Ratifico e aproveito para levantar algumas ideias: Lançando mão - TopicsExpress



          

Ratifico e aproveito para levantar algumas ideias: Lançando mão do que há de mais novo na sociologia brasileira, e refiro-me ao ressurgimento das análises sociológicas que partem do conceito de classe social - quase em desuso -, imediatamente pensei ao também presenciar a cena descrita pelo camarada Gustavo: o subproletariado. Explico: categoria criada pelo economista Paul Singer na década de 1970 e retomada a pouco por seu filho, o cientista político André Singer, o subproletariado é uma espécie de herdeiro direto daquilo que Caio Prado Júnior definiu em Formação do Brasil Contemporâneo por "inorgânico". Nos ídos anos 1940 Caio Prado referia-se a um setor da sociedade colonial que estava a margem da sociedade senhorial/escravista. Não tratava-se nem de um nem de outro. Era um desclassificado social criado pela dinâmica do sistema colonial. Organizada basicamente para oferecer gêneros tropicais aos mercados europeus, toda economia colonial operava "organicamente" em função desse movimento sustentado pelo circuito "grande propriedade-monocultura-escravidão". A economia de subsistência ("inorgânica"), por outro lado, subordinada e dependente do setor "orgânico", apenas encontrava espaço nas brechas criadas pelo sistema de grande lavoura: terra de ninguém ocupada pela massa social cujo único atributo talvez fosse sua própria "ninguendade". É este ninguém, que não era negro da terra, da áfrica, tampouco senhor, que cruzou a história brasileira sem que nem ao menos o papel social subalterno fosse-lhe outorgado. Permaneceu marginalizado na independência, assistiu bestializado o golpe da república, participou pouco ou nada das lutas organizadas de trabalhadores por direitos civis, políticos e sociais. Até os dias de hoje foi integrado parcialmente e apenas em virtude das necessidades intrínsecas às metamorfoses do capital, toma parte no mundo do trabalho como peça chave na sobre-apropriação repartida do excedente: vive sob o signo da precarização do trabalho, não tem carteira assinada, não tem representação no sindicato - e, portanto, até o direito de greve lhe fora e é privado. Em poucas palavras, essa massa é completamente desorganizada e está de mãos atadas, sem mencionar as recentes políticas de crédito consignado que lhe deram acesso a um mercado de consumo do qual não dispunha antes, o que, sem dúvida, é capaz de cultivar um espírito individualista pouco afeito à solidariedade de classe. É justamente este o ponto mais importante. Em face da desorganização e da indisposição em saná-la, existe a probabilidade (uma hipótese) de que o subproletariado posicione-se contra os setores da sociedade que estão organizados. Sente-se ameaçado por sua própria desorganização e por algum motivo encontra no aparato repressor do Estado e na opinião pública conservadora sua forma de expressão coletiva. Talvez por isso seja tão comum ouvirmos a torto e a direito no transporte público, na rua ou menso em casa, comentários favoráveis à violência policial em situações que esta última interfere com bombas de gás lacrimogênio, cassetetes e armas não-letais (ou letais) em manifestações que "perturbem a ordem" - leia-se, o fluxo d capital. Para concluir, espero que André Singer esteja certo, prezo que o crescimento da formalização do trabalho, em curso nos últimos anos, - o que não significa que as condições de trabalho melhorem com a formalização - seja capaz de incorporar o subproletariado, organizá-lo e direcionar seu caminho rumo à solidariedade de classe. Talvez o recente aumento no número de greves no setor privado, com picos nos anos 2008-2012, tal como o sociólogo Ruy Braga apresentou em debate na última terça-feira na PUC-SP, sejam evidências dessa nova cara do precariado brasileiro, mais organizado, combativo e progressivamente mais consciente de sua potência plebeia.
Posted on: Sat, 08 Jun 2013 02:57:56 +0000

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