SERIA Um sofá, uma sala a meia luz, e dois corpos num abraço confortável; um sofá, uma sala a meia luz, e os teus cabelos em cascata pelos meus dedos; um suspiro teu intercepta o silêncio e a dúvida que se denuncia na fraqueza do olhar teleguiado pelo medo. Perguntas-me como seria se um dia nos deixássemos. Resposta impossível. Insistes: queres mesmo perceber como subsistiria o nosso amor na ausência. Antes de pensar, sentir; antes de pensar, sentir e sorrir: acordaria ao som de uma chuva torrencial, o vento sopraria, pensaria em ti, e todas as lágrimas choradas chamariam o teu nome. E tu pintarias um quadro dos dias que foram, quando o amor era cego, farias com que eu visse e eu ficaria uma vida inteira, uma morte inteira dentro dos teus olhos, para que eu soubesse que estavas sempre ali para mim, tempo após tempo estavas ali para mim. Eu em ti, na memória de ti, a viver os ontens, todos os nossos ontens, os passeios de mão dada, as cartas de amor escritas na areia da praia, os beijos na chuva, o cheiro da tua pele molhada. Nas noites de insónia e nos dias sem fim, todos os dias sem fim, quereria ouvir-te dizer: lembro-me de ti. E eu a lembrar-me-ia de nós, a desejar que todos os depois fossem como os verões que passámos, em que em dizias “eu amo-te, amor”, sem um único som, um amo-te impronunciável mas, ao mesmo tempo, o mais perceptível dos amo-tes. Daria a minha vida por mais um beijo; viveria pelo teu sorriso e morreria pelo teu beijo. Teríamos a nossa porção de tempos difíceis- era o preço que pagaríamos. Mas a promessa que fizemos continuaria entre nós, a qualquer custo: jurámos que nunca nos deixaríamos sozinhos. Acordaria com o doce som da chuva torrencial, e a chuva levaria com ela o meu sonho sobre ti. Mas nada mais poderia afastar-te, porque serias – e és- sempre o meu sonho realizado. RUI MIGUEL MENDONÇA
Posted on: Fri, 27 Sep 2013 00:44:54 +0000
Trending Topics
Recently Viewed Topics
© 2015