Eis um vídeo muito interessante e excelente para quem possuir domínio do inglês. Numa entrevista o ator Russell Brand fala sobre sua proposta recente de servir como editor para a revista New Statesman, em uma edição especial sobre revoluções, com uma análise contemporânea das ocorrências recentes ao redor do globo. Gostaria de destacar que não só Russell é mais que um simples palhaço como o seu entrevistador não foi nada leniente: foi em cima dos pontos e deixou bem claro o grande problema com a proposta do ator britânico. Que o mundo vai mal em vários aspectos (desigualdade e crise econômica, problemas ambientais, etc) é evidente, a questão é querer que as pessoas aceitem um novo projeto de mundo que sequer foi desenhado. Seria (em minhas palavras) como assinar um contrato social sem ler as cláusulas, substituindo nosso atual contrato social (e, com ele, as instituições relevantes). Fica claro que Russell não faz ideia de como resolver o problema. Mas tem boas ideias de problemas que de fato existem e que nosso sistema democrático contemporâneo não consegue processar a contento. E essa, pra mim, é a verdade mais amarga em seu discurso. Me lembra uma discussão que tive com Igor Santos e Meire na última eleição, sobre a profunda dificuldade que nós temos em acreditar que o instituto político do voto seja algo além do puro simbolismo. Requer um salto de fé IMENSO acreditar que em um sistema democrático representativo como o nosso você vai ser ouvido como deveria. Que os valores que orientam o governo (e as famigeradas coalizões nacionais [que você elegeu ou ajudou a eleger]) sejam aqueles que você considera justo. Não estou dizendo aqui que apoio os Black Blocs e outras formas de contestação violenta do sistema (Estive discutindo isso com Vítor Joanni, Aline Souza e Rodrigo Saraceno recentemente, inclusive). Mas há uma mensagem seríssima que precisa ser encarada urgentemente: a de que o sistema democrático possui limites inerentes à sua construção, da mesma forma que a linguagem pauta uma mensagem. Nosso sistema ELEITORAL atual (E não me restrinjo à CF88, apesar de falar essencialmente do nosso paradigma atual, brasileiro, contemporâneo) foi projetado para ser excludente, para dar um espaço formal mas não material. Em outras palavras, nosso sistema basicamente abre a possibilidade universalmente para a participação mas, por vários motivos, a restringe a quem possui muitos recursos (especialmente financeiros, mas não somente, em nossa sociedade fiscalizar a democracia é assunto para quem tem muito tempo livre [inclusive sendo malvistas pela sociedade por isso, por não estarem empenhadas em seu papel de produção, que é, afinal, o principal no estágio atual da nossa civilização]). Quando eu recomendo esse vídeo não o é por ele ser perfeito, ou por concordar integralmente com o discurso de Brand (não nego que concordo em grande parte com sua consternação, com seu senso de injustiça urgente). Mas por achar que a discussão sim, sobre nossos termos de justiça, sobre os valores que temos/queremos como sociedade organizada. Justiça, é, afinal, o feijão do arroz, o Buchecha do Claudinho, o Bebeto do Romário, o triângulo do acordeon, o glacê do bolo dessa tal ideia de vida em sociedade. Uma sociedade em que uns se beneficiam muito mais do que outros do arranjo (e da produção econômica) coletiva não faz sentido, especialmente que se espere que seja defendida por seus integrantes. Nós precisamos lutar para aprimorar (desenvolver? inventar? sonhar?) instituições de forma que possamos lutar por elas contra tudo e contra todos. Do jeito que a democracia anda, refém de anacronismos e do triunfo das nulidades, é de se esperar que alguns só enxerguem isso tudo com cinismo ou como uma piada. Vamos continuar na turma do deixa disso ou vamos começar a discutir mudanças sérias para nosso país (nossos países)?
Posted on: Wed, 30 Oct 2013 18:58:54 +0000