“Será que vou conseguir beijar novamente?”, indaga a amiga, recém-egressa de um relacionamento. O pesar existe, como não, mas ela prefere envolver a hesitação, esperada em quem deixa de ser dois, no bom humor característico, apesar da dor, perceptível no opaco dos olhos. Sua dúvida esbarrou na minha própria descrença, essa cobra, ora armada, ora rasteira e distante, a nos espreitar vida afora. Num lampejo, recordei o trânsito das estações no hemisfério norte. Que espanto. E que deslumbre. Vi folhas e mais folhas caírem como chuva. Douradas. Desprendidas. Amantes do vento. Como devem ser. Obedientes aos mandos de uma ordem maior, dão as costas para galhos esturricados feito cadáveres em brasa. E seguem. “Não voltarão a ser o que eram”, eu pensava e temia. Pois a primavera chegou trazendo o verde e a abundância. Amiga, tens a resposta para a sua pergunta agora? (Raphaela De Campos Mello)
Posted on: Wed, 04 Sep 2013 22:58:07 +0000
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