QUANDO O SILÊNCIO NÃO INCOMODA. Olhei-o ligeiramente, olho no - TopicsExpress



          

QUANDO O SILÊNCIO NÃO INCOMODA. Olhei-o ligeiramente, olho no olho numa profundidade visual que só nele eu tive coragem de mergulhar. Não disse nada, nem precisava. Queria apenas tocá-lo com meu olhar e, com isso, deixar bem claro o quanto eu estava ali, presente de corpo, alma e coração. Olhei-o fixamente nas retinas e assim, sem emitir qualquer grunhido ou som, mostrei o quanto eu estava perto o suficiente para protegê-lo de qualquer tipo de tempestade ou algo que pudesse machucá-lo, e longe o bastante para não matá-lo sufocado com minha ânsia de tê-lo sempre comigo. O relógio não parou e os minutos passaram enquanto naquela mesinha de cozinha, as janelas escancaradas, dividíamos sem medo, uma porção de silêncio. Tínhamos a imensidão do tempo bem ali, uma brisa que parecia soprar nossos problemas pra bem longe, e a Lua, lindíssimo astro que vagarosamente preparava o último grande ato do dia. Aquela cena muda não era sintoma de fim de namoro, pelo contrário, era indício de solidez em nosso relacionamento. A falta de palavras era opcional e a boca fechada não incomodava nem gerava a mínima insegurança. Não precisávamos caçar assuntos como faz um par nos primeiros encontros. Naquele dia, descobrimos que estávamos prontos para dividir muito mais que a cama e que sobreviveríamos sorridentes e ilesos aos inevitáveis compartilhamentos de silêncio, sem sofrer com a falta de falas e sem precisar iniciar uma broxante conversa de elevador. Pode parecer um minúsculo detalhe, mas graças a essa quietude destemida, percebi o quanto ele era uma pessoal especial, e mais, entendi um dos elementos necessários para a sobrevivência de uma relação amorosa: O conforto essencial para o surgimento de longas convivências. Não estou falando da uma maciez de uma barriga ou a dureza de um colchão, nada disso. Em uma relação verdadeira, conforto é capacidade de encontrarmos aconchego na simples e muitas vezes silenciosa presença de quem amamos. Um peito cômodo ou um braço aconchegante podem até sustentar menores e mais frágeis laços, mas os grandes e duradores vínculos precisam de presenças confortáveis para sobreviver. O amor verdadeiro sobrevive à falta de palavras, de novas piadas, velhos assuntos, mas debate-se desconfortavelmente quando encontra-se sem a presença agasalhadora do ser amado. Saudade é o desconforto gerado pela falta daquela presença estupidamente confortável. Essa não é uma conclusão só minha, pois até mesmo o sangrento "PULP FICTION" apresenta um diálogo incrível sobre esse silencioso tema: MIA: - Você não odeia isso?? VICENT: - O quê? MIA: - Silêncios desconfortáveis. Por que sentimos a necessidade de tagarelar besteiras para ficar confortável? VICENT: - Não sei! MIA: - É quando você sabe que encontrou alguém especial. Quando você pode simplesmente calar a boca por um minuto e dividir o silêncio confortávelmente.
Posted on: Mon, 30 Sep 2013 19:38:59 +0000

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