https://medium/p/86b6de4ef736 Carta aberta a Cris Guerra e - TopicsExpress



          

https://medium/p/86b6de4ef736 Carta aberta a Cris Guerra e Edmundo Bravo ou “Resposta cansada a um discurso elitista bobo” Eu não costumo atender de graça a pedidos de desconhecidos, muito menos quando me solicitam algo que uso como minha profissão: a minha escrita. Escrever textos é o meu trabalho e acho que a vida está difícil demais para gastarmos tempo trabalhando sem remuneração, principalmente em resposta a um capricho de internet, de alguém que recebeu uma crítica e não gostou. Hoje, porém, abrirei uma exceção, em nome da situação atual do país e de que as opiniões da colunista da BandNews FM Cris Guerra não são exclusivas de sua pessoa, e sim um coro de uma classe média que enxerga pouco o que foge do seu redor e se considera tanto alvo de todo o mal como a solução para todo o bem da sociedade. Em podcast divulgado na internet no dia 23 de junho de 2013 e depois apagado, a Sra. Guerra se aventurou em analisar o cenário político brasileiro, as contradições do sistema, das injustiças existentes às suas soluções. De maneira elitista e desinformada, criticou as políticas de afirmação social do Governo Federal (em suas palavras, bolsa estiagem, bolsa crack, bolsa prostituta) além de afirmar, em uma referência bíblica, que o Brasil é um país em que “justos”, a classe média trabalhadora, sustentam os pecadores, classes mais pobres que recebem as tais bolsas. Debocha ainda da falta de elegância e de tino para a moda da Presidente Dilma, cujo trabalho, teoricamente, ainda independe de tais características estéticas. Fui requisitado pelo Sr. Bravo em um comentário de redes sociais, também deletado, a escrever um texto em que eu poderia “humilhar” aqueles que eu criticava. Não tenho o menor intuito de fazer isso, muito menos a prepotência de achar que possuo capacidade para tal. A mesma modéstia poderia ter tomado conta da Sra. Guerra no dia de ontem e ter evitado que ela atirasse tanta desinformação em seus milhares de seguidores, fãs de seu trabalho reconhecido não só em Minas Gerais como no resto do país. Sobre o Bolsa Família, entendo perfeitamente o ódio prêt-à-porter da elite brasileira que acredita remunerar mensalmente milhões de preguiçosos a troco de nada. Um ódio de quem lê pouco e não quer ver muito também, preferindo o caminho mais fácil do desconhecimento e da gritaria preconceituosa ao da informação. Os programas sociais do governo vem, há mais de 15 anos (por favor repare, governos PT e PSDB incluídos) corrigindo desigualdades históricas e irregularidades de um sistema que deveria, teoricamente, dar de maneira natural oportunidades iguais a todos os cidadãos. Retiraram dezenas de milhares de pessoas da pobreza extrema, da fome e de condições sub-humanas de moradia e higiene, algo que eu não consigo nem imaginar como seja e acredito que vocês, Cris e Edmundo, também não. Retiraram milhares de cidadãos do coronelismo histórico brasileiro, dando a eles enfim liberdade de opinião e de atitude, livres do controle econômico de grupos regionais poderosos. Liberdade esta que pode ser estendida às mulheres que, de maneira análoga, puderam enfim exercer sua liberdade econômica e política, ao se tornarem independentes e se livrarem de uma estrutura patriarcal e machista ainda tão presente em nossa sociedade. Por fim, é importante ressaltar a grande quantidade de indivíduos que deixam os programas sociais ao conseguirem sobreviver e mudar de vida, não mais condenados à pobreza extrema e insuperável. É evidente que o programa apresenta problemas e falhas, assim como a maioria das políticas públicas do país. Suas proporções são continentais, seus riscos são enormes, seus desafios históricos gigantes. E não sou inocente a ponto de negar: é um programa de caráter populista e eleitoreiro sim. Porém, na minha opinião, não mais que a reforma da praça em frente ao shopping, as ciclovias feitas às vésperas das eleições, os viadutos faraônicos direcionados ao transporte particular e os incentivos crescentes do governo à indústria. A Sra. Guerra defende um neoliberalismo (governo mínimo, sem bolsas e incentivos) que não existe hoje no Brasil - e não é pela existência do Bolsa Família. O liberalismo selvagem, solto às leis do mercado, não existe para ninguém, muito menos para a elite, que recebe hoje a maior parte das esmolas do governo. Proponho que os pobres pecadores da Sra. Guerra deixem de receber o Bolsa Família no mesmo dia em que pararmos de salvar bancos com dinheiro público, de carregar no colo uma classe industrial acomodada e de maquiar as cidades das mazelas da periferia. Penso que eu, como classe média alta, recebo, por exemplo, bem mais esmola do governo que os pecadores a que você se referiu. Minha rua é constantemente asfaltada, há rondas policiais noturnas praticamente todos os dias do ano e, sendo uma das únicas áreas que o poder público “encontrou verba” para aterrar a rede elétrica, raramente falta-me luz, mesmo nas piores tempestades. Lembrando que o Bolsa Família é de cerca de R$ 80,00 por mês e por família, quantia que nós, de classe média, costumamos gastar em apenas um jantar, eu não precisaria nem comentar que a situação do meu bairro não se reproduz em outros bairros do município, muito menos naqueles que se distanciam do centro metropolitano e sofrem diariamente com a violência policial, falta de transporte público e atendimento médico escasso. Vejo um governo que constrói estádios para empresas explorarem e financia a baixíssimos juros obras de infraestrutura que servirão de base para que enormes grupos industriais se instalem e se proliferem (chamemos de Bolsa-Energia, Bolsa-Banco e Bolsa-Asfalto, tomando a mesma liberdade criativa do fatídico podcast). Por que ser tão seletivo nas críticas a essas Bolsas? Por que criticar apenas uma se não todas? A crítica exclusiva ao Bolsa Família é opinião legítima ou é um retweet instantâneo da opinião dos outros? Proponho que em nossos blogs, podcasts, facebooks e twitters repensemos maneiras claras de mudar essa realidade estrutural do país e não apenas vomitemos nosso ódio bizarro em quem nos lê. Como publicitários, sabemos das vantagens retóricas de se escolher um foco, um alvo claro e objetivo, um inimigo comum que simbolize e represente todo o discurso que pretendemos passar para frente. O foco no Partido dos Trabalhadores como inimigo corrupto de uma nação é reducionista e irresponsável, reforça de maneira publicitária um discurso raso da classe média e ignora que a corrupção no Brasil é estrutural e não um fenômeno de pessoas e de partidos. Trago também uma boa notícia: a Presidenta Dilma não possui poderes de ditadora. Nosso sistema democrático define regras, hierarquias e processos que regulamentam as tomadas de decisão e fazem com que nosso sistema seja de fato democrático. Isso faz com que o poder real da Presidenta, apesar de amplo, não seja total - ainda bem. Dessa forma, várias de nossas reinvindicações da última semana merecem ser direcionadas às pessoas e instituições certas; ao legislativo o que é do legislativo, ao judiciário o que é do judiciário, e etc. A utilização indiscriminada da hashtag #ForaDilma mostra apenas o nosso despreparo e desconhecimento da própria realidade política a qual criticamos. Gostaria, por último de fazer um apelo. Somos todos colegas formais de profissão (mesmo que não atuemos nessa área), publicitários treinados para mentir, fabricar realidades em torno de causas e produtos, mascarar as realidades política, comercial e social do país para vender sabão em pó, ingressos da FIFA e eleger políticos. Ao mesmo tempo, recebemos uma carga grande de teorias na escola que nos permitem descolar desse sistema estranho e criticar a ética e os rumos de nosso próprio trabalho. Em uma pesquisa rápida, percebi que frequentamos as mesmas universidades, inclusive. Me sinto verdadeiramente frustrado em perceber que mesmo ambientes tão debatedores como o Prédio 13 da PUC Minas e a Fafich UFMG não conseguiram formar pessoas capazes de pensar além de suas fronteiras. Fronteiras pessoais, de enxergar que o Brasil e o mundo vão além dos problemas da zona sul de Belo Horizonte e fronteiras de pesquisa, de perceber que repetir um discurso de 140 caracteres de alguém ou manchete sensacionalista de jornal sem se informar melhor sobre o assunto é não só ignorância como também irresponsabilidade jornalística. Não desejo uma resposta de vocês. Gostaria apenas que pensassem a respeito da responsabilidade em relação ao coletivo que devemos ter como comunicadores e o poder às avessas que têm nossas palavras caso saiam de maneira impensada. Espero também que a Presidenta Dilma deixe para aprender sobre bolsas e elegância em um outro momento. Que ela gaste tempo agora para corrigir os erros do executivo e converse com os poderes legislativo e judiciário sobre suas também difíceis e necessárias reformas. Seguem abaixo alguns links para mais informações: revistaforum.br/blog/2013/05/169-milhao-de-familias-abrem-mao-do-bolsa-familia/ terramagazine.terra.br/blogdomarcelosemer/blog/2013/06/05/receosa-com-tamanho-da-crise-mundial-oit-aplaude-bolsa-familia/ www1.folha.uol.br/poder/2013/06/1293113-bolsa-familia-enfraquece-o-coronelismo-e-rompe-cultura-da-resignacao-diz-sociologa.shtml
Posted on: Tue, 25 Jun 2013 02:36:02 +0000

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