TEXTO SOBRE O DIA 22-06-13 MANIFESTAÇÃO SALVADOR: Heron - TopicsExpress



          

TEXTO SOBRE O DIA 22-06-13 MANIFESTAÇÃO SALVADOR: Heron Sena Balanço de hoje: Fomos presos por conta do nosso precavimento e paz. Quando a "guerrilha" começou, simplesmente pusemos as máscaras anti-gás, cobrimos nosso corpo e colocamos óculos de nadar. Mantivemos uma tranquilidade assustadora. O lacrimogêneo não afetava mais o emocional e pelo que pareceu, nem as balas de borracha. Bastou um confronto para uma leve adaptação. A guarnições até passaram por nós. O dobro da cavalaria, o triplo da choque e munição mais moderna. Assistimos tudo bem do meio, procurando pontos neutros, nos escondendo atrás do monumento central da praça. Estratégias quase perfeitas para pegarmos bons ângulos de filmagem. Nos deslocamos, fomos na frente do shopping onde a covardia foi intensa. Fui alvo de balas de borracha sem sucesso por está gritando pela paz, apertando o juízo deles com o discurso do movimento. Quando tudo parecia ter se estabilizado fomos abordados porque estávamos tranquilos, apesar dos atos de covardia que vimos, usando o celular na frente de um banco. Filmando e conversando sobre o fato bem em frente à convulsão social, escutando a gritaria dos espremidos no estacionamento do Iguatemi, o descontrole dos comandantes, contabilizando as explosões. Apenas falávamos com uma amiga ao telefone. Os policiais com armas de fogo em riste não encontraram indícios incriminantes mas preferiram manter a arbitrariedade de nos deter. Precisavam de bodes expiatórios para entregar aos superiores e "cumprir" sua missão. Foram indivíduos grosseiros, com muita adrenalina e raiva no coração, que esperavam brechas para descontar palavrões e frases agressivas. Quando nos coagiram a ir pro chão simplesmente sentei em posição de lótus enquanto o companheiro Klaus, como um leão de fogo argumentava. Nos levaram sem ouvir uma palavra minha, uma rechaça. A população que viu nos concedeu um aplauso sério. Revigorante. A primeira palavra que eu disse quando tentaram nos acarear foi: "Vamos falar um de cada vez por favor!" Obedeceram. Com o olhar pacato e efervescente mostrei a eles que estava de certa forma disposto a ver onde ia chegar aquilo tudo, sentir a verdade. Acharam coerente nos levar em algum momento para a 10ª DP. Dentro da viatura nos mantiveram em torno de uma hora. Parados, enquanto do lado de fora jovens menores e maiores eram coagidos a se assumir vândalos, a contar de um a 10 alto, e pasmem, foram obrigados a gritar em voz alta que a Policia Militar da Bahia é séria. Eu, Klaus, dois menores, um funcionário do Iguatemi espancado, mais outro estudante dando crises claustrofóbicas e de raiva; dentro da viatura minúscula, do calor, do lodo, conversando serenamente e até rindo em contraposição ao clima tenso e fardado do lado de fora. No ambiente suado e engordurado por trás das grades e da alternância de luz azul e vermelha eu os via e ouvia. Animais selvagens e animais adestrados tentando arranjar sentido para o trabalho que exercem. Tentando nos por goela a baixo que éramos vândalos. E tateando no vento fundamentos legais. Enquanto isso rumo as ruas do Caminho das Árvores passavam ônibus e mais ônibus de alienados ricos, voltando do jogo, vestidos com camisa da seleção, indo para algum hotel, aplaudindo o trabalho da polícia. Curtindo a vitória do Brasil. Seria uma grande decepção para mim se não houvessem algumas poucas pessoas da Manifestação do lado fora pressionando para que nos liberassem. "É Heron e a galera da Escola de Teatro!" Mais alguns minutos no camburão. Quando a viatura já estava se arrastando para ir embora perguntam quem era Heron. Eu e mais outro indivíduo nos manifestamos. Só eu tive o prazer de ser solto. Tudo isso graças a astúcia concedida a Klaus para argumentar por mim. Porque eu estava com um paz sólida, me preparando para receber o pior em silêncio para transmiti-lo com vivacidade depois. No ultimo diálogo com os milicos eu disse firme que estava em paz e recebi como resposta: "Mas nós não estamos em paz." E as viaturas partiram... Livres, eu, Klaus e uma senhora socióloga, bebemos uma cerveja e sorridentes aspiramos pela próxima Movimentação, pois dentre todas as partes dessa história pairou um consenso de que o movimento não pára mais.
Posted on: Sun, 23 Jun 2013 15:16:05 +0000

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