TREINO CAIPIRA - MANUELA E EU ( Continuação de sábado 14/09, - TopicsExpress



          

TREINO CAIPIRA - MANUELA E EU ( Continuação de sábado 14/09, ainda no Capítulo I ) ------------------------------------------------------------------------------------------- Bom mesmo é você estar o tempo todo ao lado de uma pessoa que ama sabendo que ela está totalmente ali, além de seu próprio corpo. Que você e ela sejam apenas uma pessoa. Um só amor. O contrário é a dor, a desesperança, a frustração...a desilusão - Eu estava pensando nela. - conclui. - Ó meu Deus...para quê essa intromissão desnecessária em meus pensamentos. Para quê isso agora. - contestei-me chateado. Eu não deveria pensar em mais nada além do treino com Manuela. Mas ela, a imagem, me assombrava, me cutucava com força, até que veio-me naquela hora e então tudo mais em mim se embaralhou. Meu coração palpitou descompassado. Eu estava tendo um troço qualquer. Um gosto amargo de derrota se fez presente em minha boca, e momentos terríveis me abraçaram, momentos de dores, traições, desencantamentos, indiferenças e desprezo, e então senti uma terrível frieza. Era tudo que ela me lembrava. Sentia-me como um saco sendo arrastado por uma carroça já cheia de lixo que deixou-me cair preso por um fino arame enferrujado que me arrastava, mas que logo arrebentaria deixando-me para sempre no meio do caminho da estrada deserta. Quanta dor, veio-me nessa intromissão pensante, espontânea em meio aos meus pensamentos bons que eu curtia com minha netinha Manuela, naquele treino bom. - Eu ainda a amava. - conclui, totalmente desconcertado, ainda que por só alguns uns segundos. Mas foi o tempo que me bastou para, por uns segundos apenas, meu coração descarregasse como uma pilha morta. E então, assim, como uma pilha morta comecei a lembrar-me do tempo bom que com ela passei. Poucos foram os momentos bons em minha vida com ela. Eram só uma lembranças fantasmagóricas que me assombrariam por muito tempo ainda. Pilha descarregada, como sempre fui, eu era isso em seu coração. De repente uma revoada de pardais barulhentos cortou-me o pensamento mórbido e me trouxe de novo à vida. Reforcei então meu ninho interior e recompus-me, rebusquei-me interiormente para fortalecer-me. Afinal de contas, pensei, estávamos com nossos pés sobre uma Terra de 4 bilhões e meio de anos de idade. Distantes do sol cento e cinquenta milhões de quilômetros, e ainda estávamos vivos. A vida continuava. E assim, embalados pelo finalzinho do som pauleira de Thelma, entramos na rua de pedras da primeira cidadezinha que alcançamos. Pisamos na primeira pedra de moleque e ladeamos a igrejinha de uma só torre com seu sino de bronze brilhante, e caímos para a esquerda descendo uma pirambeira que contornava a cidadezinha. Lá do fundo da cidadezinha víamos toda a alameda que nos levaria ao topo da igreja. E ali treinamos um pouco numa ladeira só de pedras alternadas e muito íngreme que nos levava até a porta de madeira antiga da igrejinha. - Vovô...estou com sono. - pediu-me. - Deita aqui em meus braços, querida...eu te levo. A tarde já vinha caindo. Manuela e eu tínhamos dado a Largada do treino por volta de oito horas da manhã de algum tempo atrás. Mas, assim como caía a tarde, caiam os olhinhos de Manuela nos meus. - Nós seremos bons amigos para sempre. - pensei enquanto olhava ela dormindo em meu colo, e eu com ela corria balançando os pequeninos tênis, presentes do tio Nike. E com o mundo girando ao nosso redor, nossas sombras se alternavam de acordo com a posição final do que restava do sol por trás da serra. Corríamos as montanhas ziguezagueando e subindo em curva de nível. Procedimento elementar na topografia para se subir morros. - Vovô...aquilo é uma fazenda...vamos até lá... Manuela que acabara de acordar pulou para o chão e se encantara com umas oitenta cabeças de gado que atravancavam nosso caminho, reagrupadas para a ordenha noturna. Com nossa investida elas se espalharam, e ao passarmos, se reagruparam de novo atrás de nós, assim como fazem os búfalos com os leões que os atacam em vão, e muitas das vezes fogem da caça. Manuela e eu apenas passamos e atravessamos a segunda porteira. estávamos em território de animais campestres. - Cobra...gritou, Manuela...lá - apontou...Vamos pular, vovô. Era uma surucucu toda preta de tamanho médio. Venenosa por demais mesmo. Mas pulamos a serpente. - Adeus dona cobra. -disse Manuela. - Adeus dona cobra. - repeti. Mas ainda a ouvimos responder: Ssssssssssssssssss. -Ficou toda empinada. Mas ainda não foi dessa vez que um príncipe virou um sapo. - pensei. - Sorte dela a minha foice estar guardada. - pensei de novo com os meus botões. Outro gole no GATORADE. - Molha o bico, Manuela. - Sim senhor, vovô. Já havíamos contornado a cidadezinha de São João da Serra. Lugarejo caipira. Interior do meu sertão aguado. - Meu caso encerrado de amor- matutei comigo mesmo. Era ela de novo desalinhando os meus pensamentos. - O que foi que disse, vovô! - perguntou curiosa, Manuela. - Nada, Manuela, apenas um diabinho no meu ouvido. Há de passar. Pois é só uma flor noturna sem rumo algum. Noite alta de prata. Larga madrugada. Abundância de estrelas no céu. Estrelas cadentes e decadentes. Natureza noturna. Sapos, cigarras, grilos e rãs. - Oba...as borboletas...ali tem umas, vô! São as últimas do dia, vovô! A estrada agora era só iluminada pela luz do Quarto crescente no céu escuro. Acesos, apenas os sóis dos lampiões. Uma luzinha aqui outra acolá. Agora era um treino noturno que se aproximava. O dia se extinguia, mas Manuela e eu não haveríamos de parar nunca. Não enquanto ela não estivesse preparada para ser campeã Olímpica. Mais uns quilômetros percorridos e um portão prateado de ferro se interpôs ao nosso caminho. -Vamos entrar? - Perguntei à Manuela. -Vamos, vovô! Más é que eu acabei de sair daí...acabei de nascer. - Mas é bom visitar a morte de vez em quando para saber-se vivo. E depois, só vamos libertar algumas almas boas e prender outras que não são tão boas assim. - Então vamos vovô...é para cá que o senhor virá? - perguntou-me. - Sim. - respondi secamente. Mas não sem antes vê-la campeã mundial de corrida. E entramos no Campo Santo. Não entramos lá por religião, mas sim por precaução. E já que o nosso negócio era correr, demos vinte e uma voltas no sentido horário em volta do Cruzeiro das Almas Benditas. E o que lá prendemos e o que lá desprendemos, as almas nos pediram que nada disséssemos para ninguém. Nem mesmo para um passarinho. E assim como lá entramos, de lá saímos rumo ao objetivo. Fechei com cuidado o portão de ferro e nos embrenhamos na escuridão da estrada. Estar ali com Manuela misturado em fantasia e vida real, naquela estrada noturna, correndo, era para mim o canto final do cisne. Meu canto final tanto desejado, tão procurado por toda a minha vida. O que mais poderia eu querer dessa amiguinha capa do meu facebook, olhos dos meus olhos, botão em flor que se oferece aos meus olhos corredores e caçadores de ilusões. O que posso eu querer mais? - perguntava-me! Então lembrei-me de uma canção e perguntei para Manuela se ela gostaria de cantar comigo fora do ritmo que imprimíamos no cascalho da madrugada. Uma cantiga de ninar. - Sim, vovô...vamos passar o tempo... E assim o compositor Byafra nos trouxe a fantasia real ali mesmo onde estávamos correndo, Manuela e eu. Fantasia Real Quem conhece os segredos da imaginação não se perde nem perde a razão não precisa dizer de onde tirou as idéias que deixa no chão quem passeia nos ventos que sopram do mar sabe que o tempo pode mudar pode ser calmaria pode ser temporal fantasia ou vida real Quem não tem um mal que não se espanta? De onde vem essa loucura santa? E quem sabe explicar, dizer o que é normal? Fantasia ou vida real? E quem sabe explicar, dizer o que é normal? Fantasia ou vida real? E com os espíritos livres, avançamos em busca do objetivo Olímpico e, fomos desta vez, sonhando acordado, pois a noite seria longa e precisaria ainda de muitas outras canções para passar o nosso tempo de corrida. (CONTINUA AMANHÃ - TERÇA FEIRA DIA 17/09- Logo pela manhã. (Obrigado aos meus leitores por me lerem.)
Posted on: Mon, 16 Sep 2013 20:50:45 +0000

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