Parte dois da série Histórias recuperadas de um tempo perdido, - TopicsExpress



          

Parte dois da série Histórias recuperadas de um tempo perdido, de autoria do Bel. Ouviram do Ipiranga numa vil calçada... No Grito da Independência, D. Pedro nem imaginava que um dia às margens do Ipiranga uma donzela humilde e bela ali mesmo seria humilhada, bem próxima do Museu Paulista, que no futuro distante naquele lugar seria instalado. No entorno do Monumento, as tecelagens por lá abundavam no Ipiranga de fábricas vivas naquela São Paulo no seu Quadricentenário - na celebração dessa data dos céus caiam saquinhos de café com um triângulo metálico grudado, com as cores da bandeira paulista em pequenos paraquedas agitados. As crianças felizes do bairro, afoitas com braços estirados disputavam frenéticas o presente inusitado. Mas a história que aqui se conta, fidedigna por seus personagens testemunhada, é a da filha de italianos que da tecelagem voltava todos os dias do seu almoço e pelos fundos das fábricas passava; na mesma calçada que da sesta em dia ensolarado, os operários se espraiavam. Entre eles um energúmeno que diariamente lhe dirigia palavras impróprias para uma donzela, acompanhadas de gestos obscenos. Humilhada e constrangida a mocinha nada falava, cabisbaixa em silenciosos soluços para sua casa voltava. E todas as vezes que por necessidade cotidiana por ali passava, a cena se repetia visto que não havia desvio para a sua caminhada. Euclydes seu namorado desses fatos nada sabia até que notando uma lágrima no rosto daquela mocinha insistiu que contasse a sua oculta ladainha. Não tardou em tomar uma rígida atitude ao ver revelada a infame sina da sua sensível querida. Na academia de boxe que assiduamente frequentava, Euclydes encontrou enérgica acolhida ao revelar o imbróglio aos seus pares – uma turma da pesada. A trupe agitada no Ipiranga foi reunida antes da hora do almoço e da cena diária que ali se repetiria. Ao passar a donzela, o desbocado energúmeno ignorando a patota na esquina saltou confiado na direção da menina; mas antes que a verborreia soltasse seus dentes pularam igual pipoca estourada pelo murro do pugilista que de tocaia aguardava. Semelhante a um cão no sio vendo seus colegas de trabalho acuados, correu com eles para dentro e o portão foi rapidamente fechado. Justiça feita à donzela, agora quando ela passava já bem próxima daquela famigerada calçada, os cabras medonhos se recolhiam na fábrica e as portas logo eram fechadas. Às margens do Ipiranga, onde foi ouvido um grito de liberdade, essa história ainda é contada. NG Curitiba, 07 de novembro de 2013.
Posted on: Thu, 07 Nov 2013 13:56:49 +0000

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