A "profissão" de ser cego! Não sendo considerada, como é - TopicsExpress



          

A "profissão" de ser cego! Não sendo considerada, como é óbvio, uma profissão, a cegueira, para quem a quer viver plenamente integrado socialmente, constitui um dos mais difíceis ofícios dada a complexidade de que se reveste. Não sendo remunerada, pelo menos de uma forma sustentável, exige a acumulação com uma atividade que permita ao cidadão uma vida digna, com acesso pelo menos às necessidades básicas do ser humano. Dotada de algumas limitações, maiores ou menores consoante a reabilitação e/ou a aprendizagem que usufruiu, a pessoas cega parte para este desafio numa posição altamente desvantajosa em relação aos restantes candidatos. Obrigado a superar-se a si próprio, nas mais variadas valências, raramente é reconhecido pelas suas capacidades, sendo normalmente visto como incapaz de desempenhar cabalmente a sua profissão, não lhes sendo dadas muitas vezes, oportunidades de as demonstrar. As suas dificuldades começam logo ao acordar, impossibilitado de ao abrir a janela do seu quarto poder contemplar as maravilhas do romper da aurora com o esplendor do raiar do astro rei e de toda a beleza que a natureza nos oferece diariamente, com alternância de cenários mediante a estação do ano em que nos encontramos. Depois de cumpridas as tarefas respeitantes à sua higiene pessoal, normalmente facilitadas pela rotina de que se revestem, surge novo desafio, mais ou menos dificultado em função da residência e do local de trabalho, com o desbravar do reboliço das nossas vilas e cidades, onde raramente se pensa naqueles que dispõem de algumas dificuldades de mobilidade. O acesso aos transportes públicos, o atravessar de vias bastante movimentadas e essencialmente a frequente surpresa de obstáculos nas mais diversas artérias, traduzem-se num risco e esforço de concentração redobrados para quem necessita de chegar a horas ao seu emprego. Cumprida a 1ª fase deste ingrato ofício, que será complementado no final do dia, com o regresso a casa, o cego vai ocupar-se da sua real profissão, sempre com o peso nos seus ombros, de não desiludir os seus chefes e se possível, surpreendê-los favoravelmente. Não raras vezes, são vítimas de descriminações e comentários sobre o seu infortúnio, tendo de estar preparados para a insensibilidade e falta de cultura de uma ainda grande franja da população portuguesa que ainda os vê como seres diferentes e inferiores, dada a deficiência que possuem. Limitados também na suas atividades de lazer, são as barreiras sociais, sem dúvida as mais difíceis de ultrapassar, pois dependem essencialmente da mentalidade dos cidadãos em relação à problemática da cegueira, embora os cegos tenham um papel importante neste domínio, demonstrando as suas reais capacidades. Esta “profissão” apesar do seu elevado risco e de um inqualificável número de obstáculos refletidos no dia a dia, nem por isso tem direito a reformas antecipadas, sendo escassos os benefícios a que têm direito, face à situação ingrata e desvantajosa em relação aos demais e às dificuldades que têm de enfrentar a cada momento. São as desvantagens e consequências de fazer parte de uma minoria sem poder reivindicativo e sem qualquer estatuto, esquecida como tantas outras, por aqueles que felizmente nunca tiveram de exercer tal “profissão”. posted by José Luís Lopes.
Posted on: Wed, 11 Sep 2013 03:02:44 +0000

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