Última hora 31jul 19h01 Nacional Caderno 3 Reformas CCBNB permanece no Centro, mas não há data de reabertura 28.07.2013 Banco do Nordeste ainda reformará o Centro Sociocultural da Bela Vista, que possui um teatro inativo O discurso de atrelar a requalificação de espaços urbanos, sobretudo em cidades de grande e médio portes, às manifestações artístico-culturais não é novo. No entanto, nos últimos 20 anos, percebe-se, no Brasil, uma exacerbação desse pensamento, no sentido de que a arte pode servir como fio condutor não apenas para requalificar espaços urbanos, mas também ser usada como indutora de políticas sociais, educacionais e econômicas. Aos poucos esse raciocínio vem sendo incorporado ao modelo brasileiro de fazer política cultural, e o Ceará não fica de fora dessa realidade. O "novo" CCBNB e o centro cultural da Bela Vista (em situação precária) fotos: Kid Junior/ LUCAS DE MENEZES No momento, Fortaleza vive essa situação, quando desde o ano passado o Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB) perdeu sua sede e procura um espaço para continuar realizando o seu trabalho. E, mais, sem perder a sua proposta inicial: contribuir para a requalificação do Centro histórico da cidade e promover ações de cunho artístico-culturais. Ao receber o Centro de Referência do Professor, da Prefeitura, o BNB também se comprometeu em assumir a restauração do Centro Sociocultural da Bela Vista, com espaço para teatro, quadra esportiva e biblioteca. A reforma do CSBV é estimada em R$ 2 milhões. O CCBNB foi criado durante o "boom" desses equipamentos em Fortaleza, entre as décadas de 1980 e 1990, funcionando durante 15 anos na Rua Floriano Peixoto, Praça Murilo Borges. Há nove meses, vivia sob o signo da indefinição quanto a encontrar uma nova moradia. Mas, para dar continuidade a sua proposta, vai desalojar o Centro de Referência do Professor, que funcionava no local desde o fim dos anos 1990, quando o antigo Mercado Central de Fortaleza foi transferido para no novo prédio, na Avenida Alberto Nepomuceno. Além de servir de centro de treinamento para professores da rede municipal de ensino em novas tecnologias, abriga a Galeria de Arte Antônio Bandeira e o Memorial Sinhá D´Amora. Numa demonstração clara da política de mesclar cultura, arte e educação e requalificação urbana num mesmo espaço. Surpresa A notícia pegou de surpresa os servidores que trabalham no local, enquanto os lotados na Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor) que trabalham na galeria e no memorial lamentam a saída. Eles chamam a atenção para a importância da preservação da memória tanto da artista quanto da Cidade. Em nota, a assessoria de comunicação da Secultfor informa que a intenção da Prefeitura Municipal de Fortaleza foi a de "garantir que o centro da Cidade não perdesse o uso de um equipamento importante como o CCBNB". Reitera, ainda, que a Galeria Antônio Bandeira permanecerá no mesmo lugar, sendo administrada numa gestão compartilhada entre BNB e a administração municipal. Assim como o acervo Sinhá D´Amora, que passará por restauro, ganhando formato de exposição. Com relação ao destino do Centro de Referência do Professor informa que as atividades foram transferidas para a sede da Rua Dona Leopoldina. Precariedade A situação do Centro Sociocultural da Bela Vista, que na realidade, abriga o mercado do bairro, é precária. Telhas quebradas, instalações elétricas e hidráulicas necessitando de reparos, boxes fechados, infiltrações, lixo ao redor, paredes precisando de pinturas, falta de zeladores e de segurança. Esse é o quadro do equipamento, cuja finalidade é a venda de frutas, verduras, peixes, carnes, situado na Rua Papi Júnior, numa área estimada em metade de um quarteirão. Construído em 1967, a última reforma no prédio foi realizada na gestão Juracy Magalhães, como admite José Evaristo de Paula, administrador do mercado, que fica a cargo da Secretaria Executiva Regional (SER) III. "O BNB vai assumir a reforma do prédio todo, ficando o teatro sob a sua responsabilidade", afirma o administrador. A quadra esportiva e um espaço na parte superior, destinado a uma biblioteca, também ficarão sob a responsabilidade do BNB, numa gestão compartilhada. "O teatro está em perfeita condição", garante José Evaristo de Paula. "O espaço existe na teoria, faltando a prática", analisa. O espaço já serviu para abrigar reuniões dos Alcoólicos Anônimos (AA) e aulas de ballet. O mercado da Bela Vista conta com 51 boxes, espalhados em dois pavimentos. No inferior, funcionam os boxes para a venda de carnes, frutas e verduras, no horário das 7h ao meio dia. Apenas três permissionários estendem o expediente até às 17h. O pavimento superior é sub-aproveitado, sendo destinado à venda de artesanato e confecções. Antes de passar pela reforma, o equipamento era apenas um galpão, amplo, destinado à venda de produtos de alimentação. "O povo não foi ouvido", reclama o administrador, daí a inclusão dos espaços destinados às manifestações culturais e de esporte, a exemplo da quadra, hoje, sem funcionamento. "A biblioteca nunca existiu. Os livros não chegaram", diz, assim a sala ganhou nova função, funcionando a administração do mercado. O administrador desabafa que o mercado perdeu com a última reforma, uma vez que as pessoas invadem a quadra, escalando pelos combogós. A estimativa era de que a reforma começasse em três meses. "Acredito que vai melhorar o funcionamento", aposta. A situação de abandono é compartilhada pelos permissionários que querem ver o equipamento em pleno funcionamento. Há 20 anos trabalhando no local, Francisca Lopes reivindica uma reforma completa. "Queria mesmo era o mercado ativado", destaca, acrescentando que o teatro e a quadra são equipamentos secundários. Aqui, a tradição é a venda de frutas, verduras e carnes. Weider França, funcionário da SER III assegura que a quadra não é utilizada pela comunidade, sugerindo que fosse transformada em um posto de saúde. É urgente a reforma na infraestrutura do mercado, já que o teto está danificado. Quando chove o espaço fica alagado, reclama. Transição Aos poucos, o prédio que até 1997 abrigou o Mercado Central de Fortaleza, para se transformar no Centro de Referência do Professor, assume a personalidade do novo locatário: o CCBNB. Logo na entrada do prédio, localizado na Rua Conde D´Eu, uma placa avisa que a população de Fortaleza vai ter de incorporar no imaginário coletivo mais uma função para o local. A inscrição "Futuras instalações do novo CCBNB" chama a atenção de quem passa. Jogado no chão, no lado de dentro do muro, está o antigo reclame luminoso do "Centro de Referência do Professor" , equipamento da Prefeitura de Fortaleza que contemplava também a Galeria Antônio Bandeira e o Memorial Sinhá D´Amora. Algumas faixas interditam partes do equipamento cuja concessão ao BNB causou, no mínimo, "surpresa" aos servidores lotados no local. Enquanto outros não conseguem esconder a apreensão quanto ao destino do acervo da artista plástica cearense Sinhá D´Amora, inaugurado em fevereiro de 2002. Tânia Madruga, coordenadora do memorial, lamenta a situação. Chama a atenção para um dado importante: a construção da memória da Cidade. Na última quarta feira à tarde, foi realizada reunião com a equipe de transição, no prédio que vai receber o CCBNB. Conforme Patrícia Fernandes, professora e coordenadora do Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE), os trabalhos continuarão até o fim do ano. "Foi o que ficou acordado", reforça. O projeto de transferência do CCBNB para o prédio pertencente à Prefeitura de Fortaleza tramitava na Câmara Municipal desde dezembro de 2012, período de indefinição para CCBNB, que continua com o serviço de biblioteca desativado. Mas a concessão da Prefeitura Municipal de Fortaleza do Centro de Referência do Professor implica em obrigações por parte do BNB. A principal é a recuperação do Centro Sociocultural da Bela Vista, bem como a inclusão do teatro do local, da quadra esportiva e de uma biblioteca no equipamento. Sem contar com o trabalho de convencimento da população, que está mais interessada em ver o mercado funcionando e ter um posto de saúde. IRACEMA SALES REPÓRTER
Posted on: Thu, 01 Aug 2013 00:46:48 +0000
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