daquelas coisas que nos deixam estarrecidos: O tempo aqui em São Paulo anda muito abafado. Hoje o céu está claro e a temperatura ultrapassa os 30ºC. No domingo, choveu, mas fez calor. Ficou aquele dia feio e abafado, sabe? Fui então tomar açaí perto de casa com um conhecido gringo. Quando eu passei em frente a um prédio da vizinhança, vi três meninas brincando de casinha na garagem. Em vez de achar aquela cena bonitinha (hoje em dia é raríssimo ver crianças brincando de casinha), eu fiquei assustado, muito assustado. Elas deviam ter sete ou oito anos, no máximo. Quando eu passei pela calçada, elas estavam discutindo os papéis. Uma das meninas, que parecia ser a mais velha, disse apontando para uma outra garotinha: eu vou ser a mãe rica, a Isabela vai ser minha filha e você vai ser a empregada porque é a mais escurinha. Parei ao lado de uma lixeira e fiquei observando o desenrolar da história. A menina-mãe mandava e desmandava na filha e na empregada. As outras duas, caladas, apenas obedeciam sob ameaças da menina-mãe. Passei o resto do dia tentando entender algumas coisas: que tipo de valores essa menina-mãe está aprendendo em casa? Será que ela é tratada assim pela mãe rica? Será que a menina negra ficou calada porque ainda não consegue perceber a maldade das pessoas? Por quê ela tinha que ser a empregada? Vale lembrar que a menina-mãe é a mais gorda das três. Será que ela não sofre nenhum tipo de discriminação na escola pela forma física? Será que aquela não é uma forma de descontar em outra pessoa o que ela deve sofrer? Infelizmente este e só um dos casos de discriminação racial que eu testemunhei nestes dois meses morando em São Paulo.
Posted on: Tue, 03 Dec 2013 19:45:22 +0000
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