Sobre os Médicos... Vamos voltar depois de uma pausa breve sem - TopicsExpress



          

Sobre os Médicos... Vamos voltar depois de uma pausa breve sem internet... Não sou nem nunca fui contra os médicos estrangeiros, apesar dos meus milhões de "poréns". Sou e fui muito contra os argumentos favoráveis ao programa "mais médicos" e isto precisa ser diferenciado. Porque sou a favor dos médicos virem: há um problema concreto, a falta de medicos em regiões carentes, que a vinda deles é uma tentativa de resolução, ainda que parcial, momentânea e insuficiente para o combate do problema. Fechar esta porta me parece sectarismo que não leva a lugar nenhum. Mas quais os argumentos que não concordo (pelo menos os principais deles, não todos para não alongar demais): 1 - O problema é de falta de médicos porque a classe médica tem má vontade, mercantiliza a profissão e tem mentalidade de classe média. Este é o argumento mais tosco de todos. Em primeiro lugar, por inventar uma contradição entre profissionalismo (o que envolve salário, condições de trabalho e carreira, por exemplo) e vocação (desejo de ajudar o outro, solidariedade, envolvimento com a dor e com o sofrimento alheios...). Que pode ter muitos médicos que só pensam no lado profissional e deixam a vocação de lado, sim, mas não é para se transformar o quadro interiro nisso. No geral, é o profissional que traz consigo o vocacionado e uma retroalimenta o outro, como ocorre também no magistério e em outras profissões. Tirar o profissional de cena recoloca em campo o filantropo, cujos interesses normalmente são menos o "amor ao próximo" ou "a solidariedade" do que o proselitismo ou a propaganda política. O Estado não existe para promover a filantropia, mas para garantir a cidadania. 2 - Não há um problema de estrutura, pois os hospitais têm crescido em estrutura e a oferta de médicos não acompanha. Por um lado é verdade, há alguns melhores e mais bem equipados hospitais no interior, mas além de ainda não serem suficientes para suprirem uma carência e uma demanda imensas, não é só disso que se fala quando o negócio é estrutura. Em primeiro lugar, estrutura supõe uma certa logística regional. O município é a célula mestra do SUS, mas o tecido é uma rede que precisa funcionar. É preciso ter um olhar estratégico regional e articular melhor os aparelhos entre as cidades próximas para dividir as atividades e os seus níveis de complexidade. Mas para isso acontecer, é preciso unir gestão e recursos, além de coisas que vão para além da saúde, como estradas em boas condições e fácil mobilidade. Isso nos leva a um segundo problema estrutural: um(a) médico(a) não se muda para um hospital ou para um posto de saúde, mas para uma cidade. Não adianta a cidade dar condições (quando dá...) para ele(a) trabalhar e não dar para ele(a) viver. Uma pergunta que todo mundo que tem família se faz antes de se mudar de cidade (eu me mudei em família duas vezes e as fiz): vai ter oportunidade de trabalho para minha esposa/meu marido? Vai ser um bom lugar para criar o(s) meu(s) filho(s)? Tem escola boa lá? Nós vamos ter o que fazer? Sim, pois, quando se sai da pura filantropia ou da profissão como militância religiosa/ideológica, estas coisas que tomam cada unzinho de nós também devem ter efeito sobre as famílias de médicos. 3 - A resistência ao programa só se explica em termos ideológicos ou corporativistas e todo o debate é, portanto, ridículo, os opositores são egoístas e reacionários. O problema é que o governo é do PT e envolve Cuba... Quando o Serra era ministro, trouxe os médicos também e a Veja até elogiou. Estes argumentos são toscos por si só, pois apelam para o ad personam e, principalmente, evitam os argumentos sérios que existem do outro lado, transformando tudo em uma disputa do bem contra o mal, mais ou menos como em desenhos que passavam no Show da Xuxa. 4 - Os médicos estrangeiros são bem formados. Provavelmente são, mas isso não deveria impedir de passarem pelo Revalida. Pelo contrário, deveria haver uma negociação com as universidades brasileiras para que se fizesse um esforço amplo de agilização desses processos, envolvendo, inclusive, o Conselho Nacional de Medicina, contra o qual, ao invés de negocial, o governo lançou fogo. Eu não acredito em polpiticas que pulam a negociação com os agentes do processo. E os médicos brasileiros são agentes número 1 da saúde no Brasil e, mesmo com o "Mais Médicos", continuarão sendo.
Posted on: Thu, 29 Aug 2013 10:10:12 +0000

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