Serra, maior Ministro da Saúde da história deste país, vinga - TopicsExpress



          

Serra, maior Ministro da Saúde da história deste país, vinga médico do interior e trai Madame Bovary! Perdão àqueles amigos, leitores ou não, que me tomam por hermético nos comentários políticos, sobretudo nos artigos publicados no blog e reproduzidos no facebook. Entretanto, ainda que desprovido de açaís ou besouros imantados no texto que segue, como não ser um tanto djavânico diante da declaração feita pelo autointitulado maior gestor de saúde pública de todos os tempos? Atenção nas aspas! “Me desculpem as mulheres, porque é mais complexo que isso, mas a madame Bovary queria ser aceita pelo outro. Ela vai à loucura, quebra a família, trai o marido com Deus e o mundo para ser aceita. E o PSDB tem um pouco de bovarismo, de precisar ser aceito pelo PT”. A contundente observação sobre o seu partido foi feita no decorrer de uma palestra proferida na última semana pelo ex-governador de São Paulo, filho de feirante da Mooca, aquele que fez questão de aparecer abraçado a Lula no primeiro filme da campanha presidencial de 2010 – vote no Zé. O Mais Céticos, ousado programa recém-lançado pelo blogdogico, foi, após as intrigantes palavras do prócer tucano, contemplado com um tonitruante muxoxo, nada menos que um Tsc, Tsc, Tsc que vem ecoando do Oiapoque ao Chuí. Será que o partido quer quebrar a família acabando com a famosa bolsa instituída por seu ídolo e guru? Realçadas pelo bovarismo explícito, o original francês conduzido às margens do baixo Sena, a nova aventura do velho candidato busca que as águas turvas do Tietê subam às alterosas por ameaçadoras eclusas. Não, não se trata de bolivarismo, grafia errada ou opcional de bolivarianismo como um incauto apolítico poderia supor, religião que tem Simon Bolívar como deus e Chávez o seu profeta e mártir. Ou vice-versa. Frente a tamanho contrassenso, não tenho como não discorrer sobre a personagem título do romance de Gustave Flaubert, personalidade onde também fui buscar inspiração para uma de minhas personagens mais queridas – Débora, uma das jovens casadoiras de As Flores do Tenentismo. A exemplo de Emma, tal flor era leitora assídua de romances do século XIX, sempre apaixonada por elegantes heróis fardados – leia o trecho abaixo e reserve o seu exemplar aqui. Ou adquira a obra nas boas livrarias. Flaubert dissertara sobre traição conjugal, mas como não torcer contra a relação insípida entre a sonhadora Emma e Carlos, o ingênuo médico de província que se recusava a enxergar o óbvio? Chegara a se tocar por debaixo da calcinha em certos trechos em que Emma ia ter com o amante, Rodolfo, quando compreendera que havia algo mais entre elas do que a condição de devoradora de romances de cunho sentimental, onde os grandes personagens masculinos costumavam ser garbosos militares. Por conta das consequências imediatas dessas passagens, nem conseguira comungar no domingo que acabara de deixar a folhinha, o que causara estranheza aos seus companheiros habituais da missa das nove. Conscientemente, apesar de possíveis cobranças, resolvera não engrossar a fila da hóstia. Mas como externar a falta ao confessor que a vira nascer, que conhecia a sua voz e que sempre costumara punir os pequenos deslizes da sua alma com meia dúzia de ave-marias? Por este motivo, e não por temer a classificação e a natural penitência relativa ao novo pecado, compareceria à Igreja de São Joaquim, no final da tarde. Mas e depois? Não tornaria a cair em tentação, a pecar? Poderia confessar isso, que se descobrira uma pecadora contumaz, incapaz de se emendar? Decerto que não. Como levaria o problema a um padre apto a lhe dar a absolvição ainda naquele dia, resolveu, enfim, prosseguir com a leitura. Débora não conseguia se concentrar na trama. Embora conseguisse ver-se transportada ora para a propriedade de Rodolfo, o amante, ora para o jardim da casa de Emma Bovary, Débora entregava-se a Felício, vestido de azul, com a infame plaquinha no quepe. Em vez de graciosos tílburis ou elegantes carruagens, bondes trafegavam nos campos da Normandia. Em vez de bucólicas trilhas próximas ao baixo curso do Sena, trilhos cortavam a sua mente. A grande diferença entre Débora e Emma era a valentia sentimental da segunda, em contraste com a covardia travestida de princípios da primeira. Embora separadas por realidade e ficção, além de umas boas décadas no tempo, ambas viveram e viviam a mesmíssima fantasia. As duas foram seduzidas por bailes, roupas, valsas, varandas e ponches, itens próprios dos autores românticos. Esses eventos tipicamente europeus, trazidos ao Rio de Janeiro e ao século XX na primeira classe dos transatlânticos, simbolizavam a preferência da maioria das amigas pelos trajes de gala; com seus dólmãs, dragonas e espadins. Naturalmente adaptada ao presente, Débora via-se como a personagem de Flaubert nas primeiras páginas do romance, prestes a viver um grande amor proibido, mas ainda presa às convenções criadas e mantidas se não por laços matrimoniais, por utópicas amarras adolescentes. Descendo a Serra, ele que me desculpe, mas Emma não queria ser aceita. Desejava, sim, fugir da mesmice para viver uma vida que não a sua, monótona e provinciana. Traiu a memória da personagem, pois, se fosse possível, madame ofereceria o marido ao Mais Médicos da Normandia em prol de um amante cosmopolita, talvez parisiense, mas não cubano. Emma rejeitaria ser casada com um velho do DEM ou PPS, bons partidos que, ao contrário do médico traído, mesmo jurando fidelidade, só pensam em emmancipação. Tudo indica que, nesse emmaranhado de partidos, o PSDB vá emmagrecer. Verdadeiramente emmasculado na direção de Emma, a agremiação política poderá sobreviver, mas – o Ministério da Saúde adverte - toda cautela será pouca com o estoque tucano de arsênico.
Posted on: Wed, 13 Nov 2013 18:50:29 +0000

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