"É triste admitir, mas parece evidente que os protestos estão - TopicsExpress



          

"É triste admitir, mas parece evidente que os protestos estão chegando em seu ponto de saturação. De um movimento com uma nítida postura anticapitalista, liderado pelos jovens aguerridos do MPL, e com uma pauta claramente definida – a redução das tarifas e melhoria do transporte público –, os últimos protestos, definitivamente, deram uma guinada à direita, pelo menos em sua feição hegemônica, mais visível. Essa guinada à direita já tem sido por muitos observada e alguns de seus indícios são: a) a perseguição e a violência contra os partidos de esquerda, em uma inquestionável tentativa de enfraquecê-los e desmoralizá-los; b) o completo silenciamento a respeito da atuação dos partidos liberais e fisiológicos da direita, estes sim, os verdadeiros oportunistas; c) a hostilização de movimentos sociais historicamente de resistência, como o MST, e a tentativa de isolá-los ou descaracterizá-los; d) a celebração acrítica, no estilo dos piores partidos de direita que já existiram no Brasil, de um nacionalismo conservador e moralista, assente na ideologização do hino, da bandeira e da pátria; e) a espetacularização dos protestos promovida pela grande imprensa e o seu poder de definir ou reforçar pautas conservadoras defendidas pelas elites (políticas, econômicas, religiosas); f) a proliferação de cartazes e reclamos reacionários, como os ligados à defesa de um golpe de Estado, à criminalização dos movimentos sociais e à proibição do aborto e do casamento gay, a despeito das vozes contrárias; g) a onda de violência praticada por rebeldes sem causa, pertencentes a uma geração facilmente instada a manifestar o ódio. É claro que isto, por si só, não caracteriza o movimento e creio que uma só pessoa ou um só grupo seriam incapazes de caracterizá-lo, definitivamente. Aposto por princípio na contradição, no dissenso, na resistência. Mas temo que a resistência seja inócua se o movimento não tomar outra direção, e exatamente por isso resolvi destacar os perigos que antevejo, em vez de continuar promovendo, festivamente, o movimento. O MPL já anunciou que não puxará mais protestos. Medo da onda conservadora que se infiltrou e se apropriou dos protestos? É o mais provável. É chegada a hora, em nome dessa resistência que não se cala, de conclamar todas as forças políticas, individuais e coletivas, para que se unifiquem na definição de uma atitude ANTICAPITALISTA, ANTIRRACISTA E ANTIPATRIARCAL, que possa tender a vara ao outro lado (o da esquerda) e influenciar na formação política de tantos jovens que vêm as ruas pela primeira vez. Fazer marchas paralelas, escrever manifestos unificados, usar mandatos populares em nosso favor são algumas das possibilidades de integração postas a estas forças. Para além das vitórias já conquistadas (particularmente a redução das tarifas de ônibus em várias cidades, embora em Belém nada de concreto tenha sido garantido), creio que o grande ganho do movimento foi ter ensinado ou relembrado que a história está em nossas mãos; que o fatalismo e o imobilismo não pertencem ao domínio do humano; que, juntos, indignados, podemos assustar. Mas já percebemos que não basta a indignação, embora ela seja um elemento indispensável; é também preciso organização, estudo, liderança. E só os oprimidos, os condenados da terra, os vilipendiados nos seus direitos podem conduzir esse processo! Quero continuar indo às ruas, mas ao lado das vítimas, não dos algozes!" João Colares
Posted on: Sun, 23 Jun 2013 23:12:37 +0000

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