É vero... Por que nós juízes somos arrogantes? Por certo - TopicsExpress



          

É vero... Por que nós juízes somos arrogantes? Por certo a arrogância na magistratura é variável. Há julgadores sensíveis, educados e cordatos. Na ponta oposta existem os extremos narcisistas, arrogantes, mal-educados, cujo nariz empinado é a característica que se destaca. Por certo a arrogância na magistratura é variável. Há julgadores sensíveis, educados e cordatos. Na ponta oposta existem os extremos narcisistas, arrogantes, mal-educados, cujo nariz empinado é a característica que se destaca. O fato de o mundo jurídico ter cunhado o termo juizite para esses últimos (o que acaba respingado em todos) demonstra que eles são em um número bem considerável. É comum o magistrado ser arrogante ou, quando não, formal demais, distante e pretensioso. Até mesmo os democráticos, com sensibilidade social, no aspecto pessoal não estão isentos de atitudes arrogantes e sobre valor do ego. Está na ordem da megalomania crer que realmente é possível fazer Justiça, ocupar a função de julgar o certo e o errado, resolver a vida dos outros, estar acima dos conflitos sociais, interpessoais e subjetivos… Trata-se de uma crença típica da visão mítica sobre ser um juiz. Essa condição psíquica pode levar o trabalho do magistrado pela via da neurose, de realmente querer ter capacidade de corrigir o vazio do Outro, colocar o mundo em ordem, favorecer os desfavorecidos, enfim, cada um com seu senso de Justiça. Essa postura também pode ser contraída pela via da psicose, crendo que se é um Juiz, verdadeiramente. Achando-se um ser superior, um deus ou semideus, trocando a identidade de um sujeito com nome, data de nascimento e submetido a conflitos, pela de ser juiz. Não é marido, é juiz. Não é pai, é juiz. Seus filhos não são crianças, mas filhos do juiz. Os neuróticos sofrem por que, mesmo que gozem nesse lugar megalomaníaco, sabem que não conseguem suportá-lo, sustentá-lo. Já os juízes psicóticos podem sofrer menos e, inclusive, fazer um ótimo trabalho (como oficialmente é esperado), justamente por não vacilarem na sua convicção de onipotência. Esses, quando se aposentam e perdem o cargo, costumam não suportar o cotidiano sem o poder da toga, pois haviam sido tomados pela identidade de juiz e perdido a de sujeito. Ao deixar de sê-lo, surtam ou morrem. Deixar-se vestir por um convencimento de superioridade infla o ego de tal forma que chega a afetar o raciocínio e leva a atitudes como a de se achar sempre certo, ser hostil a qualquer crítica e tê-la como ataque à democracia, ao ponto absurdo de levar a Associação dos Magistrados Brasileiros e as associações estaduais a defenderem privilégios e até aberrações legais, como a aposentadoria compulsória como pena administrativa, achando-os naturais e justos, um benefício à população, uma garantia do Estado Democrático de Direito, perdendo totalmente o senso crítico, o próprio bom senso. Por que o magistrado age assim? Qualquer sujeito, na tenra infância, se constitui a partir do Ego Ideal, característica do narcisismo primário, quando o sentimento onipotente, o princípio do prazer, de o mundo estar à disposição sem restrições, comanda a estrutura anímica. Mas já nos primeiros anos de vida todos nós nos deparamos com a realidade, com as interdições, com o Outro afetando nossos desejos, com as frustrações à onipotência, em especial com a passagem pelo complexo de édito. O narcisismo primário tem de se dissolver e, quando o princípio da realidade substitui o do prazer, há a primeira socialização e o sujeito terá de viver com o melhor possível. O ser onipotente passa ao ser coarctado e a enfrentar o mal-estar e o sofrimento. Essa nova realidade transforma o Ego Ideal em Ideal de Ego, ou seja, o melhor ego possível no mundo real com suas proibições culturais e frustrações dos desejos. Cada sujeito vai constituindo seu Ideal de Ego da melhor forma que conseguir, e nesse processo o trabalho é fundamental. O ser humano se identifica pessoal e socialmente a partir do trabalho. Sua constituição subjetiva é inseparável de sua relação laboral. O seu trabalho faz parte da estrutura básica do Ideal de Ego e esse está sempre de olho na felicidade infantil. No caso específico dos magistrados, o Ideal de Ego está vinculado a um trabalho de base mítica: um demiurgo, com a função de fazer Justiça. Chama por um super ser, idealiza uma super condição humana. Isso leva os arrogantes típicos, com estrutura psicológica sádica e que são no mínimo narcisistas, a buscarem a carreira da magistratura, pois com ela se identificam. A questão se inverte: o sujeito é arrogante não porque é juiz, mas, ao contrário, tornou-se juiz porque já era arrogante. O título desse texto poderia então ser: por que nós os arrogantes somos juízes? Embora seja lamentável, é preciso que se diga: também há a arrogância masoquista e os que ficam arrogantes após a posse. Ser dócil, educado e amigável pode ser uma forma de autoritarismo, uma bondade travestida em uma maneira de também colocar o outro na submissão. O filme Dogville demonstra isso com clareza. Enfim, juízes bonzinhos ou mauzinhos sempre colocarão o outro na submissão. Mas o trabalho tem de ser feito, pelo menos até um utópico patamar evoluído de organização social. A questão crucial talvez não esteja na forma de como ser, mas de como produzir o trabalho. De como se relacionar com a sua função, já que, necessariamente, o trabalho do juiz submete. O preocupante é quando a arrogância aparece na forma de antipatia, agressividade ou violência. Há ainda outro fator. Qualquer trabalho, incluindo o dos magistrados, está fadado à frustração. E, para evitar o sofrimento, criam-se mecanismos de defesa, tanto coletivos como individuais. O Ideal de Ego dos magistrados está muito identificado com a “superioridade” da função, com um ser especial, com um sacerdócio na linguagem dos próprios julgadores. E esse ideal não suporta limitações. Portanto, ser cortês, educado e amável é se limitar e a limitação se direciona a igualar o sujeito magistrado a qualquer outro sujeito – e isso é insuportável! A arrogância, nesse patamar, transforma-se em um mecanismo de defesa individual do ego contra a frustração do trabalho, contra o impossível de ser demiurgo e fazer Justiça. Não tende a dissolver-se, mas a se estruturar como base de execução do ofício de julgar, com a função de escamotear e de aliviar a dor. É possível o mecanismo funcionar por algum tempo, mas seu fracasso possui corolários terríveis, como a depressão, os tumores malignos e a morte prematura. .
Posted on: Sun, 03 Nov 2013 21:50:17 +0000

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