faz isso para poder permanecer no anonimato e não ser incomodado pela mídia. – É verdade, eu que o diga. A mídia inferniza minha vida toda hora. – Sabrina sorri e vira-se para o acompanhante. – Está ficando tarde e preciso ir pois estou cansada e o dia foi cheio de gravações. Não se importa, Henrique? – Vamos sim. Tchau, mana. – Despedem-se dos demais. – Augusto, Karatê no sábado, ou cansou de apanhar? – Combinado, mas desta vez eu venço. – O cunhado ri. – Afinal, um dia será a minha vez. No elevador, pega a mão da Sabrina, que consente, mas esta aparenta um ar demasiado cansado e apreensivo. Enquanto caminham pela rua, ela é a primeira a falar, dizendo: – Sua família é muito bacana e você tinha razão. Há muito que não tinha um jantar assim tão agradável, exceto sozinha. A sua sobrinha é linda demais, Henrique, um verdadeiro doce de criança. – Viu? Sem mídia nem fofocas. – O jovem sorri para ela e continua, olhando nos seus olhos. – Como eu disse, você iria descobrir que eu posso ser um cara bem legal. Andam mais um pouco até que Henrique diz, abrindo a porta do veículo. – Aqui estamos. – No carro ela vira-se para o amigo e abraça-o, pondo uma das mãos no seu pescoço e encostando a cabeça no seu ombro, começando a chorar. Acariciando seus cabelos, Henrique pergunta-lhe. – O que foi, meu coração? Não chore! – Eu só queria ter uma vida assim, sabe? – Diz, ainda pranteando um pouco. – Poder viver realmente a minha vida, sem que inventem falsos escândalos a meu respeito... – Então mude para outro ramo. Onde se encontra, você não tem grande escolha. – Puxa seu rosto e beija-a nos lábios. Ela corresponde com intensidade. – Você me enfeitiçou, Sabrina. – Acho que você também. – Afirma, beijando o jovem, cheia de ardor e paixão. – Quer ir para o meu apê? – Sim, Henrique, quero ficar com você e ser apenas uma simples mulher; alguém normal, apenas eu, a Sabrina e não a atriz. ― ☼ ―
Posted on: Sat, 27 Jul 2013 23:31:44 +0000

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