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mito da recuperação económica A existência de uma “Grande Depressão” na escala da da década de 1930, se bem que muitas vezes reconhecida, é obscurecida por um consenso inflexível: “A economia está a caminho da recuperação”. Apesar de haver conversas acerca de uma renovação económica, comentadores da Wall Street persistentemente e intencionalmente têm deixado de lado o facto de que o colapso financeiro não é simplesmente composto por uma bolha – a bolha imobiliária da habitação – que já explodiu. De facto, a crise tem muitas bolhas, todas as quais superam a explodida bolha habitacional de 2008. Embora não haja desacordo fundamental entre os analistas da corrente dominante acerca da ocorrência de uma recuperação económica, há debates tempestuosos sobre quando ocorrerá, se no próximo trimestre ou no terceiro trimestre do próximo ano, etc. Já no princípio de 2010, a “recuperação” da economia dos EUA fora prevista e confirmada através de uma barragem de desinformação dos media com palavras cuidadosamente escolhidas. Enquanto isso, os problemas sociais do desemprego agravado na América foram escrupulosamente camuflados. Economistas viram a bancarrota como um fenómeno microeconómico. As informações dos media acerca de bancarrotas, ainda que revelando realidades a nível local que afectam uma ou mais fábricas, não apresentam um quadro geral do que está a acontecer aos níveis nacional de internacional. Quando todos estes encerramentos simultâneos de fábricas em cidades por toda a terra são somados, emerge um quadro muito diferente: sectores inteiros de uma economia nacional estão a fechar. A opinião pública continua a ser enganada quanto às causas e consequências da crise económica, para não mencionar as soluções políticas. As pessoas são levadas a acreditar que a economia tem uma lógica por si própria a qual depende da livre inter-actuação de forças de mercado e que os poderosos actores financeiros, os quais 51 puxam os cordéis nos gabinetes das administrações corporativas, não poderiam, sob quaisquer circunstâncias, ter deliberadamente influenciado o curso dos acontecimentos económicos. A implacável e fraudulenta apropriação de riqueza é sustentada como uma parte integral do “sonho americano”, como um meio de difundir os benefícios do crescimento económico. Como foi dito por Michael Hudson, arraiga-se o mito de “sem riqueza no topo, nada haveria para gotejar para baixo”. Tal lógica enviesada do ciclo de negócios ofusca o entendimento das origens estruturais e históricos da crise económica global. Fraude financeira A desinformação dos media serve em grande medida os interesses de um punhado de bancos globais e especuladores institucionais, os quais utilizam o seu comando sobre mercados financeiros e de commodities para acumularem vastas quantias de riqueza monetária. Os corredores do Estado são controlados pelo establishment corporativo, incluindo os especuladores. Enquanto isso, os “salvamentos bancários”, apresentados ao público como um requisito para a recuperação económica, facilitaram e legitimaram um processo ulterior de apropriação de riqueza. Vastas quantias de riqueza monetárias são adquiridas através da manipulação do mercado. Mencionada muitas vezes como “desregulamentação”, o aparelho financeiro desenvolveu instrumentos refinados de manipulação e engano sem rodeios. Com informação interna e conhecimento antecipado, os principais actores financeiros, utilizando os instrumentos do comércio especulativo, têm a capacidade para manipular e burlar os movimentos do mercado em seu proveito, precipitar o colapso de um competidor e arruinar economias de países em desenvolvimento. Estas ferramentas de manipulação tornaram-se uma parte integral da arquitectura financeira; elas estão incorporadas no sistema. O fracasso da teoria económica dominante A profissão das Ciências Económicas, particularmente nas universidades, raramente trata do funcionamento de mercados no “mundo real”. Construções teóricas centradas em modelos matemáticos servem para representar um mundo abstracto e ficcional no qual os indivíduos são iguais. Não há distinção teórica entre trabalhadores, consumidores ou corporações, todos eles referidos como “actores individuais”. Nenhum indivíduo isolado tem o poder ou a capacidade para influenciar o mercado; nem pode haver qualquer conflito entre trabalhadores e capitalistas dentro deste mundo abstracto. Ao deixar de examinar a interacção de actores económicos poderosos na economia da “vida real”, os processos de falsificação do mercado, a manipulação financeira e a fraude são ignorados. A concentração e centralização da tomada de decisão económica, o papel das elites financeiras, os thinks tanks económicos, os gabinetes dos conselhos de administração das corporações: nada destas questões é examinada nos programas de ciências económicas das universidades. A construção teórica é disfuncional; ela não pode ser utilizada para o entendimento da crise económica. 52 A ciência económica é uma construção (construct) ideológica que serve para camuflar e justificar a Nova Ordem Mundial. Um conjunto de postulados dogmáticos serve para preservar o capitalismo de livre mercado pela negação da existência da desigualdade social e a natureza orientada para o lucro do sistema é negada. O papel de actores económicos poderosos e como estes actores são capazes de influenciar o funcionamento dos mercados financeiros e de commodities não é um assunto que preocupe os teóricos da disciplina. Os poderes de manipulação de mercado que servem para a apropriação de vastas quantias de riqueza monetária raramente são tratados. E quando são reconhecidos, considera-se que pertencem ao âmbito da sociologia ou da ciência política. Isto significa que a estrutura política e institucional por trás deste sistema económico global, a qual foi moldada no decorrer dos últimos trinta anos, raramente é analisada pelos economistas da corrente principal. Segue-se que a teoria económica como disciplina, com algumas excepções, não proporcionou a análise necessária para compreender a crise económica. De facto, os seus principais postulados do livre mercado negam a existência de uma crise. O foco da teoria económica neoclássica está no equilíbrio, desequilíbrio e “correcção de mercado” ou “ajustamento” através do mecanismo de mercado, como meio de colocar a economia outra vez “dentro do caminho do crescimento auto-sustentado”. Pobreza e desigualdade social A política económica global é um sistema que enriquece muito pouco a expensas da grande maioria. A crise económica global contribuiu para ampliar desigualdades sociais tanto dentro como entre países. Sob o capitalismo global, a pobreza que aumenta cada vez mais não é o resultado de uma escassez ou de uma falta de recursos humanos e materiais. Exactamente o oposto é que é verdadeiro: a depressão económica é marcada por um processo de desligamento de recursos humanos e de capital físico. Vidas de pessoas são destruídas. A crise económica está profundamente enraizada. As estruturas de desigualdade social foram, de modo muito deliberado, reforçadas, levando não só a um processo generalizado de empobrecimento como também ao fim dos grupos de rendimento médios e acima da média. O consumismo da classe média, sobre o qual este modelo desregrado de desenvolvimento capitalista está baseado, também está ameaçado. As bancarrotas atingiram vários dos sectores mais activos da economia do consumidor. As classes médias no ocidente foram, durante várias décadas, sujeitas à erosão da sua riqueza material. Se bem que a classe média exista em teoria, é uma classe construída e sustentada pala dívida das famílias.. Os ricos, ao invés da classe média, estão rapidamente a tornar-se a classe consumidora, levando ao crescimento inexorável do crescimento da economia de bens de luxo. Além disso, com a secagem dos mercados de bens manufacturados para a classe média, verificou-se uma mutação central e decisiva na estrutura do crescimento económico. Com o fim da economia civil, o desenvolvimento da economia de guerra da América, suportado por um colossal orçamento de defesa de quase um milhão de milhões de dólares, atingiu novas alturas. Quando os mercados de acções 53 despencam e a recessão se desdobra, as industrias de armas avançadas, os militares e empreiteiros da segurança nacional e as prósperas companhias de mercenários (entre outras) têm experimentado uma expansão e um crescimento estrondoso das suas várias actividades.
Posted on: Wed, 07 Aug 2013 14:40:43 +0000

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