Sair da cadeia para exercer o mandato Artigos | Publicação - TopicsExpress



          

Sair da cadeia para exercer o mandato Artigos | Publicação em 01.10.13 CartunistaSolda.br cara-de-honesto.jpg Por Luiz Flávio Gomes, jurista Já que a Câmara dos Deputados, imoralmente, não cassou seu mandato, agora quer o deputado federal Donadon participar das sessões da Casa. Se continua deputado, mesmo depois de condenado a mais de 13 anos de cadeia por corrupção e estar cumprindo pena em regime fechado, quer participar das discussões e votações das leis. Seu pedido será decidido pelo STF. O regime fechado impede o cumprimento da decisão da Câmara que manteve seu mandato. Sabe-se que ele mesmo votou contra sua própria cassação. Que vergonha, que escárnio! (Estadão 28/9/13, p. A8). Donadon constitui um dos retratos emblemáticos do parasitismo político brasileiro, que consiste em viver da corrupção, das trocas de favores, do clientelismo, dos “arreglos”, das maracutaias. É uma das raízes do Brasil atrasado (ao lado do teocratismo, ignorantismo e selvagerismo). A nossa formação cultural parasitária (expropriativa, espoliativa, extrativa, explorativa) vinda da colonização nos impede ver os políticos como exemplos para a nação (raríssimas as exceções). Não há exemplaridade. Os políticos conhecem os preceitos morais (sabem o que é certo e o que é errado). O problema é que se julgam superiores, intocáveis, invulneráveis. Não computam que possam ser controlados pelos cidadãos; ao contrário, estão pouco se lixando para eles, porque sabem que eles lhes darão os votos na reeleição. A corrupção (desvio do dinheiro público) é um grave problema. Que se agrava com a impunidade e a não devolução do enriquecimento ilícito. A pena de empobrecimento, ao lado de outros proibições, seria muito adequada. A cadeia é passageira. Muita gente concorda com a cadeia, desde que sua conta na Suíça não seja tocada. O empobrecimento, ao lado de outras interdições, é duradouro. Grande parte da nossa maldade (safadeza, malandragem, pilantragem, parasitismo, selvageria, esperteza) corre por conta do quanto nos deixam ser maus (do quanto a sociedade e os tribunais são complacentes ou lenientes com isso). Muita gente, pouco afeita aos preceitos éticos e morais, se pode tirar alguma vantagem em qualquer momento da vida (sobretudo política), o faz, desde que completamente seguro de que nada lhe passará, de que não vão descobrir, de que isso não gerará grandes estragos na sua “honorabilidade e reputação”, ou seja, na sua “carreira” (muitas vezes criminal). De acordo com essa lógica, a uma malandragem segue-se outra (porque a regra do jogo cultural é extrair o máximo de vantagem em tudo). Donadon sabe muito bem que é um corrupto. Sabe que agiu de forma errada. Mas se a Câmara dos Deputados (cuja moralidade é mais baixa ainda) não achou isso “tão grave” e manteve seu mandato, claro que agora ele quer disso tudo sacar uma nova vantagem: a de continuar votando as leis, incluindo-se as que reprovam a falta de ética e de moral “dos outros”. Quando o Parlamento brasileiro, que conta com baixíssima reputação moral (81% dos entrevistados pelo Ibope disseram que os políticos são corruptos ou muito corruptos), vota uma lei que pune o malfeito dos outros, ele faz uma demonstração pública de que sabe muito bem o que é certo e o que é errado. Os políticos malandros não são ignorantes nem indecisos. São criminosos que simplesmente confiam na impunidade! -------------
Posted on: Tue, 01 Oct 2013 21:40:29 +0000

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