SOBRE OS TESTES EM ANIMAIS: o melhor texto que li até o momento - TopicsExpress



          

SOBRE OS TESTES EM ANIMAIS: o melhor texto que li até o momento sobre o tema. Um velho ditado afirma que “o pior cego é aquele que não quer enxergar”. Outro, menos antigo, prega que “se conhecimento, dados precisos e bons argumentos convencessem alguém, nenhum médico seria fumante”. Cada vez mais me convenço da verdade contida em ambos ditados. As pessoas, quando não querem ser convencidas de algo, não há gênio, pedagogo ou mestre espiritual que as convença que a verdade que elas enxergam não é, de fato, a verdade absoluta. Um caso clássico do que acabo de afirmar é a posição ortodoxa, radical e obscurantista de certos grupos ligados à defesa dos direitos animais no que diz respeito ao uso de animais em pesquisa científica. Defendem mitos como se fossem verdades inquestionáveis, informações imprecisas e, em alguns casos, fantasiosas como se fossem fatos científicos e satanizam a Ciência e os cientistas como se fossem, em sua maioria, pessoas malignas, perversas e mal intencionadas. Será que essa visão linear e obtusa é realmente a verdade? Desrespeitando minha crença de que não adianta “gastar o meu latim” com quem não quer ser convencido, e na esperança de que pessoas equilibradas e sensatas, sem opinião formada ou dispostas, ao menos, a considerar a opinião oposta antes de tirarem conclusões, possam enxergar a real dimensão e a complexidade do tema, decidi me aventurar a escrever aqui sobre esse polêmico assunto. Sei que estou me arriscando a ser xingado, execrado e quem sabe sofrer até atentados, como foi o caso recente de uma ilustre cientista durante uma discussão sobre o tema na reunião da SBPC, que foi alvejada com tinta vermelha por “zooterroristas” que se dizem defensores de direitos animais. Mas acho que vale a pena o risco… Para iniciar, vamos tentar derrubar alguns mitos. O primeiro grande mito é o argumento que se faz experimentos com animais por ser mais barato e/ou mais fácil do que fazê-lo in vitro (em tubo de ensaio). Quem afirma isso não deve ter a mínima noção do grande gasto de tempo, pessoal, espaço e trabalho que demanda manter um biotério. Os animais comem, bebem, precisam ser medicados, são mantidos em condições da alta higiene (quando não de esterilidade absoluta), temperatura e luminosidade controlada e demandam a atenção de tratadores e veterinários, tudo a um custo bastante elevado. Totalizando o custo final de tudo que envolve a criação de um camundongo, ou outro animal experimental, e comparando isso com os custos de se trabalhar in vitro com linhagens celulares em cultura, facilmente se percebe que é muito mais barato trabalhar in vitro. Experimentos in vitro são inclusive, em sua maioria, mais simples e mais reprodutíveis, mas, infelizmente, não trazem respostas claras com relação à grande maioria dos fenômenos fisiológicos complexos. Outro grande mito é a crença que existem métodos alternativos que substituem perfeitamente os experimentos com animais. Se isso fosse verdade, eu seria o primeiro a utilizá-los e tenho certeza que a grande maioria de meus colegas também assim o fariam, até porque, como afirmei acima, seria mais simples e mais barato. Nesse caso, vou contra-argumentar com algumas perguntas: me expliquem, por favor, como eu poderia simular in vitro o sistema circulatório com todos seus componentes, celulares e biofísicos, para fazer testes de drogas contra a hipertensão arterial? Qual protocolo experimental eu poderia usar para simular ansiedade ou depressão e testar medicamentos contra esses males, utilizando apenas células em um tubo? Como eu faria para testar in vitro o efeito de uma droga na perda de memória? Poderiam me explicar também como se faz para descobrir se um produto é bom contra diarréia usando células em um tubo de ensaio? Qualquer pessoa sensata e com o mínimo de conhecimento, em vista dos poucos exemplos que citei aqui, percebe que a coisa não é tão simples como pregam o “zooxiitas” de plantão. Outro argumento comumente utilizado é que o organismo de outros animais é diferente do humano e os testes em animais são, portanto, sem sentido. Usam aí uma meia-verdade, tentando torná-la uma verdade absoluta. É preciso sim ter cuidado ao se interpretar dados obtidos com experimentação animal, respeitando as diferenças interespecíficas. Em muitos casos não se reproduz um fenômeno biológico em organismos de espécies distintas, mas em espécies próximas evolutivamente há, em sua maioria, grandes semelhanças que permitem tirar conclusões preciosas e relevantes. Se fosse, realmente, tão diferente, a ponto de ser impossível se extrapolar para o ser humano o dado obtido em experimentação animal, a Ciência já teria abandonado tal prática, pois seria um esforço inútil e um gasto de recursos, técnicos, financeiros e humanos sem justificativa. Além disso, alguém realmente acha que grandes laboratórios multinacionais (que em sua maioria visam muito mais o lucro do que o lado humanitário) iriam gastar milhões de dólares em testes de drogas em animais, se isso não trouxesse nenhum dado confiável? Seriam os diretores dessas companhias insanos, sádicos ou irresponsáveis? Faz sentido jogar dinheiro no ralo assim? O fato é: os testes de drogas em animais reduzem ao extremo os riscos para o ser humano e para outros animais, tendo em vista que, das drogas adotadas no tratamento de seres humanas, a maioria também é utilizada para fins veterinários. Alguns dizem: “testem diretamente em humanos”. Aí eu pergunto: você se ofereceria como voluntário para testar se uma droga é boa contra um problema cardíaco, sabendo que se ela falhar ou piorar a sua situação poderia levar à sua morte? Aceitaria uma droga sem ter a mínima noção (pela ausência de testes em outros animais) do tipo de efeitos colaterais ela pode causar e sua real eficácia? Daria a um bebê com diarréia severa um medicamento que nunca foi testado, cruzando os dedos para ele funcionar, se não a criança pode morrer de desidratação, isso sem ter a menor pista dos seus efeitos em outros mamíferos? Você realmente acha menos hediondo utilizar seres humanos como cobaias do que animais, criados especificamente para esse fim? Você concorda com a opinião de certas pessoas que acham que se deve utilizar presidiários como cobaias humanas? Aliás, a “turminha legal” dos “porões da ditadura” ia adorar fazer isso com os “subversivos” que eles prendiam e torturavam aos milhares, nas décadas de 60 e 70 do século passado… O fato é: não se pode abrir o precedente autorizando experimentação humana sob o risco de se institucionalizar atrocidades e banalizar ainda mais o valor da vida humana. Mas, caso os defensores árduos dos direitos animais insistam em defender essa tese (que fere os direitos humanos, o que, aparentemente para os “zooxiitas” importa menos que os direitos animais), sugiro que, sendo coerentes com essa idéia, sejam todos voluntários para tais testes, incluindo seus filhos e outros parentes na lista também. Outro mito: “os cientistas são pessoas malignas que sentem prazer em torturar animais”. Alguém em sã consciência acha que Dr. Louis Pasteur era um sádico torturador de animaizinhos indefesos, por mero prazer, em experimentos sem sentido? Seria o Dr. Carlos Chagas um homem maligno que tinha prazer de sacrificar insetos inocentes, por matar barbeiros em suas pesquisas? Seria um criminoso o Dr. Albert Sabin, que desenvolveu a vacina contra a poliomielite, tendo em vista que sua vacina foi testada antes em macacos e só depois liberada para vacinação humana? Sim, porque segundo o ponto de vista dos radicais defensores dos animais, esses e milhares de outros pesquisadores não passam de psicopatas assassinos. Para eles, por exemplo, testar a vacina Sabin em algumas dezenas de macacos não se justifica, mesmo tendo essa vacina evitado que milhões de pessoas contraíssem pólio e ficassem aleijadas pelo resto da vida. Se assim eles pensam, eu, humildemente, me reservo ao direito de discordar. O que acho intrigante é o seguinte: estariam esses “zooxiitas” defendendo o direito à vida das baratas? E os mosquitos, inclusive os da dengue, estão na sua lista de animais a serem defendidos? Seriam defensores dos cupins? Estariam os barbeiros (que transmitem a Doença de Chagas) entre seus alvos de proteção? Estariam tão interessados em defender uma ratazana malcheirosa que entra em sua casa pelo ralo, quanto um ratinho bonitinho, branquinho criado em um biotério científico? Achariam também importante defender pulgas, carrapatos e piolhos? Pensam ser uma atrocidade usar um vermífugo para matar uma solitária (Taenia solium) que parasita uma criança? Sim, porque todos exemplos que citei acima são, também, animais e deveriam ser defendidos, da mesma forma e com o mesmo afinco! Ou será que só entram nessa lista os camundonguinhos, ratinhos, ramsterzinhos, coelhinhos, porquinhos, cachorrinhos, gatinhos e macaquinhos fofinhos? Para aqueles que não são vegetarianos, então, não existe a menor forma de sustentar sua posição pró-animais, tendo em vista promoverem uma imensa matança de animais para se alimentarem. A propósito: eu sou vegetariano. É sinal de profunda ignorância e/ou leviandade colocar experimentação científica séria, voltada para a saúde da humanidade, no mesmo saco que: touradas, Farra do Boi, criação de gansos para fazer patê de foie gras, caça “esportiva” de animais ou para extrair peles para casaco de madames fúteis, tráfico de animais, rodeios, exploração de animais em circos, criação de animais imobilizados para se obter “baby beef”, briga de galos cachorros e outros animais, espancamento ou manutenção em condições precárias de animais domésticos e, até mesmo, uso de animais para testar cosméticos (todos procedimentos que sou absolutamente contra). A verdade, ao meu ver, é que a experimentação animal é um mal necessário. Não existe forma satisfatória de substituir o uso animal em pesquisas sem interromper estudos fundamentais para o futuro da humanidade e para saúde e sobrevivência do ser humano. O que pode, deve e já está sendo feito, não só no Brasil, mas mundialmente, é regulamentar, fiscalizar e conscientizar as pessoas que fazem esse tipo de pesquisa, para utilizarem o mínimo necessário de animais, reduzir ao máximo qualquer sofrimento causado a eles e principalmente avaliar profundamente a real relevância dos projetos de pesquisa para a humanidade. A criação, nas últimas décadas, de comitês de ética em experimentação animal, em todas grandes instituições de pesquisa do país, e a aprovação recente da Lei Arouca, são exemplos de que o esforço está sendo feito. Agora, jogar tinta e ameaçar pesquisadores, invadir laboratórios (arriscando inclusive a se contaminar e gerar contaminação para terceiros) ou qualquer ato similar de terrorismo são atitudes de quem não tem capacidade de argumentar. A violência é o caminho que escolhem os indivíduos sem força moral, intelectual e espiritual para aceitar a diferença de opinião alheia. Esse tipo de atitude é algo patético, irresponsável e que denota falta de caráter. Discordar é um direito sagrado que cada um de nós tem. Entretanto, querer obrigar as pessoas a pensar e agir como nós achamos que devem fazê-lo e tentar coagi-las e amedronta-las para que assim o façam, é o tipo de atitude que tiveram os mentores de diversas ditaduras, inclusive aqui no Brasil, e o caminho escolhido pelo Sr. Adolph Hitler para “salvar” o seu país. Se esse é o caminho que os zooxiitas preferem, só lamento. Eu prefiro parafrasear Voltaire: “Não concordo com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-lo.” Octávio Menezes de Lima Junior, doutor em Biologia Celular e Molecular, ”Os ‘zooxiitas’ e a polêmica do uso de animais em experiências”, publicado em 11/11/2008, no site do jornal “O globo”, fonte: moglobo.globo/integra.asp?txtUrl=%2Fin%2Fos-zooxiitas-a-polemica-do-uso-de-animais-em-experiencias-3975651.
Posted on: Sat, 26 Oct 2013 18:10:07 +0000

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