Pessoal, fiz a continuação/finalização da crônica que postei - TopicsExpress



          

Pessoal, fiz a continuação/finalização da crônica que postei terça-feira passada. Espero que leiam e gostem! =D Sozinho - Parte 2 Hoje ele acordou, vestiu-se e sentou-se na poltrona azul. É estranho vê-lo aqui até agora, porque o horário de ir para o trabalho já passou. Ele vestiu a roupa, colocou a gravata, fez tudo como sempre faz, mas não saiu de casa. Eu não sei o que aconteceu. Só sei que ele parece triste, muito triste. Agora ele faz um movimento de meia-lua na poltrona, usando os pés para girá-la no próprio eixo. Somente as pernas e os olhos parecem ter vida no corpo dele. A respiração acontece num ritmo muito suave, o que me causa certa apreensão. Hoje ele escolheu a gravata preferida, de listras cinza e lilás, que de tão apertada, parece querer enforcá-lo. A poltrona engole o corpo dele. E ele não reluta... Esperem, esperem, ele está mexendo a boca, parece que está dizendo algo. Eu não consigo ouvir, acho que vou chegar mais perto. Ele está batendo os dedos da mão direita na lateral da poltrona, parece querer sintonizar o movimento com a fala. Acho que ele está cantando... Sou minúsculo nesse mundo tão grandioso... A canção está meio sem ritmo. As palavras saem quase como suspiros. ...que destrói planos num estalar de dedos... Ele está chorando. Posso ver as lágrimas descerem pelo rosto dele. Eu não sei porque ele chora, eu não entendo. Não gosto de vê-lo assim. ...e nos derrubam como muros antigos... Ele jogou a cabeça para trás e agora olha para o teto. Já não consigo mais ouvir a música, só vejo a boca se mexendo. Quero perguntar o que ele tem. Eu não sou ninguém. Li a frase dos lábios dele e não vou conseguir ficar calado. Você é muito importante, não se esqueça disso! Silêncio. Vou repetir ainda mais alto. Você é alguém muito importante, não se esqueça disso! Não se esqueça! Obrigado. Faz um bom tempo que ele não me agradece por algo. Faz um bom tempo que ele sequer conversa comigo... Obrigado. O que você tem? O que te deixou assim? Você nunca iria entender... Nunca... Mas obrigado por se preocupar. Meu dever é cuidar de você. Cuidar para que coisas boas aconteçam na sua vida. Então você anda fazendo isso muito mal. Ele abriu um sorriso. Insinuou uma pequena gargalhada. Mas a culpa não é sua. Nunca foi. Eu não consigo entender aonde você quer chegar. Quero chegar aonde ninguém nunca chegou. Ele começou a arranhar a poltrona com as unhas. A camurça ganhou ranhuras tom de azul claro, produzidas pelo atrito no estofado. Seus dedos pararam e ele se levantou. Está de pé e caminhando para a cozinha. Vou fazer um café. Ele só toma café quando está com muito sono. Mas a cara dele não é de sono. E qual é este local onde ninguém nunca chegou?Aonde você pensa ir? Eu não sei... Só quero ir para algum lugar... Um local aonde eu seja mais feliz. Eu entendo e te apoio. Só que também estarei lá, seja aonde for. Pode ser, você nunca foi má companhia. Obrigado. A água para o café já está fervendo. Ele já havia preparado o coador de papel e colocou-o no suporte para a garrafa térmica. Tinha muito café para pouca água, parece que ele quer uma bebida forte. Um dia, depois que eu morrer, quero que as pessoas se lembrem de mim, entende? Fazer diferença nisso tudo. Fazer algo além no mundo. Você faz diferença para mim. Você não vale! Você faz parte de mim! Ele sorriu mais uma vez. Não foi isso que me disse há alguns dias atrás. Minha resposta foi irônica. Pare com isso, vai. Parece até a minha consciência. Mas eu sou a sua consciência. Nunca considerei você como a minha consciência. Você tem vida própria. E é até engraçado às vezes... Agora sou eu que estou desconcertado com as suas palavras. Ele levantou as mãos, abriu o armário suspenso da cozinha. Pegou uma grande caneca vermelha e a encheu até à borda com café. Tem muito café! Não vai colocar açúcar? Não, não quero adoçar as coisas agora. Ok, a escolha é sua. Isso, a escolha é minha. Você quer sair daqui e ir para onde eu for? Eu conto com você. Claro que pode contar comigo. Agora ele sopra o café. Não consigo ver vestígios do choro que acabara de protagonizar a alguns minutos. Então eu vou arrumar as malas. Ele saiu da cozinha e foi direto para o quarto. Colocou a caneca no criado-mudo ao lado da cama e abriu rapidamente o guarda-roupa. Ele escolhe de tudo um pouco. Subiu na cadeira que pegou da sala e alcançou a mala que estava em cima do móvel de roupas. Eu não faço ideia dos planos que ele tem, mas sei que faz o certo. É ele quem sabe de si e da sua própria consciência. A única coisa que eu posso fazer é me deixar levar pelas suas escolhas... Porque sozinho ele nunca irá ficar.
Posted on: Sat, 23 Nov 2013 23:42:36 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015