Poema 2 - touro - horizonte By Fernando Pessoa Ó mar - TopicsExpress



          

Poema 2 - touro - horizonte By Fernando Pessoa Ó mar anterior a nós, teus medos Tinham coral e praias e arvoredos. Desvendadas a noite e a cerração, As tormentas passadas e o mistério, Abria em flor o Longe, e o Sul sidério ‘Splendia sobre as naus da iniciação. Linha severa da longínqua costa - Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta Em árvores onde o Longe nada tinha; Mais perto, abre-se a terra em sons e cores: E, no desembarcar, há aves, flores, Onde era só, de longe a abstrata linha. O sonho é ver as formas invisíveis Da distância imprecisa, e, com sensíveis Movimentos da esp’rança e da vontade, Buscar na linha fria do horizonte A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte - Os beijos merecidos da Verdade. O que ressalta imediatamente deste poema é a utilização de termos que referem os elementos típicos da Natureza primaveril do seu planeta quando está no auge da sua criatividade. Ora, estes termos são, exatamente, os mesmos que referem o arquétipo Touro. Este signo astrológico é regido por Vênus, a deusa da Arte, do Amor e da Sedução a qual, naturalmente, expressa os valores taurinos de beleza e de sensualidade. Para que isto fique mais claro, gostaria de destacar esses termos e as expressões que, em Horizonte, «escondem» a presença dominante de Touro/Vénus: Ó mar anterior a nós, teus medos Tinham coral e praias e arvoredos. Desvendadas a noite e a cerração, As tormentas passadas e o mistério, Abria em flor o Longe, e o Sul sidério ‘Splendia sobre as naus da iniciação. Linha severa da longínqua costa - Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta Em árvores onde o Longe nada tinha; Mais perto, abre-se a terra em sons e cores: E, no desembarcar, há aves, flores, Onde era só, de longe a abstrata linha. O sonho é ver as formas invisíveis Da distância imprecisa, e, com sensíveis Movimentos da esp’rança e da vontade, Buscar na linha fria do horizonte A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte - Os beijos merecidos da Verdade. De todas estas referências, típicas de uma primavera que desabrocha (Touro/Vénus – Abril/Maio), a mais clara e inequívoca está, sem dúvida, no quinto verso da primeira estrofe: Abria em flor o Longe, e o Sul sidério Touro é um signo de Terra. Este Elemento diz respeito às vertentes práticas da vida baseadas na experiência passada (concretização) e à realidade perceptível do presente (evidência). Por ser preservador e conservador, a Terra está pouco interessada no futuro. Ora, como se pode verificar, a Terra está bem presente neste poema, quer nos termos característicos da sua vertente material e física (aves, flor, árvores, praia, fonte, etc.), quer, precisamente, no sentido das acima citadas concretização (baseada na experiência passada) e evidência (realidade perceptível do presente). Comecemos pela concretização (baseada na experiência passada): na primeira estrofe, o verbo está no pretérito perfeito (tempo passado): Ó mar anterior a nós, teus medos Tinham coral e praias e arvoredos. Este tempo de conjugação pressupõe que, agora, os medos já «não têm» coral e praias e arvoredos. Logo, a presença do Elemento Terra está em que algo se concretizou no sentido de alterar a definição deles. Quanto à evidência (realidade perceptível do presente): na segunda estrofe, os verbos estão no presente do indicativo (tempo presente): Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta Em árvores onde o Longe nada tinha; Mais perto, abre-se a terra em sons e cores: E, no desembarcar, há aves, flores, Onde era só, de longe a abstrata linha. Portanto, não se pode negar a presença do Elemento Terra em Horizonte: como vimos, a concretização remete para uma realização prática ocorrida, ou baseada, no passado, ao passo que a evidência refere uma objetividade que pode ser provada através da realidade perceptível no presente. Outra referência clara ao Elemento Terra é o próprio título do poema: Horizonte. Um horizonte pode ser, evidentemente, apenas uma linha que, aparentemente, assinala o fim do planeta. Porém, para os navegantes portugueses que procuravam novas terras, decerto se refere ao avistamento e posterior alcance de algo sólido, alguma coisa de concreto que se visse, sentisse, tocasse e cheirasse (Terra), alguma coisa que se pudesse possuir e preservar (Touro), alguma coisa que se pudesse fruir, amar e contemplar (Vénus). Este poema também denota uma presença bem vincada do signo oposto. Neste caso é Escorpião – um arquétipo de mistério, profundidade, noite, breu, transcendência, morte, regeneração, inconsciente profundo, etc. A terminologia típica deste arquétipo oposto a Touro pode ser encontrada em: Ó mar anterior a nós, teus medos Tinham coral e praias e arvoredos. Desvendadas a noite e a cerração, As tormentas passadas e o mistério, Abria em flor o Longe, e o Sul sidério ‘Splendia sobre as naus da iniciação. Linha severa da longínqua costa - Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta Em árvores onde o Longe nada tinha; Mais perto, abre-se a terra em sons e cores: E, no desembarcar, há aves, flores, Onde era só, de longe a abstrata linha. O sonho é ver as formas invisíveis Da distância imprecisa, e, com sensíveis Movimentos da esp’rança e da vontade, Buscar na linha fria do horizonte A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte - Os beijos merecidos da Verdade. Perante isto, será lícito acreditar que Fernando Pessoa decidiu deixar de lado a profundidade dos seus conhecimentos esotéricos, optou por dispensar a maturidade da sua alma e preferiu limitar-se a utilizar, nos seus poemas, termos que constam de qualquer compêndio básico de Astrologia? Fará algum sentido considerar a magistral composição deste poema como uma simples superficialidade inspirada? Será por acaso que Touro e Escorpião estão aqui codificados? Será coincidência? E como comentar o que se passa nos outros poemas? Fernando Pessoa tinha Ascendente em Escorpião. Esse gosto pela investigação, pelo contacto com o oculto e com o enigma forçou-o, evidentemente, a ir bem mais fundo. Toda a sua obra assegura isso mesmo. É um fato indesmentível que, por detrás da exaltação da bravura da viagem física, externa, dos navegadores (que serve de «pretexto» aos 12 poemas), está a demanda do Gral – a viagem espiritual, interna, o trabalho alquímico, as iniciações, o autoconhecimento, enfim o empenho na tarefa de, progressivamente, ir substituindo a consciência terrena e mundana, por uma outra, divina e transpessoal. É assim que, em Horizonte, encontrarás expressões e idéias que apontam claramente para os interesses espirituais do poeta. Os dois últimos versos da primeira estrofe são bem explícitos: Abria em flor o Longe, e o Sul sidério ‘Splendia sobre as naus da iniciação. Repara que Longe está escrito com letra maiúscula; não refere, portanto, a distância física que separava os navegadores das terras onde pretendiam chegar; é outro tipo de Longe. Além disto, as naus deixam de ser os veículos da descoberta marítima para passarem a ser os veículos da iniciação. Outro exemplo de expressões e idéias que apontam claramente no sentido da viagem espiritual, do trabalho alquímico, da iniciação e do autoconhecimento, é toda a terceira estrofe, especialmente o seu início: O sonho é ver as formas invisíveis Da distância imprecisa, e, com sensíveis Movimentos da esp’rança e da vontade, Buscar na linha fria do horizonte A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte - Os beijos merecidos da Verdade. O que poderão ser estas formas invisíveis da distância imprecisa senão aquelas que o desdobramento da energia do teu ser multidimensional podem assumir na distância imprecisa dos vários planos das distintas dimensões dos diversos Universos? Qual poderá ser esta Verdade maiúscula senão a da nossa origem cósmica e divina? Que «lábios» darão estes beijos merecidos da Verdade, senão os do nosso Pai? Quem os receberá senão a tua alma resgatada? Se caíres na ingenuidade de pensar que vais sentir esses beijos na pele da tua fronte, suada pelas agruras do Caminho, desilude-te porque, nessa dimensão, não precisas de um corpo físico para nada. Em termos de expansão da consciência, o objetivo a atingir é, evidentemente, que consigas realizar o sonho de ver, de seres capaz de reconhecer as formas invisíveis da distância imprecisa que estão escondidas no futuro por desvendar. Por outras palavras: tu não acabas no ponto onde termina a consciência que tens acerca de ti mesmo. Sem entenderes isto, permaneces, é claro, dentro do mistério. Assim, esta dramática situação impele milhões de pessoas a peregrinar erraticamente em busca de orientação, do sentido e do propósito da existência, o que faz com que o momento de recebimento dos tais beijos merecidos da Verdade vá sendo sistematicamente adiado. Dito por outras palavras, a pessoa que, há milhares de anos, se entretém com o tão propalado mistério do sentido da vida, há milhares de anos que orienta a sua pesquisa nas seguintes direções: . O seu local de origem. (De onde venho?); . A conscientização do grau de evolução que possui (Quem sou eu?); . A busca do ponto de chegada (Para onde vou?). Esquece-se, porém, (ou recusa lembrar-se!) que: . Conhece perfeitamente o local de origem do seu ser, de onde ele vem: vem de outra dimensão, onde deixou a sua matriz perfeita, aquilo que existe para o ajudar a orientar-se neste mundo das formas, desde que solicite e aceite, incondicionalmente, essa ajuda. . Conhece perfeitamente o grau de evolução que possui, sabe quem é: é um ser multidimensional, um núcleo de consciência superior, incomensurável. É um Filho da Luz que, junto com muitas outras, resolveu experimentar a densificação a sua própria energia para ver como a criatividade da Fonte se manifestaria nesses planos densos. Esta decisão, porém, implicou na descida um espesso véu sobre o conhecimento da Essência; a conseqüência foi essa espécie de amnésia cósmica que o aflige; . Conhece perfeitamente o ponto de chegada, sabe para onde irá: irá para outra dimensão, para aquela de onde saiu, temporariamente, para fazer esta experiência. Tal como o filho pródigo, voltará para Casa do Pai, esse estado de paz que lhe pertence por direito e de onde jamais poderá ser expulso. Portanto, o célebre mistério da Vida não tem mistério nenhum! Através de tudo isto – e do resto que a tua mente humana não tem como explicar – Fernando Pessoa convida o leitor a refletir acerca da sua condição de estar encarnado neste mundo, embora não seja deste mundo. Estás aí, na Terra, preso nessa densíssima dimensão, para reconhecer o que está por detrás do véu que tu próprio ajudaste a tecer e permitiste que, no momento do nascimento físico, descesse sobre o Conhecimento Essencial da tua verdadeira Origem. Tu estás aí para, como diz o poeta: Buscar na linha fria do horizonte A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte - Os beijos merecidos da Verdade. Ou seja, tens de ativar aquele instinto do salmão que faz com que, depois de muitos anos no mar, procure o rio onde nasceu. Portanto, decide sair desse teu mar assustador; ativa o instinto de retorno à Fonte e demanda o Rio de Luz onde nasceste, procura o Rio de Luz que, afinal, és tu. Quando estiveres em ti, quando recuperares a condição de Tudo, receberás os tais beijos merecidos da Verdade e, finalmente, perceberás que beijas a ti mesmo! Repetindo o jogo de relacionar as primeiras e as últimas palavras do poema, podes ver em; Ó mar anterior a nós, teus medos uma invocação ao mar ancestral e primordial. Trata-se desse Oceano da Totalidade onde flutua o Ovo Cósmico, esse mar que, necessariamente, é anterior a nós, na medida em que somos o fruto manifestado da Sua criatividade. A ternura inerente a essa Fonte volta a aparecer no último verso Os beijos merecidos da Verdade. já que o Criador, depois de ter aguardado que completasses a viagem iniciática ao longo de inumeráveis encarnações, recebe-te de volta e permite que te fundas, de novo, com Ele, por forma a Ele e tu sejam Um, como sempre foram e serão. O Pai beija e, no beijar, unifica.
Posted on: Sun, 24 Nov 2013 02:39:45 +0000

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