Tema: Cuba e o discurso do prefeito e do governador. Trabalho em - TopicsExpress



          

Tema: Cuba e o discurso do prefeito e do governador. Trabalho em uma organização social (uma escola) que se propõe, em linhas bem gerais, a profissionalizar o pessoal que trabalha nas diversas áreas do teatro. Em fevereiro desse ano, o programa de intercâmbio da OS contemplou dois cubanos com bolsas de estudo de um ano por aqui. Contexto inútil. A questão toda é que, nas conversas que tive com um dos alunos, a Eugenia, pude perceber uma insatisfação enorme em relação a Cuba. Eram comentários que se aproximavam das ideias conservadores do pessoal daqui do Brasil, mas que, ironicamente, são de esquerda por lá (paradoxo recheado de humor sádico). Foi um exercício e tanto compreender que a insatisfação, afinal, existe em tudo quanto é lugar e que a concepção generalizada é a de que a existência sempre pode ser melhor, independente do sistema político no qual se está inserido. A luta é contínua, queridos. E cada um luta como pode, afinal, os problemas generalizados de todos os tempos estão sintetizados no momento presente e toda realidade é insuficiente (e fico aqui com a minha sensação de que o pior erro cometido pela raça humana foi ter descido das árvores e aprendido a se equilibrar sobre duas patas - ou, pra não ser tão radical, ter aprendido a cultivar a terra e decidido que o sedentarismo e a propriedade privada eram boas ideias). Deixando as digressões de lado, hoje aconteceu algo que me surpreendeu. Cerca de quatro meses após a chegada da Eugenia ao Brasil, o discurso que detestava o país de origem se tornou esse aqui (texto adaptado): "Kaio, os serviços de saúde deste país são um filme de terror, que pena, que vergonha para um país como este. Posso dizer que Cuba, meu país, é uma estrela, independente de qualquer conflito ideológico. Eu começo a amar o meu país quando vivo horrores como os que vivi ontem no hospital... Desculpa, só estou decepcionada... O melhor que um país pode ter para se sentir orgulhoso são os serviços de saúde e educação. Para que servem os demais, se esses não existem?! E me diz: para que serve globo?! Para que servem as propagandas políticas?! Para que servem os grandes supermercados, se pouquíssimas pessoas podem frequentá-los?! Para que serve?! Se não existem pessoas estudadas e com possibilidade ou liberdade, ou se não se sentem seguras por que amanha adoecem e não são bem atendidas em qualquer hospital, além de ficar em uma fila de cinco horas, para que serve?! Isso é a democracia? Não, acho que não..." Acaba de ser anunciada a redução da tarifa de ônibus e metrôs em São Paulo. A vitória é nossa, manifestar pressiona e os resultados são claros. Apesar disso, não podemos abaixar a guarda. A redução veio, mas já foi anunciado que haverá cortes orçamentários em outras áreas para atender essa reivindicação. Agora pensemos: um país com embargos econômicos gigantescos tem capacidade de oferecer serviços de qualidade para a população. Serviços que por lá, independente da sua concepção política, são considerados imprescindíveis. Educação e saúde públicas, no Brasil, se configuram como uma falácia arrogante que se pretende sólida (tal qual a do transporte que se pretende público e não é). Das duas uma, ou o investimento nas áreas essenciais é grande e ninguém consegue notar por que é cego, ou não existe. Se Cuba consegue, por que aqui, para reduzir o valor de 0,20 centavos no transporte público precário que está aí fora, temos que diminuir o investimento em áreas nas quais eles já são tão escassos que quase não se fazem notar? Cuba tem lá os seus problemas, e ninguém vai negar isso, mas está, em termos básicos, anos-luz à frente da nossa querida democracia não praticante em muitos aspectos. Isso torna claro o seguinte: não. Não é aceitável uma postura que afirma ser necessário retirar investimento de um lado para não reduzir o lucro de empresários do outro. Não é aceitável um investimento menor do que o pouco que já existe em áreas como educação e saúde. E temos exemplos claros de que isso acontece lá fora. Os relatos em relação à Europa estão pululando por aqui nos últimos dias, mas os senhores no poder insistem em dizer "mas espera, a Europa é outra realidade, não dá nem pra comparar". Não era o suficiente. Agora nós temos outro exemplo: cuba. Não tenho capacidade cognitiva pra reproduzir aqui os meandros retóricos que os conservadores porventura podem utilizar pra justificar por que em Cuba a situação é tão melhor do que no Brasil a ponto de indignar tanto alguém que veio de um país que toda a mídia insiste em demonizar. Tá em outro texto, mas serve pra cá também: "Deixo aqui, então, minha reflexão tardia e sua consequente tristeza. Fica também minha compreensão de que a luta não acaba, não fica mais fácil e que o debate ainda há de ser tão longo quanto a vida". A luta contra artifícios retóricos bizarros que buscam legitimar a exploração de todos ainda está longe de acabar. A reivindicação foi atendida, foi ouvida, mas as ameaças continuam. E nós também continuaremos. Como já disseram por aí, há aqueles que não dormem. Vamos continuar lutando. Temos que continuar lutando. Avante!
Posted on: Wed, 19 Jun 2013 21:51:00 +0000

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