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Um relato de transformação e esperança na conversa que O PAÍS manteve com Paulo Pombolo, Governador da Província do Uíge, no seu gabinete. Que permitiu descobrir uma nova terra, onde ainda centenas de crianças têm de cruzar todos os dias a fronteira em busca do saber que ilumina em escolas do vizinho Congo Democrático, mas as melhorias na paisagem são para que nenhum visitante as ignore: na cidade capital, ruas e avenidas sem mais as crateras e a poeira lunar de outros tempos, porque servidas agora por novíssimo tapete asfáltico; passeios recuperados com o mesmo espírito e iluminação nocturna que dá razão àqueles que defenderam a pertinência de Capanda. Até o mítico sabor da Bangola do Norte, a DUSOL, pode estar a caminho, numa estratégia de relançamento da agro-indústria que, bem sucedida, recolocaria o território no topo da produção alimentar em Angola. Não tem um ano que Paulo Pombolo recebeu a missão de dirigir os destinos do Uíge. Ali nasceu e ali se lançou para a vida, escolhendo a política como via. O trabalho com os jovens seduziu-o mais que qualquer outro esforço, acabando por ligar o seu nome à liderança da juventude do MPLA. Andou nisso anos seguidos, revezando a rotina das reuniões com as arengas de campo, de olho na mobilização permanente dos jovens, a um mesmo tempo viveiros de quadros e quota apetecível das contas de somar em desafios eleitorais. Agora é pelo Uíge, o seu resgate de um quase entorpecimento de décadas, que passam os seus dias. E a herança, naquele escaldante declinar de 2010, não foi propriamente o que se poderia chamar de “sorte grande”. Milhares de compatriotas tinham chegado ao território da província em situação calamitosa, expulsos sem contempla- ções pelas autoridades do velho país de acolhimento, a RDC. Muitos deles traziam como único tesouro a roupa do corpo. Viu-se mergulhado nesse drama perturbador, sofreu com eles, os sem nada, e hoje, à distância de um ano, faz todo o sentido que as lembranças comecem por ali: Em Outubro de 2010 a província do Uíge foi confrontada com o problema de ter de receber, em situação de emergência, milhares de compatriotas expulsos da vizinha República Democrática do Congo. Onde é que eles estão agora? Totalmente reintegrados ou nem por isso? O Uíge recebeu aproximadamente 25 mil cidadãos, da maneira inesperada que todos conhecemos. Foram distribuídos por 7 município. A estratégia adoptada foi recebê-los em termos de acomodação das famílias, mas também a sua reintegração social, fundamentalmente. Dos 25 mil, houve quem não ficou na província mas a grande maioria permaneceu aqui. Os que saíram para outras regiões foram à procura de melhores condições em termos profissionais ou de emprego. Os que ficaram estão sob o nosso controlo, através da Direcção provincial da Reinserção Social, que tem estado a apoia-los quer em termos de meios alimentares como também tem estado a ajudar na criação de condições para a sua reintegração. Posso dizer que no levantamento feito no seio desses 25 mil, vieram vários profissionais – desde médicos a professores, carpinteiros, pedreiros, etc. – e que a Direcção da Reinserção Social eoprópriogovernoprovincial procuraram integrar esses cidadãos em vários projectos e programas em curso a nível da nossa província. Aqueles que não têm alguma profissão de realce foram aproveitados para o desenvolvimento da agricultura, porque as administrações municipais prepararam terrenos, prepararam terras, com o apoio das EDAs (Estações de Desenvolvimento Agrícola), e muitos deles hoje têm estado a participar no domínio da agricultura, criando propriedades próprias. Estivemos recentemente no Lucunga (município do Bembe) onde temos quase 15% da população que chegou da RDC, a maior parte está instalada, acomodada, e aqueles que sabiam de alguma profissão e que encontraram essa possibilidade de enquadramento a nível do Lucunga e do Bembe, hoje estão a trabalhar. A direcção provincial da RS criou também algumas oportunidades em termos de emprego através de escolas A guerra criou-nos dificuldades enormes ao nível da circulação das pessoas e bens; há rios de grande dimen- são cujas pontes foram partidas e hoje não é fácil transitar de um lado para outrosocioprofissionais das várias carreiras existentes como carpintaria, electricidade, corte e costura, culinária... Podemos hoje dizer que aquela situação que se previa na altura quando recebemos esta avalanche de compatriotas, hoje está mais ou menos resolvida e agora estamos a nos preparar para receber um segundo grupo este já vem de forma voluntária, as condições estão a ser criadas com a participação tbem da OIM e o Governo Central através do MINARS, temos já praticamente criadas as condições na fronteira com o Congo Democrático na zona de Kimbata onde montamos um acampamento de transição (as pessoas chegam, são acomodadas, há o registo, as vacinas, tudo isso, e depois são encaminhadas para as zonas que eles escolherem como destino final , os lugares onde pretenderem se instalar). Temos uma comissão provincial que está a liderar esse processo coordenada pela vice governadora para a área social e integrada por vários directores e que tem estado frequentemente no local em Maquela do Zombo para acompanhar o trabalho que está sendo feito. Temos o apoio da administração municipal, das forças armadas, do Ministério do Interior e pensamos que logo que se accionar o mecanismo para começarmos a receber esses nossos compatriotas, não haverá assim tanta dificuldades para que ocorra tambem a mesma estabilidade que tivemos com o primeiro grupo. Depois desse acto claramente inamistoso da RDC, que foi a expulsão de milhares de compatriotas nossos que tinham vidas de 20, 30 e até 50 anos feitas do lado de lá, como é que estão hoje as relações com as autoridades das regiões fronteiriças? Pelo menos do lado de Angola a situação foi gerida de forma inteligente e cuidadosa; penso que não criou nenhum abalo, as relações continuam amenas em termos de contactos na região fronteiriça, os nossos camaradas que lá se encontram – fundamentalmente o Serviço de Migração, a Polícia de Guarda Fronteira, têm trabalhado de forma normal, tem havido sempre a colaboração esperada, nada de mais. Acrescente-se a isso o facto de a nossa administração municipal a nível de Maquela do Zombo que tem estado à altura de corresponder com as orientações que recebem quer do governo provincial como das estruturas centrais. Em resumo, não houve grandes problemas ao nível das relações bilaterais mas isso tudo deveu-se à liderança forte que temos no país, que soube encarar o problema com muita serenidade e ter orientado as estruturas todas a trabalharem para que conseguíssemos de facto primeiro instalar os nossos compatriotas, inseri-los na sociedade normalmente e não, digamos assim, responder a determinadas provocações, que poderiam ter criado outro tipo de situações entre os dois países. O camarada Presidente tem sido essa figura que Angola tem e que nos momentos críticos como esse, que tivemos no ano passado, consegue contornar as situações e dar uma orientação certa para ultrapassarmos as dificuldades. Como anda o problema das crianças angolanas que estudam do lado congolês, em língua francesa, sob o hino congolês, com hábitos alheios, etc. etc. Acabámos de estar no município do Milunga e pudemos saber disso, ouvir vários relatos, escutar os depoimentos de quem convive com esta realidade... Há situações que não podemos omitir porque é a realidade que se vive no terreno. A nossa fronteira que delimita a província do Uige com o Baixo Congo é uma fronteira muito extensa e temos alguns problemas que temos de ir gerindo até voltarmos à normalidade. A guerra criou-nos dificuldades enormes ao nível da circulação das pessoas e bens; há rios de grande dimensão cujas pontes foram partidas e hoje não é fácil transitar de um lado para outro . Temos na nossa província os casos de Quimbele, Maquela do Zombo e do Milunga que acabou de referir. No Milunga há o caso das comunas de Massau e Macolo onde temos alguma dificuldade para se lá chegar e levarmos assistência e apoio às nossas populações. No Quimbele são quatro comunas com essa situação: Cuango, que está mesmo ao lado do Congo Democrático. Para se chegar até ao Cuango é preciso atravessar entre 3 a 4 rios grandes que não têm pontes, as populações arriscam muitas vezes utilizando canoas, pontes artesanais feitas com paus e outros materiais, que não são muito seguras. Como a população não consegue vir para o lado de cá e as famílias estão preocupadas naturalmente na formação das crianças, o que ocorre é que muitas dessas crianças vão até ao outro lado da fronteira, ao Congo Democrático, para a sua formação. Tem sido uma preocupação permanente do governo da província para encontrarmos uma solução, nem que fosse uma solução parcial, alternativa, para resolvermos este problema. A maior dificuldade que se coloca é mesmo das vias, das pontes. Colocámos esse problema ao ministério da Construção no ano de 2010, discutimos aqui com o Secretário de Estado da Construção e neste momento em que falo para o jornal O PAÍS temos preparados os processos para o Tribunal de Contas no sentido de se adjudicarem quer as vias que nos levam até Cuango, Alto Zaza e Icoca no município do Quimbele e também as estradas que nos levam às outras três comunas de Maquela do Zombo, que são Béu, Sacandica e Cuilo Futa. Se na realidade esses processos forem autorizados teremos condições para que as empresas que ganharam os concursos para a terraplanagem daquelas estradas secundárias possam intervir nos próximos tempos e aí teríamos, digamos assim, a possibilidade de mantermos os contactos com as nossas estruturas de forma permanente. Isso é de tirar o sono a qualquer um... Pois é mas não se pode ficar de braços cruzados. Penso eu que com o conjunto de esforços que estamos a desenvolver quer pelo governo provincial como pelo Executivo central, temos a certeza que esse problema das nossas crianças passarem para o outro lado para estudar, às vezes até para assistência médica/medicamentosa, vai ser superado se na realidade essas estradas que ligam as sedes dos municípios às comunas, forem reabilitadas. "PENSO EU QUE NÃO TERÁ SIDO UM MILAGRE, É MESMO O TRABALHO, O ESFORÇO DE TODOS OS COLEGAS QUE INTEGRAM O GOVERNO DA PROVÍNCIA" a cidade parecia aos olhos de todos como uma cidade antiga. Os forasteiros que a visitavam tinham razões para pensar que a nossa cidade é mais velha que as outras que já têm 300 anos, 400. Quem chega ao Uíge nota que a cidade deu um enorme salto: está muito bem iluminada durante a noite e as ruas e passeios totalmente recuperados. Que milagre é que se operou para esta mudança tão rápida? Primeiro, deve-se ao facto de se ter escolhido uma equipa de quadros, de camaradas, que desde o primeiro momento em que aceitaram o compromisso de virem para o Uíge e aqueles camaradas que encontrámos no terreno, se mostraram disponíveis para essa reviravolta, trabalhamos quase dia e noite a pensar como melhorarmos a nossa cidade capital. Tínhamos o problema das ruas, todas elas esburacadas, tivemos que trabalhar com o ministério da Construção que tinha aqui na província a empresa responsável por este trabalho (aquela que fez a estrada de Caxito a Negage e que estava aqui na província com a missão de reabilitar também as ruas da cidade do Uíge e do Negage ) mas que havia apenas um problema relacionado com as "adendas" – as famosas "adendas" – que não tinha sido resolvido . Quando nós chegámos tentamos accionar esse mecanismo e falámos com os responsáveis máximos do ministério, que deram-nos esse apoio e conseguimos ultrapassar a situação. Mas ainda temos vários problemas por resolver para que a cidade do Uíge volte aos seus tempos de glória. Vêm-se andaimes em vários edifícios. Há algum plano de pintura geral de imóveis ou são apenas acções pontuais? Há sim um plano. A cidade parecia aos olhos de todos como uma cidade antiga. Os forasteiros que a visitavam tinham razões para pensar que a nossa cidade é mais velha que as outras que já têm 300 anos, 400... Na verdade não é, tem apenas 90 anos, pouco mais. Era tudo uma questão de cuidarmos um pouco do visual da cidade. Então há um programa de pintura, ao lado da pintura estamos a iluminar a própria cidade, utilizando às vezes uma estratégia que é pedir às empresas que vêm aqui trabalhar connosco, aquelas que ganham concursos públicos para determinadas obras, associamo-las também a esse programa de embelezamento da própria cidade e é assim que vamos cuidando da imagem da cidade do Uíge. Isto ainda não terminou, temos ainda várias ruas por iluminar, temos ainda vários prédios que temos de pintar, mas tenho a certeza que vamos conseguir. Penso eu que não terá sido um milagre, é mesmo o trabalho, o esforço, de todos os colegas que integram o governo da província, fundamentalmente aqueles que estão ligados directamente à área técnica e infra-estruturas, que têm estado a dar a sua contribuição no sentido de melhorar cada vez mais a cidade. Nas cidades, esse esforço muitas vezes encalha no saneamento básico, na higiene, na má imagem do lixo... Para o problema do saneamento básico também estamos a tentar encontrar soluções para que a cidade se mantenha limpa apesar de que os recursos que recebemos para a limpeza das cidades do Uige e Negage, não sejam suficientes. Mas mesmo com o pouco que recebemos vamos trabalhando com a administração municipal do Uige e a empresa que nós encontrámos aqui e que já trabalha há vários anos, no sentido de irmos melhorando cada vez mais a imagem da cidade. Porque evitando o lixo, melhorando esta parte do saneamento da cidade, pelo menos estaremos também a resolver o problema das doenças diarreicas, agudas, cólera, etc. etc. Diminuímos assim a pressão sobre o nosso hospital provincial que não tem grande capacidade para atender várias patologias ao mesmo tempo. O hospital tem as suas dificuldades, as suas limitações, e por isso preferimos priorizar as medidas preventivas. Então limpando a cidade, estaremos a nos prevenir para que não haja esse tipo de doenças no seio das nossas populações, fundamentalmente das nossas crianças. Soubemos que o Mercado Municipal do Uíge vai ser transferido para alguns km do centro da cidade, para as proximidades da localidade de Quindenuco. Não teme que se replique na província a má experiência do Roque Santeiro, em Luanda, que foi mudado para o Panguila e ficou às moscas? Nós conhecemos como era aquele Mercado. Hoje ao lado há um grande edifício que praticamente reduziu o espaço que os nossos vendedores ocupavam. Bom, a informação que temos é que esse edifício (da seguradora Há um programa de pintura, ao lado da pintura estamos a iluminar a própria cidade. Ainda não terminou, temos ainda várias ruas por iluminar, vários prédios que temos de pintarAAA) foi autorizado superiormente e está aí, também, para servir o próprio público, porque aí vão surgir serviços ligados a seguros, que acabam sempre por ser necessários. Na nossa opinião e na opinião da Administração Municipal que tentou tomar esta medida de transferir esses vendedores do centro da cidade para o Quindenuco é que não há condições básicas de higiene e de saneamento, porque hoje não há casas de banho naquele local, as pessoas que vêm vender os produtos não têm mesas, bancadas, para colocar a mercadoria, e as pessoas que vão lá comprar, às vezes por força das necessidades, não têm outra alternativa, adquirem o produto assim mesmo, porque é o que está próximo. Mas em termos de saúde dos nossos cidadãos, dos munícipes, não convém. Aliás, como o espaço ficou reduzido com a construção daquele edifício, hoje o mercado estendeu-se até fora do próprio Mercado. As pessoas chegam até quem vai para o edifício RIMAGA, correndo o risco de um dia haver aí um desastre, atropelamentos ou outra coisa. Então a ideia da administração municipal era transferir todos os vendedores para um outro mercado que foi construído com recursos públicos, com dinheiro do Estado, para atender a essa necessidade, porque queremos prestar um serviço de qualidade às nossas mamãs, a todos os vendedores, que acorrem ao mercado da cidade. Mas parece-me haver alguma resistência, porque eles colocavam o problema da distância; será que haveria a possibilidade de sair do centro com a mercadoria para lá, pagando 200 kz nos táxis que fazem a ligação com Quindenuco? Bom, para responder a essa preocupação, o governo provincial através da sua direcção de transportes, negociou com a TCUL, que colocou aqui numa primeira fase 4 autocarros para ajudar a população a circular. De um lote de 14 autocarros, recebemos já os 4 primeiros e há a informação de que na próxima semana chegam mais 7, a ver se com este número facilmente a pessoa pode sair do Candombe Velho ou do Candombe Novo para o mercado e o munícipe que quiser comprar algo com todas as condições higiénicas criadas, poder se deslocar também ao local. Mas a ideia não é que vamos alienar o espaço, a ideia é tentar através de um estudo que podemos encomendar, ver como é que podemos melhorar o espaço para continuar a ser mercado, mas com todas as condições que um mercado no centro da cidade necessita, exige, evitando aquilo que se tem constatado ali, onde não há o mínimo respeito pelas condições higiénicas. "OS CAMPONESES TÊM DIFICULDADES DE TRAZER OS SEUS PRODUTOS PARA A CAPITAL DA PROVÍNCIA PARA VENDÊ-LOS OU MESMO PARA OS MERCADOS RURAIS QUE ORGANIZAMOS DE TEMPOS A TEMPOS" “São essas reclamações que temos estado a retransmitir ao ministério da Construção e temos a plena certeza que este nosso pedido será atendido” Para gerir uma província, seja pequena ou grande, é condição sine qua non que se consiga chegar aos lugares, é preciso que as comunidades estejam ligadas, ou seja, há que possuir estradas transitáveis. O Sr Governador consegue ir pelo menos a todas as sedes municipais, que são logo dezasseis? Podemos dizer que as vias nacionais, as principais que temos, como a que nos liga a Maquela do Zombo passando por Bungo e Damba, ou a outra, que vai da capital da província a Mucaba; daqui a Quimbele; daqui para o Negage, estas vias estão a ser reabilitadas. A população está satisfeita. Há cerca de 3 anos que ficamos com o troço Negage-Alfândega com problemas. Felizmente o ministério da Construção, em estreita colaboração com o governo provincial, tomou as medidas necessárias e hoje a via está a ser intervencionada, temos a certeza de que até ao fim do mês, teremos aquele troço reabilitado. O lance de Alfândega a Macocola está reabilitado, a empresa concluiu praticamente os seus trabalhos; agora ficámos com o troço de cerca de 142 km entre Macocola e Quimbele, esse é o nosso desafio, continuamos a insistir junto do ministério da Construção para ver se a mesma solução que se adoptou para o troço Negage-Alfândega se adoptasse também para o troço do Quimbele, porque se não resolvermos o problema do Quimbele, continuaremos a ter problemas para evacuarmos a produção daquele município, que em termos agrícolas, é uma das mais importantes da província. Os camponeses têm dificuldades de trazer os seus produtos para a capital da província para vende-los ou mesmo para os mercados rurais que organizamos de tempos a tempos no Sanza Pombo, em Cangola... Os camponeses não conseguem chegar aos mercados e reclamam; são essas reclamações que temos estado a retransmitir ao ministério da Construção e temos a plena certeza que este nosso pedido será atendido para que aquele troço seja intervencionado o mais urgente possível. É líquido então que se consegue chegar a todas as sedes municipais, de uma maneira ou de outra, ou seja, com asfalto ou sem ele. Mas vamos agora olhar para a situação dos investidores, que têm de lidar muitas vezes com cargas enormes, difíceis de fazer chegar aos lugares que elegem para trabalhar... O facto é que os municípios produzem, os investidores que querem ir para fora da capital da província, a primeira pergunta que colocam é "como estão as vias?" Como as vias não estão bem, dificilmente aceitam ir até aos municípios, às comunas, mesmo existindo por lá grande potencial, áreas onde podem ganhar dinheiro na exploração de madeira e vários minérios que a província tem....O problema das estradas cria de facto um grande entrave, os investidores não conseguem chegar aonde gostariam de chegar. O que é que se está a produzir no Uíge neste momento? O Uíge produz quase tudo. Além do café que é, digamos assim, a cultura tradicional, que pela sua história contribuiu para a edificação desta cidade e de outras, de bairros em Luanda como a Vila Alice, Alvalade, Combatentes, etc. etc., a produção do café abrandou um pouco nos anos passados porque a guerra também afectou o sector, porque a maior parte das fazendas foram sabotadas, algumas delas até minadas e o povo, com o receio natural de encontrar dificuldades de acesso, abandonou . Ligado a isso, há um aspecto que precisamos de reanalisar com o ministério da Agricultura, porque enquanto continuarmos a vender o kilo de café mabuba a 33 kwanzas, os camponeses nunca vão ter a motivação de continuarem a produzir. Há cerca de uma semana, organizámos um mercado rural só para vender café. A discussão entre os produtores e os compradores durou cerca de uma hora até se chegar ao entendimento. Os compradores vinham com a ideia de 33 kwanzas, os produtores queriam 100 kwanzas por kilo, até que encontraram o valor intermédio de 50 kwanzas e lá se desbloqueou o impasse. Nesse dia, foram vendidos cerca de 900 sacos de café mabuba. Mas tem outras culturas. Produzimos muita ginguba; produzimos muita mandioca que transformamos em crueira para fazer fuba; produzimos milho. Hoje somos, digamos assim, o maior fornecedor de banana para a província de Malange. A banana que se consome em Malange vai da província do Uige e os malanginos sabem disso (risos), só que a grande dificuldade que temos, é a evacuação desses produtos. No município do Bembe, na zona do Toto (Vale do Loge, concretamente) há uma grande cooperativa que produz centenas e centenas de toneladas de laranja, que se houvesse possibilidade de se montar naquela região uma pequena indústria que transformasse essa laranja em sumos, acho eu que aquela comuna teria outro tipo de desenvolvimento. Infelizmente não há essa possibilidade, as vias não estão boas, mas os camponeses fazem um grande esforço no sentido de não abandonarem este tipo de actividade. O Uíge continua a ser por excelência uma província agrícola e com todas as potencialidades, porque aqui chove 9 meses, temos chuvas quase que todos os meses do ano e isso facilita que os camponeses produzam e tenhamos comida suficiente quer para alimentar a nossa população mas também para colocar fora da província e comercializar. Fizemos uma breve visita ao Puri no mesmo dia em que nos deslocámos ao Milunga e em conversa com o administrador municipal ficámos a saber que não há bancos a trabalhar no Púri. Foi-nos dito que quando há o pagamento de salários o município fica deserto, porque os trabalhadores – da função pública sobretudo – partem para as vilas e cidades onde há bancos, Negage, Sanza Pombo e até Uíge, a várias dezenas de km de distância... É verdade o que diz. E o Púri não é o único caso. A maior parte dos municípios da nossa província não tem serviços bancários e isso tem-nos criado grandes constrangimentos, quer em termos de pagamentos de salários aos funcionários públicos, fundamentalmente professores e enfermeiros, que têm de abandonar as áreas onde dão o seu contributo para irem até aos municípios vizinhos que dispõem de bancos. Outros vão mais distante ainda, até à cidade do Uíge, onde às vezes ficam uma a duas semanas, porque também o que acontece é que os bancos aqui não têm às vezes capacidade para atender à demanda, e as crianças ficam todo esse tempo sem o professor e os doentes sem o enfermeiro ou o médico que teve de se deslocar até ao Uige em busca do seu salário. Qual é a nossa luta neste momento? A nossa luta é continuar a mobilizar os bancos comerciais que já estão aqui na sede capital há um bom tempo – dois, três anos...no sentido de começarem a pensar também em instalarem os seus serviços nos municípios. Há dias esteve cá o presidente do Banco de Poupança e Crédito (BPC) que assumiu o compromisso de, nos próximos meses (acho eu que agora em Novembro), instalar balcões nos municípios do Songo e Damba. Acho que este esforço, este tipo de iniciativa por parte dos bancos comerciais, é que deveríamos continuar a privilegiar para que os municípios tenham pelo menos um banco. Não estamos a dizer que têm de ir para lá o BIC, o BAI, o BPC, o Millennium de uma vez, não!, mas pelo menos um banco. Isso evitaria que os serviços fossem afectados com a movimentação constante das pessoas. Mesmo para pagar impostos, as empresas que temos, locais, têm de vir paga-los aqui na capital, o que não é salutar para o desenvolvimento de uma província. Dos bancos para a habitação. Falenos do Programa de fomento habitacional: o que é que existe pensado para o Uíge? No quadro habitacional, nós temos um projecto de construção de 7 mil casas – 4.500 aqui no município do Uíge e 2.500 para o município do Negage. Isto provocou alguma discussão nos encontros em que fomos participando a nível central: como atender os outros municípios? Vamos concentrar 7 mil residências apenas em dois municípios? E como é que ficam os municípios do interior, que também reclamam não ter possibilidades para acomodar os seus quadros? Os quadros vão para lá, não têm casa para dormir, depois abandonam as áreas para voltarem à capital da província? Então o camarada Presidente orientou e está sendo materializado agora, a construção de 200 residências por cada município. Isto é o programa do Governo central. Mas temos de contar também com a intervenção dos privados, os investidores que com recursos próprios querem construir também para depois comercializarem as residências. Vai surgir aqui na via que vai a Mucaba, inclusive, um projecto que vamos inaugurar este mês as casas modelos que foram construídas; vai surgir outra zona com 600 a 700 residências; e está também o ministério da Juventude, no âmbito do programa Angola Jovem, que na reserva fundiária de Catapa, aqui no município sede, vai construir cerca de 100 residências; inclusive a empresa, os empreiteiros, já se encontram na província, para iniciarem os trabalhos. Ainda no domínio habitacional, vamos contar igualmente comogrupoGema, que vai construir aqui também na zona de Catapa, arredores da capital da província. Não sabemos ainda que quantidade de casas fará. Acho eu que estaremos beneficiados se na realidade essas centralidades todas forem erguidas, fundamentalmente para os jovens, para os quadros. "TENHO A CERTEZA QUE AS MINAS DE COBRE VÃO FUNCIONAR, O QUE, PARA A PROVÍNCIA, SERÁ UMA MAIS-VALIA" “vai abrir muitas oportunidades de emprego, para os jovens fundamentalmente, o que vai fazer com que também aquela região de Maquela do Zombo tenha um outro nível de crescimento económico” O Uíge já foi conhecido também pela produção de cobre, nas Minas de Mavoio, em Maquela do Zombo. Em que pé se encontra o seu processo de relançamento? Sabe-se que tem uma linha dedicada de energia eléctrica, a partir de Capanda, o que é um sinal bastante revelador ... A nossa informação não é assim muito profunda, tendo em conta que continuam as negociações ao nível do ministério da Indústria para a reactivação das Minas de Mavoio. O primeiro passo fundamental para a concretização desse projecto era a energia. A energia de Capanda há cerca de um ano que já é uma realidade no município de Maquela do Zombo, onde as minas estão, e há uma linha que está a ser construída para a região de Mavoio. A empresa que terá ganho o concurso, penso eu que esteja a fazer ainda estudos para depois entrar no terreno para começar a fazer a pesquisa e depois da pesquisa passar à exploração. Tenho a certeza que as minas vão funcionar, o que para a província será uma mais-valia; vai abrir muitas oportunidades de emprego, para os jovens fundamentalmente, o que vai fazer com que também aquela região de Maquela do Zombo tenha um outro nível de crescimento económico. Além dessas minas, temos de falar também de que há um programa do ministério da indústria de cerca de 12 a 16 indústrias que serão montadas no pólo industrial do Negage. A informação que temos é que o ministério tem andado à procura de financiamentos para que esses projectos adjudicados à província do Uige sejam nos próximos tempos implementados. Os terrenos estão disponíveis, criámos as condições para que a energia chegasse até ao pólo industrial, agora esperamos apenas que se accionem, digamos assim, os mecanismos de edificação de tudo. Soubemos hoje de maneira informal que a DUSOL vai renascer... Sim, falou-se do regresso da DUSOL, na base de uma parceria entre os proprietários – porque a DUSOL foi vendida. No âmbito do redimensionamento empresarial, alguns filhos da terra decidiram juntar-se, fizeram um consórcio e adquiriram a fábrica de sumos. Mas como não há tantos recursos para reabilitar aquele monstro adormecido e tem de haver dinheiro para pôr aquilo de pé, então parece-me que há um bom tempo que esses proprietários andaram à procura de financiamentos, de apoios, agora julgo que conseguiram essa parceria. É dessa maneira que se pensa arrancar com a Dusol. E arrancando com a Dusol, nesse momento então teríamos além do emprego que iríamos dar à nossa juventude, também um motivo de alegria para todos nós, porque aquilo transformou-se num monumento porque viu muita gente a nascer, muita gente trabalhou ali, nossos pais, nossos avôs. A fazenda de produção de arroz de Lusselua, no município do Sanza Pombo, foi um gigante que no passado ajudou a consolidar a ideia –mais do que ideia, uma verdade – de Angola ter-se erigido como um território auto-suficiente do ponto de vista das suas necessidades alimentares. A guerra paralisou a exploração agrícola mas por estes dias, quem passa pela estrada que leva ao Sanza Pombo, constata que há ali uma grande actividade no sentido da recuperação da fazenda. Vamos ter de novo produção de arroz em larga escala naquele sítio? Há três projectos agrícolas de grande dimensão para a província. Dois que oficialmente já iniciaram: no Negage, vai surgir um complexo agrícola para a produção de aves, para a produção de mandioca e sua transformação em farinha e pensa ainda produzir-se nesse completo batata rena e criação de gados. Este é um projecto que o ministério da Agricultura está a implementar com o apoio do governo provincial. Para Lusselua, é praticamente a reactivação de um projecto, que já se tinha iniciado em anos passados, de produção de arroz. Desta vez vem com muita força, tendo em conta que vieram especialistas chineses que estão no terreno a criar as condições para o arranque desse grande projecto, que também vai ajudar não só o desenvolvimento dos municípios à volta, mas também vai ajudar os nossos jovens que são formados no Instituto Médio de Agronomia e que terminam o curso. Antigamente saíam da província para outras regiões à procura de um curso superior para concluírem os seus estudos mas hoje a Universidade Kimpa Vita, como tem já o curso superior de Agronomia, isso também vai facilitar que os nossos estudantes possam ter também um sítio para estágio, para ver se consolidam os seus conhecimentos. Porque a Universidade Kimpa Vita arrancou este ano com mais 3 cursos – o curso de Direito, que muita gente aqui sempre procurou e como a província não o possuía, o único caminho era a saída da província; entrou também o curso de Enfermagem, para alem do de Agronomia que já falei. Estamos a lutar para ver se no próximo ano possamos então introduzir o curso de Economia. Neste momento estamos a criar as mínimas condições para que a universidade funcione de forma independente, porque por agora utiliza instalações que não são suas. As instalações onde está a universidade são da escola do segundo ciclo e do PUNIV. A ideia do governo era tirar os estudantes das instalações do PUNIV para a sua reabilitação e entrega à Igreja Católica e eles passariam para as instalações que o governo mandou construir. Mas penso eu que até Março do próximo ano esta situação será ultrapassada porque estamos a construir na área do aeroporto, em Condo e Benje, onde vai surgir o campus universitário Kimpa Vita, é ali onde estamos a fazer os primeiros edifícios para servirem os estudantes universitários no próximo ano.
Posted on: Mon, 01 Jul 2013 08:01:32 +0000

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