Vamos olhar para o vandalismo? Antes que alguém comente que sou - TopicsExpress



          

Vamos olhar para o vandalismo? Antes que alguém comente que sou a favor do vandalismo, quero deixar claro que pretendo trazer um ponto de vista que pode nos tirar da zona de conforto. Minha opinião a respeito do que tenho visto pelas manifestações que desde junho sacodem o Brasil, especialmente no Rio, e de forma mais enfática o que aconteceu no Leblon, é que precisamos ir além de ser a favor ou contra as depredações, porque esse é o lugar comum e, convenhamos, interessa a muita gente pouco disposta a mudar. Aqueles que praticam as depredações e certamente observam suas repercussões parecem não estar se preocupando com o fato de que elas ajudam a colocar os governos e a sociedade na posição de vítimas horrorizadas, porque senão certamente já teriam repensado suas ações para que os verdadeiros objetivos das manifestações não se perdessem. E é justamente por isso que eu, assistindo à escalada da violência nas ruas, fiz a mim mesma o convite para olhar além do que estava assistindo. O fruto dessa reflexão é o que quero compartilhar com vocês. O que o vandalismo está querendo nos mostrar? Não tenho a resposta, mas talvez o que nos interesse realmente seja a capacidade de fazer e sustentar essa pergunta. Permitam-me contar um caso para ilustrar. Alguns meses antes de me separar, vivendo intensos conflitos com meu ex-marido, um dos meus filhos começou a ter sérios problemas de comportamento. Ele estava, digamos assim, praticando atos de vandalismo. Chutava os amigos, xingava professor, etc. Ninguém escapava da sua agressividade. Eu, que já estava totalmente pressionada, ficava muito brava com o fato de que, além de todos os problemas que tinha para lidar, ainda tivesse que encontrar uma forma de convencer o meu filho a não piorar as coisas. A escola me recomendou uma psicóloga e eu, então, descobri que ele estava, com o seu comportamento agressivo, denunciando o conflito que precisava ser visto e acolhido naquele sistema familiar. Ele era o "paciente identificado". A partir do entendimento de que a família é um sistema vivo, o sintoma apresentado pelo paciente identificado é o grito de alerta e está, no fundo, conduzindo o sistema ao equilíbrio. Uma vez compreendida essa dinâmica, eu não tinha mais a opção de ficar nem contra nem a favor do meu filho, porque não se tratava disso. Precisei olhar para o que estava de forma mais profunda me sinalizando aquela reação. Ora, a sociedade é também um sistema vivo. Estamos no ápice de uma crise sem precedentes em todos os campos imagináveis. Vivemos mundialmente uma crise política, econômica e ambiental, com uma série de ameaças reais rondando nossas vidas e nosso futuro. A maior parte das pessoas, como mecanismo de defesa, tenta conviver com todos os sintomas como se eles fossem isolados ou pudessem ser ignorados. Mas mesmo num âmbito menor, da vida de uma comunidade ou de um bairro de alto renda como o Leblon, os sinais de que algo vai mal no rumo das coisas angustia e sufoca. A desigualdade social, ainda que venha sendo reduzida, produz um fosso enorme entre ricos e pobres, criando uma ilusória separação. Mas, apesar disso, a violência atinge a todos, mesmo que de formas diferentes. As doenças, que são sintomas produzidos pelo corpo para denunciar um desequilíbrio no nosso sistema individual, também atingem mais e mais pessoas, ricos e pobres. Diante da nossa recusa de perceber e tratar as crises como um problema sistêmico, não seria o vandalismo o paciente identificado para colocar a sociedade diante do fato de que há um grave desequilíbrio que precisa ser visto além da superfície? Mesmo que haja infiltrados promovendo depredações, não seria também o vandalismo do Estado a outra face do mesmo sintoma? Assim como meu filho, aqueles que praticam as depredações não sabem que estão manifestando o sintoma de algo maior e mais complexo. O risco que corremos é o de continuar rechaçando os sinais de que precisamos de uma reflexão que vá além do óbvio. Dizer que o vandalismo não será tolerado ou responder com mais violência não está nos trazendo uma solução, mas apenas aprofundando o problema. Ao agir assim, só faremos aumentar a nossa necessidade de produzir mais atrocidades que nos obriguem a algum dia parar e admitir que precisamos de uma nova visão de mundo. Não seria esse o momento de escapar dessa tentativa de polarização entre o certo e o errado, o bem e o mal, os vândalos e as pessoas de bem, para aceitar e acolher que somos todos parte do problema e precisamos de uma resposta criativa, inovadora e sistêmica? O meu filho não deixou de ser uma criança adorável por ter vivido os momentos que viveu. Na verdade, eu hoje o agradeço pela generosidade de ter se doado à dolorosa tarefa de me mostrar que havia um novo e necessário caminho a ser percorrido. Há que se ter coragem para se colocar a serviço de uma mudança tão profunda como a que estamos sendo convidados. E agora está nas nossas mãos. Daniela Reis é conspiradora de um novo paradigma e criou o Instituto Beija-Flor para atuar na transição que estamos vivendo. Foto disponível na Internet, fotógrafo não identificado, imagem salva como "danterra9".
Posted on: Sat, 20 Jul 2013 12:32:34 +0000

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