Solidão A Dois Aconteceu a algumas décadas atrás, mas quando recordo o momento, ainda me lembro daquela sensação: meus pais se separaram e aquela era a primeira vez que saia de férias só com meu pai. Fomos para Guarapari, praia, e minhas primas viviam ali. Eu creio que tinha 6 anos ( minha memória já não é tão boa assim…), eu sempre amei nadar. Uma tarde estávamos dentro da agua, e acabamos brigando por causa de uma prancha de bodyboard. Eu disse que ia embora, e pensei haver marcado bem a direção de onde meu pai estava sentado, pela cor do guarda-sol, e sai pisando alto, toda cheia de mim. Mas o mar me pregou uma peça, e já tinha me levado para longe do rumo certo. Quando cheguei na areia, percebi que estava perdida. Fiquei caminhando sem rumo por alguns minutos, e o desespero ao perceber que estava sozinha me fez começar a gritar e correr. Veja como não podemos tomar decisões por impulso, nem por raiva. Quando eu decidi parar, eu já nem sabia para onde voltar, e comecei a chorar. Senti que uma mão me pegavam pelo braço, e uma mulher desconhecida me abraçava. Um casal me aparou, me embrulhou com uma toalha. Eu não entendia nada que eles falavam, mas o simples fato de já não estar sozinha, de ter alguém que cuidava de mim, já me confortava. Eles já estavam me colocando dentro de um carro, quando eu ouvi a voz do meu pai gritando por mim. Eu sai correndo em direção a ele. Eu ouvi muitas vezes essa história: um casal de suíços que quase me “roubaram”. Mas o que realmente me lembro bem foi da sensação de abandono daqueles minutos. Na semana passada estava entrevistando as candidatas do Rush do Godllywood. Quando falava com uma que tem 11 anos, lhe perguntei o que ela mudaria em sua família. E foi a resposta dela que me levou a lembrar dessa sensação ruim que tive – “Eu não ficaria mais sozinha”, foi a resposta dela. Ela tem pai, mãe e dois irmãos, vive junto com os quatro, mas convive diariamente com essa sensação. Creio que um dos piores medos do ser humano é estar só. Todos querem fugir do vazio, do silêncio. Mas pior ainda é a “solidão acompanhada”. Quer dizer – fisicamente falando, existe um outro ser ao seu lado, ocupando um espaço, mas o buraco negro segue te incomodando. Falta atenção, apoio, carinho, saber que você faz parte da vida de alguém, e que você faz a diferença na vida das pessoas. E quando se trata de uma criança, ela não consegue decifrar tudo isso, nem expressar com palavras, como eu tento agora fazer aqui neste texto, transferindo o olhar daquela menina de 11 anos que se esforçou tanto para ser aprovada ( e foi ). Se você entende o que estou falando, dê uma olhadinha a sua volta. Saia desse círculo vicioso em que o mundo insiste em nos colocar, em olhar só para o próprio umbigo. Comece a observar as pessoas a sua volta. Certamente você pode dar um fim a “solidão a dois” que muitas pessoas vivem. Cristiane Cardoso.
Posted on: Thu, 18 Jul 2013 18:43:00 +0000