"Você me deixou com a eterna sensação de ser insuficiente. Eu ando com um pé na frente e outro atrás não por ordem natural dos meus passos como deveria ser, mas por desconfiança, por nunca saber em que terreno é seguro pisar. Não, eu não resolvo isso num consultório com um psicólogo me dizendo que preciso superar e entender que nem sempre as cenas se repetem, embora a vida seja esse eterno ciclo, e é importante subir degrau por degrau até isso passar. Autoajuda não me ajuda. As noites repensando os motivos para eu ser tão fácil de esquecer não passam. Você passa, já passou, não foi a parte mais difícil. Não, você não entende, o problema é meu, eu que tenho que me resolver comigo, é verdade, mas é a sua parte que fez isso, é a sua marca que ficou no meu asfalto como um acidente fatal de carro. Eu não sinto saudades, nem quero te ver outra vez por este mundo que não é tão grande assim, o caso não é esse. Isso não é amor, é ferida. Não é porque você me deixou; é porque fez o que todo mundo sabia que iria fazer. É porque fez o que eu sempre acho que as pessoas vão fazer: previsível demais para amar. Tudo o que nunca falei, tudo o que a minha garganta - ou dedos - trancaram por meses, pois tenho medo de confundirem tapa na cara com saudade, você nunca quis saber. E não é a sua preocupação o que eu quis, era qualquer palavra que tirasse de mim o peso de ser o lado fraco desta corda. Todo dia é como se eu fosse arrebentar de novo. Você não me dói. A sua falta não me faz falta. É que você engrossou a lista de quem me passa pra trás, é isso que me tira o sono. É que você estampou a minha vulnerabilidade mais uma vez e agora fica sempre a pergunta: quem é o próximo da fila? Isso não é por ti, é por mim. E agora, enquanto eu só quero crer que nada de errado vai acontecer, o fantasma do abandono me visita, e isso, sim, é uma parte culpa sua. Você não pode mais consertar. Eu posso, é meu trabalho. Estou consertando. Só escrevo para dizer ao meu próprio “eu” que na lista de todo mundo que já bateu aqui, eu me recupero de um tombo por vez. Pode ser que eu nem lembre mais do seu rosto ou do seu perfume, mas me lembro da sua pisada. Eu lembro que você me deixou pior do que me encontrou: sempre desconfiando; sempre errando. Eu só gosto de acreditar que é bom deixar pelo menos um sorriso com quem vai ficar sozinho."
Posted on: Mon, 26 Aug 2013 23:04:10 +0000
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