É tudo aquilo que dizem ser, e tudo aquilo que não dizem ser, contém tudo o que dizem ter, e aquilo que dizem não ter, é aquilo que esperava ser, e o que não esperava ser. E é mais do que a soma de todas as incertezas e dualidades, porque uma cidade é sempre mais do que uma amálgama de estruturas e pessoas. É o sítio que pensávamos conhecer bem, e que afinal não conhecíamos, mas que conhecemos como se a nossa casa fosse. Se o Homem tem nele todos os sonhos do mundo, esta cidade parece ser o mundo onde um sonho nasce e se realiza, tão real quanto irreal, palpável mas aparentemente ilusório, demasiado fantástico para se conciliar com a consciência daquele que pela primeira vez a visita e se deleita com as luzes, a elegância, o charme, a sofisticação, únicos e irrepetíveis. Há algo nela que ganha o coração e enfeitiça os olhos daqueles que se passeiam por ela, devaneantes apaixonados, de passo itinerante mas errante, pés firmes mas mente enlevada. Uma evasiva pièce de résistance, uma essência indefinível. Entrar neste mundo mágico e explorá-lo, ainda que por tempo muito breve, é uma experiencia que resiste à definição, mas que define aquele que em vão a procura definir. Porque se encontramos facilmente uma definição para algo, sem termos que nos debater para encontrar uma forma apropriada de definir, é porque a experiência não pede ser relatada. E se temos dificuldade em definir uma experiência, é porque esta tem de ser vivida, sem que palavras eloquentes possam contá-la com verdade. A definição é redutora, e se a experiência lhe escapa, é porque não pode ser reduzida a meras letras, porque é demasiado imensa, arrebatadora. Evocar adjectivos ora para a cidade como para a experiência que esta oferece, pois, parece-me um exercício de imprecisão, afinal, como poderiam caber tantos sentimentos e emoções numa só palavra. De tudo o que dizem ser, o mais certo é que é o lugar que não pode deixar de ser revisitado, onde os trilhos aguardam ser novamente pisados, as memórias recordadas, os momentos revividos, a experiência renovada. O prazer de descobrir e desfrutar desta cidade é demasiado para ser esquecido, os sentidos suplicam exigentemente um regresso. A experiência completou, e porém foi incompleta.Tantas coisas que ficaram por fazer e por dizer, emoções por expressar, lágrimas por derramar, loucuras por cometer, desejos por satisfazer. Agora, depois do retorno, resta um vazio que anseia ser completado, alguém que não sabe o que preenche nem como preencher, mas julgou-se por alguns fugídios momentos preenchido. Do que restou, saudade e melancolia, o desejo de ter algo que não sei como ter, nem tenho a certeza de querer. Paris 5 Setembro a 9 de Setembro.
Posted on: Thu, 12 Sep 2013 03:25:45 +0000
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