"Que dó de fulano"... Sentir pena sempre foi algo bem aceito e - TopicsExpress



          

"Que dó de fulano"... Sentir pena sempre foi algo bem aceito e louvado, pois revela a misericórdia de ser para com a penúria do outro, e induz ao sentimento primeiro que impulsiona ao ato de solidariedade, tão caro a nós cristãos; tão necessário à mútua sobrevivência nessa natureza hostil. Ao mesmo tempo, traz consigo a presunção inafastável: quem sente pena, de alguma maneira está, ou se colocou, em uma posição de superioridade em relação ao apenado. Afinal, você não sente pena do seu irmão na dor - com este você tem empatia, compartilha de uma mesma e simbiótica dor: ter pena dele é ter pena de si mesmo. Você tem pena daquele que está mais fodido que você... Tudo bem. O problema é que no mais das vezes você sente pena daquele que você arbitrou a si mesmo que está mais fodido que você: um pássaro tendo pena de um peixe que nunca voou (ou vice-versa). Forjou a condição que te permitiu arrogar-se o direito de sentir pena do outro para se sentir feliz consigo mesmo. De toda a maquinaria de subterfúgios que o fraco usa para legitimar a sua existência no mundo, o "sentir pena do outro" é, de todas, a mais detestável, perigosa e sutil - pois vem em vestes de bom cristão.
Posted on: Thu, 04 Jul 2013 04:05:14 +0000

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