UMA NOVELA POPULAR e facebookiana (em cinco capítulos) V (e - TopicsExpress



          

UMA NOVELA POPULAR e facebookiana (em cinco capítulos) V (e final) - A necrópsia A cidade que nunca tinha visto tanto doutor parou e a tudo assistiu estupefata. Logo cedo os automóveis chegaram. Vários. Da polícia. Do instituto médico legal. Do poder judiciário. Da capital. Médicos. Juiz. Delegado. Oficial de Justiça. Doutor advogado. João Carcereiro. Só os dois coveiros não eram da autoridade. Mas ali eram como se fossem. Sem eles a autoridade não resolve nada. O povo ficou de fora. Assistindo. Metade da cidade estava em frente ao cemitério. Até a Marlene do bar. O Zé do suco. A Sueli da coxinha. O Paulo pipoqueiro. Todos vendendo. Faturando. Lucrando até com a desgraça. Só pensam em dinheiro. Não seja chato. Deixa o pessoal ganhar a vida. O sol nasce pra todos. A fome e a sede também! O acontecimento vai durar a manhã inteira. Já se comenta que o juiz vai mandar prender. Ainda não se sabe quem. Mas que a perícia vai provar o culpado. Perícia é coisa séria. Feita por gente estudada. Que sabe tudo! O Juiz manda o oficial de justiça ler um papel. Depois pede pra todos assinarem outro papel. E dá a ordem. O nome é necrópsia. Essa é a palavra que o oficial leu. E o juiz falou! Não existe autópsia. Explicou professor Arthur. Professor no colégio estadual. Disse que morto não faz perícia. Por isso não é auto. Pouco importa o nome do desenterro! Lá dentro os coveiros começam o serviço. Aqui fora o professor Arthur dá aula. E diz que o desenterro se chama exumação. Necrópsia é o nome da perícia. Faz um calor danado. Lá dentro a água é de graça. Aqui fora a Marlene cobra o dobro do preço. Brás Tesoureiro vai recolhendo o dinheiro das apostas. Homem respeitado. Foi tesoureiro da prefeitura a vida toda. Muito honesto. Aposentado. Vai avisando que apostar no taxista paga pouco. Muita gente pra dividir. Pouca gente apostando na Iracema. Onofre quase briga. Ficou nervoso porque Geraldinho da sorveteria apostou na doméstica. Mulher do Onofre. Provocador o sorveteiro. Alguns apostam na mãe do Machadinho. Outros no amigo que se trancava com ele. Quebram o túmulo. Lá dentro todos usam máscaras. Aqui fora todos começam a suar. Uns de medo. Mexer em túmulo é coisa do demo! Com cuidado começam a cavar. Batem na madeira. Três vezes. Lá dentro estão todos em silêncio. Aqui fora não se ouve uma mosca. Desenterram o caixão. Sobem a urna. O juiz faz sinal com a cabeça. Autoriza a abertura. Falta pouco para o segredo ser revelado. Lá dentro a respiração ofegante dos coveiros. Aqui fora a batida de centenas de corações do povo. Lentamente o caixão é desparafusado. Lá dentro clima de apreensão. Aqui fora parece pênalti em decisão de copa do mundo. Mais alguns segundos. E uma 4x4 freia na porta do cemitério. A tampa vai ser retirada. O motorista grita. “Para tudo!” E entra com o papel na mão. Outro oficial de justiça. Ordem do tribunal. É ordem superior! Ninguém abre nada. Fecha e enterra. A cidade que nunca tinha visto tanto doutor parou e a tudo assistiu estupefata. Luiz Carlos Schroeder
Posted on: Thu, 18 Jul 2013 12:17:32 +0000

Trending Topics




© 2015