Sete pecados capitais. André Bernardo - TopicsExpress



          

Sete pecados capitais. André Bernardo Orgulho Geradora e ditadora dos vícios capitais, a soberba é considerada a pior entre os pecados capitais. Conforme uma tradição antiga do povo da Bíblia, nos primórdios dos tempos, Deus criou os anjos – seres espirituais, dotados de inteligência e vontade, que superam em perfeição todas as criaturas visíveis. Um deles, porém, se voltou contra o seu Criador. Por livre e espontânea vontade, Lúcifer (“aquele que carrega a luz”) se recusou a servir a Deus e, por esse motivo, liderou uma rebelião. Lúcifer foi combatido e derrotado. Não satisfeito, ainda induziu Adão e Eva a cometerem o pecado original: “No dia em que comerdes da árvore, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus” (Gn 3,5). Lúcifer não queria servir a Deus. Muito pelo contrário. Ele queria ser Deus. Foi o pecado da soberba que levou “um modelo perfeito, cheio de sabedoria, a perfeita beleza” (Ez 28,12) a se rebelar contra Deus. E pior: que levou nossos primeiros pais a desobedecerem a vontade de Deus, comerem do fruto da árvore do Bem e do Mal e serem expulsos do Paraíso. Para o papa São Gregório Magno (540-604), mais do que apenas um pecado capital, a soberba é a mãe e a rainha de todos os pecados. “Quando a soberba venceu um coração que se rendeu, imediatamente o entrega, para devastá-lo, a estes sete vícios principais, que são como chefes dos quais nascem multidões de outros vícios”, escreveu o 64o papa da Igreja Católica, em Moralia. Já São Tomás de Aquino (1225-1274) situa a soberba fora e acima da lista dos vícios capitais, por considerá-lo um pecado, por assim dizer, “supracapital”, ou seja, fora da série. “A soberba geralmente é considerada como mãe de todos os vícios e, em dependência dela, se situam os sete vícios capitais, dentre os quais a vaidade é o que lhe é mais próximo: pois a vaidade visa manifestar a excelência pretendida pela soberba e, portanto, todas as filhas da vaidade têm afinidade com a soberba”, salienta o teólogo dominicano de Aquino, livro em De malo (Sobre mal – Suma teológica). Adão não foi o único a ser condenado pelo crime da soberba. Na mitologia grega, Prometeu recebeu semelhante punição. Transformado em tragédia grega pelo poeta Ésquilo entre 452 e 459 a.C., Prometeu foi submetido à pena de ficar acorrentado, por 30 mil anos, a um penhasco do monte Cáucaso, onde um abutre devoraria, dia e noite, seu fígado. Seu delito? Ter contrariado a vontade de Zeus, o todo-poderoso deus do Olimpo, roubado o fogo eterno e dá-lo, de presente, aos homens. Mais do que um ato de bondade, Prometeu queria, com tal façanha, atingir o conhecimento e a imortalidade por conta própria. “E como o fígado é um órgão que se recompõe, o tormento escolhido para Prometeu seria interminável”, salienta o escritor Affonso Romano de Sant’Anna, autor de obras-primas da literatura, como De que ri a Mona Lisa?, Fizemos bem em resistir e A vida por viver. Um pecado, muitos nomes − Ao longo dos séculos, o maior entre os pecados capitais passou a ser chamado pelos mais diferentes nomes: orgulho, vaidade, arrogância, prepotência, altivez, presunção, vanglória, jactância, egocentrismo… Sobre o orgulho, Santo Agostinho (354-430) já preveniu: “O orgulho não é grandeza e sim inchaço. E o que está inchado parece grande, mas não é saudável”. O santo que mais combateu o pecado da soberba, no entanto, parece ter sido São Paulo, Apóstolo (5-67). Em epístola escrita à comunidade de Corinto, São Paulo lembra que “a nossa capacidade vem de Deus” (2Cor 3,5). Aos romanos, ele aconselha: “Ninguém faça de si uma ideia muito elevada, mas tenha de si uma justa estima, de acordo com o bom-senso e conforme a medida da fé que Deus deu a cada um” (Rm 12,3). Aos gálatas, recomenda: “Se alguém julga ser uma pessoa importante, quando na verdade não é nada, está se iludindo a si mesmo” (Gl 6,3). Para o escritor João Baptista Herkenhoff, autor de Os novos pecados capitais, a soberba leva o ser humano a desprezar o próximo e a se considerar acima dos demais: “O soberbo atribui a si todos os méritos, e sua alma é alimentada por um contínuo sentimento de grandeza. A soberba tem relação direta com a ambição desmedida, seja pelo poder, seja pelo dinheiro”. A soberba parecer ser o pecado favorito de dez entre dez tiranos, como Napoleão Bonaparte, Maria Antonieta e Adolf Hitler. Mas, nenhum se igualou a Alexandre III. Num ímpeto de prepotência, o rei da Macedônia, que viveu no século 4o a.C. e dominou um território que ia da Europa até a Índia, se proclamou “Alexandre, o Grande”. “O ‘pecado social da soberba’ suplanta em dano e perigo o ‘pecado individual da soberba’. A mais grave expressão de orgulho é a soberba imperialista”, alerta João Herkenhoff. Humilde de coração − Na opinião de Lina Boff, doutora em Teologia, o orgulho é quase uma exceção da regra. Segundo ela, o Dicionário Aurélio dá um conceito positivo desta palavra. “No dicionário, orgulho é ter sentimento de dignidade pessoal, é ter brio, altivez nas coisas que a gente realiza em benefício ou junto com os outros”, descreve a professora do Departamento de Teologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC), do Rio de Janeiro. “Aquilo de que se tem orgulho é a excelência, o conceito elevado que se tem de si próprio e dos outros”, completa Lina Boff. A Sagrada Escritura evidencia duas faces positivas do orgulho: o orgulho de Jesus Cristo, quando se proclama Filho de Deus: “Sim, vós me conheceis, e sabeis de onde eu sou?” (Jo 7,28); e o orgulho apostólico de quem crê em Jesus Cristo e anuncia a sua ressurreição: “Nós também temos fé e, por isso, falamos” (2Cor 4,13). Se a soberba é o pior dos pecados, a humildade é a maior das virtudes. A palavra húmus, em latim humus, que deu origem à humildade, significa “filhos da terra”. Nesse aspecto, Jesus Cristo pode ser considerado a personificação máxima da humildade. “Tomai sobre vós o meu jugo e sede discípulos meus, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vós. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,29). No Evangelho de São Lucas, Jesus alerta os discípulos para o perigo da soberba ao contar para eles a parábola do fariseu e do cobrador de impostos. Enquanto o primeiro, de pé, agradece a Deus por não ser como os outros, ladrões, desonestos e adúlteros; o segundo, que nem se atrevia a levantar os olhos, pedia perdão a Deus por ser pecador. “Quem se exalta será humilhado; e quem se humilha será exaltado”, concluiu (Lc 18,14). Site Revista Familia Cristã
Posted on: Wed, 06 Nov 2013 11:10:48 +0000

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