Podia ser algo digno de uma leitura não fosse apenas as verdades - TopicsExpress



          

Podia ser algo digno de uma leitura não fosse apenas as verdades de um cara desempregado acompanhando uma confusão. Estava vagando pela internet há alguns dias quando me deparei com uma crise. “Polícia abusa da força na contenção de protesto do MPL em São Paulo”. Normalmente eu não daria importância a isso, pois não moro em São Paulo, também não acho que a polícia desça a borracha à toa em ninguém, mas o fato é que aquilo me chamou sim a atenção. O povo estava exageradamente nervoso, a mídia estava enlouquecida acusando a polícia e de repente todo cara fardado do país era um facínora violento (vou preferir nem falar mais da mídia aqui...). O que veio depois dessa notícia, todo mundo sabe e não sou papagaio de pirata para repetir. Hoje, dia vinte e dois de junho, depois de conversar com minha família, descobri que sou mesmo um cara responsável. Já havia ido aos protestos, já havia gritado “vem pra rua” e “não é só por vinte centavos”, mas não havia gritado ainda: “Sociedade, nós permitimos isso”, isso é ser responsável. “Como assim permitimos?” Impunidade, irresponsabilidade. Todos fomos permissivos com o governo, com nossos filhos, com nossos pais, contra a seguradora de nosso carro quando mentimos a culpa de um acidente, quando dirigimos chapados e não fomos pegos. Também quando não nos importamos com a corrupção da polícia e a subornamos com “cinquenta conto”. “Oh, mas o que eu podia fazer?” Denunciar, fiscalizar, aplaudir, vaiar, bater, apanhar. Sobre a polícia, toda cidade tem uma lenda urbana (nem tão lenda assim) de um sujeito que foi preso porque plantaram “droga” no carro dele. Eu sabia, você sabia, eles sabiam e ninguém fez nada. E ninguém faz nada. Nós, como sociedade fomos ausentes, fomos inocentes e fomos arrogantes, porque sim, o brasileiro é arrogante. O Brasileiro gosta de apontar o dedo e dizer: “Eu não fiz isso ou aquilo”. Pois é... Não fizemos nada. Enquanto o crack não ganhou da cola de sapateiro e chegou à porta do supermercado incomodando a madame que saía com sacolas, não era nada demais. Quando o Lula começou a roubalheira demos a ele mais quatro anos. Quando suspeitamos da urna eletrônica nós a mantivemos. Agora ouço a sociedade chamando os “casca-grossa”, os caras que estão batalhando pela nossa democracia — e não me venha com essa de golpe — de vândalos, de bandidos e de delinquentes. Eles pelo menos estão dando um passo que nós, sociedade arrogante não demos. Amigo, tio, tia, mãe, filho, pai: não existe revolução sem quebradeira. Não existe evolução sem quebradeira. O que está sendo feito pelos arruaceiros é chamar a atenção e sem isso, nenhuma mobilização é notada. Não gosto, mas chamo de mal necessário. Acredito que tudo que a sociedade gostaria nesse momento é de um bando de gente imitando a Argentina e batendo panelas na rua, organizadamente. Ok... Sabe quem mais gostaria disso? O governo... Porque panela não choca e barulho não machuca. Não apoio bandido — roubar, matar e ferir policiais —, mas é preciso estar preparado para esses atos que são também consequências de nossa omissão. Isso e o corre-corre, rodovias impedidas e outros transtornos. Como um cara de classe média desempregado tenho tempo de ler muito, estudar muito e escutar muita, mas muita bobagem mesmo. Vou escrever algumas aí embaixo que você não é obrigado a concordar — não mesmo —, mas deveria ler. A Sociedade deixou que todos esses problemas nos cartazes acontecessem e agora precisaremos arcar com nosso prejuízo. Como escrevi lá em cima, vimos a sujeira se acumulando, vimos os mendigos, os viciados, os bandidos, os sem terra e os sem teto. Vimos os sem partido e os índios assassinados. Vimos tudo e dissemos: “Deixa pra lá”, “O Brasil é assim”, “Se eu falar demais me ferro com o chefe”. Nesse momento a vida profissional de todo mundo está um caos e tem gente que continua dizendo as mesmas coisas. A via Dutra parada incomoda, o trânsito na cidade incomoda, a Copa incomoda. Novidade... A copa foi decidida faz tempo e ninguém fez algo de sólido para impedir que ela viesse para cá. Pelo que me lembro a desejamos e quem não desejou disse: “deixa pra lá”. Então o caos chegou às ruas, caçambas foram queimadas e todo tiozinho se indignou chamando a praga urbana pobre e pé rapada de bandidos, de vândalos... Perguntando: “Quem os criou?”. Nós. A sociedade que não exigiu que a criminalidade fosse controlada e combatida. Que não fiscalizou e que, muitas vezes, sequer apontou o dedo para um procurado delatando-o para a polícia. “Deixa fugir, a polícia que corra atrás... São pagos pra isso”. Escrevo isso para me responsabilizar e responsabilizar você por tudo o que está acontecendo porque, pelo menos eu, pretendo dormir essa noite. A sujeira na sua soleira chegou até sua casa graças ao papel de bala que você jogou no chão. Graças à bituca de cigarro e ao papel guardanapo sujo de batom que você lançou pelo vidro do seu carro pago em trinta e seis prestações. E não adianta reclamar da chuva... Povo... Precisamos dessa confusão para aprender a ser gente. A ser uma nação. A nos importarmos com o cara que cheira cola nas ruas frias do centro. O que a Copa 2014 fez foi obrigar o estado a varrer toda a sujeira urbana para debaixo do tapete, então pensamos: “acabou a bandidagem”. Não acabou nada, só mudou de lugar. Sobre corrupção de novo... Reclamamos do Calheiros, mas fomos permissivos com Zé Dirceu, com Genoíno, com Collor, com Lula, com o filho do Lula e eu sei que você tem nomes e mais nomes na manga — o que torna tudo pior e me enche de razão, afinal... você tinha os nomes e não fez nada. “Oh! Mas o que eu faria?” Lembrei de uma vez que agimos. Foi por causa da Fiat Elba do Collor... E quantas outras chances tivemos depois disso? Amigos, tiozinhos, tiazinhas, filhos, pais e mães, o primeiro passo para a redenção é assumir a culpa e o primeiro passo para o sucesso é o risco. Passou da hora de cada pequeno peão do tabuleiro — ou cidadão se preferir — assumir seu papel junto à política. Passou da hora de deixar esse lance de “Política é chata” fazer coro. Chato é ser roubado e feito de tonto, chato é ser tonto. É ouvir que teremos milhares de médicos vindos do exterior enquanto nossa saúde apodrece e se muda para o mesmo exterior. Chato é pagar miséria para obrigar um médico brasileiro — que estudou cinco, dez anos e precisou encarar a máfia dos vestibulares — a atravessar aguaceiros de barco para atender a população. Por favor, assumam sua culpa — nossa culpa —, apanhem seus diplomas e façam valer a formação que têm, fiscalizem. Se não tem formação, façam valer seus olhos e ouvidos, façam valer suas vozes e parem de se esconder embaixo de lençóis limpinhos dizendo que não se importam. Porque na verdade, nesse exato momento tudo importa. E lama só escorre do alto de um morro, de onde tem muito mais lama. E desce bem para a porta de nossas casas.
Posted on: Sun, 23 Jun 2013 00:21:48 +0000

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