Era véspera de natal, o natal à mim só interessava por causa do - TopicsExpress



          

Era véspera de natal, o natal à mim só interessava por causa do peru... ei, não penses besteira, está bem? Bom, além do peru interessavam-me as uvas, o banquete, os pisca-piscas, os fogos de artifício, a alegria das pessoas, as músicas, os enfeites de natal, a energia boa que ocorria mesmo que eu não a sentisse por inteiro, as crianças que rodam bombril aceso, os presentes de natal, o álcool, os amigos-ocultos que sempre carregavam discursos e às vezes umas verdades em forma de brincadeiras, enfim, eu gosto do natal não pela data em si, mas pelas coisas que se passam nesse dia. A mesa já estava posta, toda a família possível reunida, e mais alguns convidados "de fora", fora preciso trazer mais cadeiras e colocar mais pratos à mesa, sem problemas, eram oito horas da noite, grande parte dos convidados já haviam chegado, o álcool já estava liberado, os primos menores insistiam para beber, mas só podiam beber um pouco de champagne sem álcool, os enfeites de natal tinham brilho próprio em si mesmos, as musiquinhas dos pisca-piscas eram abafadas pelo som principal, mas quem chegasse perto as escutaria tocando em sua única época uma vez por ano, todos estavam muito elegantes e descontraídos, e claro que haviam as paqueras de todo o ano, o que deixava o clima "família" um pouco mais pesado e borboletador de estômago, eu já estava em meu terceiro copo de vodka pura... quando eu era criança, poderia jurar que uma única vez havia visto o papai noel atravessar o céu com suas renas e seu trenó, eu tenho certeza que vi... vi... vi sim! Todos conversavam sobre as coisas do ano inteiro, como se só naquele dia tivessem de fato interesse em saber, os sorrisos duravam mais e não eram apenas superficiais, se sentiam à vontade... uma conhecida minha conversava comigo, chamava-se Camila, Camila era loira, olhos castanhos, rosto fino e delicado, corpo pequeno porém mediamente farto, estava vestida toda de vermelho, e de salto alto, Camila é muito bonita... dizia que tinha gostado da decoração, que eu estava bem, e que seu ano tinha sido sem muitas glórias, mas que tivera alguns momentos felizes, eu a respondia que meu ano tinha tido a duração de seis-meses e a duração de quatro anos ao mesmo tempo, ela não entendera, eu a dissera também que havia vivido bem alguns dias desse ano, Camila encontrava-se no segundo copo de vinho, não gostava de vodka, dizia que o gosto era ruim... Todos conversavam entre cantos, entre sofares, na cozinha, e etc, os primos menores corriam brincando de polícia e ladrão, a noite límpida e atraente, pessoas passavam na rua gritando e brincando, festas aconteciam em residências próximas, vários sons ouviam-se pela vizinhança, minhas tias faziam as mesmas perguntas de sempre, me afagando, era bom ver os parentes tão livres e eles mesmos naquela noite... então chegara a hora do amigo-oculto, prima Patrícia iria abrir o amigo oculto, Patrícia sempre fora comunicativa e muito simpática quando lhe interessava, usava cabelos curtos, e um vestido justo de brilhantes preto e a maquiagem bem feita, também usava salto alto, boa parte das mulheres usava salto alto naquela noite; a sala inteira dançava em torno de si mesma, Patrícia começara dizendo que a pessoa que havia tirado era mal-humorada em maior parte do tempo, mas que por baixo de tudo era uma pessoa engraçada e de bom coração, que era uma pessoa que sempre achava que estava certa e que era uma pessoa que também não sabia ouvir, mas que era também uma pessoa boa e prestativa e que ela amava demais, havia tirado seu próprio pai, aplaudiram, sorriram, meu tio sorria com uma pontinha de vergonha, e negava que não sabia ouvir e admitia que era uma pessoa engraçada... o presente era uma pena, sim, isso mesmo, uma pena, toda branquinha... a explicação de cada presente deixarei omitida pois não precisa. Meu tio começara dizendo que havia tirado alguém que era uma segunda parte dele, eu logo adivinhei, que essa pessoa era uma das pessoas que mais importava à ele, havia tirado a esposa, minha tia sorrira lisonjeada, aplaudiram, o presente era um objeto curioso, todo de ouro, duas partes se juntavam em um equilíbrio perfeito no topo, mas, se você tirasse uma parte, a outra caia e só tornava a subir se você colocasse a outra parte de volta, todos aplaudiram, os dois se beijaram... minha tia dissera que havia tirado uma pessoa que fora como um braço direito à ela e sua família por muito, muito tempo, e que até hoje não havia perdido seu valor, havia tirado minha mãe, aplaudiram, sorriram, minha mãe sorria simpática, o presente era uma peça de quebra-cabeças, toda de ouro, grafado: "Essencial", os olhos da minha mãe encheram-se d´água, aplaudiram muito... Eram muitos presentes, todos criativos, então para o post não ficar muito longo, vou logo pular para a minha vez, eu ainda não havia sido chamado pelo nome e recebido meu presente, mas a pessoa que iria continuar com a brincadeira havia já bebido demais e passava mal no banheiro, depois entregaria o seu presente e receberia o seu, então tomei a frente e comecei dizendo que havia tirado uma pessoa sem paciência com as coisas, que se irritava com facilidade e que não sabia apreciar os momentos, havia tirado meu primo, dei-lhe uma ampulheta que achei muito bonita e quase fiquei pra mim, aplaudiram me olhando, meu primo meio envergonhado me dera um abraço, mas humilde aceitava minhas palavras... eu nem poderia imaginar quem havia me tirado, e essa pessoa começava dizendo que a pessoa que ela tinha tirado, era uma pessoa incrível, que somente conhecendo para saber, uma pessoa que não haviam palavras para exprimir, uma pessoa engraçada, uma pessoa que roubara-lhe o coração e que fazia de suas madrugadas as mais longas possíveis, uma pessoa que lhe girava o mundo de cabeça pra baixo, essa pessoa que falava suava, via-se o nervosismo em seus olhos, as mãos tremiam, notei que uma de suas pernas também tremia de leve, aos poucos eu me tocava, e pensava comigo "não pode ser, não pode ser", continou dizendo que a pessoa que havia tirado, fazia de seus sonhos realidade, que havia se tornado sua vida, que não era nada sem ela, e que sem ela morria, então, todos muito curiosos para saber quem era e para saber que presente era, já quase aflitos, a sala agora girava lentamente, meu coração batia numa taquicardia doida, essa pessoa revelara que era eu, fiquei tonto, minha testa agora queimava em chamas vivas, não sabia o que pensava, se é que eu pensava, cambaleei, todos me olhavam, eu suava, não conseguia articular um balbucio sequer, como se não bastasse, essa pessoa não me entregara o presente, ajoelhara-se em minha frente, abrira o presente, uma caixinha de veludo preta, dentro uma aliança de ouro, pedira-me em casamento na frente de todos dizendo cada palavra corajosamente e lentamente, "Quer se casar comigo?" galanteadoramente, eu não sabia o que dizer, todos paralisaram, boquiabertos, mas também profundamente emocionados, Camila parecia que iria chorar, a sala girava depressa agora, eu achava que iria desmaiar a qualquer instante, mas, para evitar transtornos, peguei essa pessoa pelo braço e a levei para fora da sala, com sua caixinha ainda em mãos, e disse à sala que continuassem o amigo oculto normalmente, e dei um sorriso, ou pelo menos acho que dei, uma outra prima tomara um ar divertido e continuara o amigo oculto, me salvando parcialmente... do lado de fora, disse à essa pessoa que a amava, mas não poderia me casar agora, eu tinha apenas dezenove/vinte anos, ela se ofendera, dissera que fizera tudo aquilo para nada, eu respondi que foi perfeito, mas que não foi legal para alguns, não que eu me importe muito com a opinião alheia, ela dissera que ficaria com cara de idiota, eu disse que não, que não ficaria... ela tomara uma dose forte de conhaque, eu também, ela quase jogara o copo no chão com a raiva que estava, eu também já estava começando a ficar irritado, discutíamos agora, discutimos por uma hora ou mais, as palavras tão perfeitas que pareciam ensaiadas, nossos corpos queimavam, estávamos meio aéreos, os olhos só viam nós mesmos, mas estávamos longe dos outros, eu disse que ela poderia manter o pedido, mas que a resposta viria em tamanho igual ou maior depois, quando estivéssemos mais preparados, pois eu já gostaria muito de ter aceitado... por fim nos entendemos, eu disse que me resolveria com meus pais depois, e que não teriam grandes complicações afinal, tomamos outra dose de conhaque, voltei a raciocinar como podia, a música voltara a tocar para nós dois, o natal voltava a ganhar suas formas, apesar de parecer ter sido um pouco atingido pelo fogo em suas raízes, meus primos menores rodavam bombris acesos na rua, alguns fogos já se viam, eram onze e meia da noite, tudo parecia caminhar para um climax neutro, que era o climax da festa em si, as pessoas já sorriam denovo, fingindo ter esquecido o acontecido, eu e essa pessoa entramos de novo, e talvez pelo "espírito de natal", os outros nos olhavam bem, sem nenhum segundo olhar mal intencionado, meia-noite, meus tios soltavam vários fogos, todos desejamos feliz natal à todos com alegria... depois era hora da ceia, todos à mesa, a ceia era altamente deleitante, copos brindavam, talheres batiam no prato, a mesa e o ambiente tinham um ar meio antigo, tradicional, a pessoa que me pedira em casamento do meu lado, Camila do meu outro lado, tia Dolores contava piadas muito engraçadas, todos já haviam esquecido por hora o pedido de casamento, tio Jorge insistira em fazer a piada do pavê, por baixo da mesa a pessoa que me pedira em casamento acariciava minha coxa, eu sorria das piadas e da situação, Camila de repente também me dava delicados chutes por debaixo da mesa, eu estava muito bonito essa noite, os cabelos pretos penteados para trás, levemente ondulados, o rosto jovem, uma camisa social vermelha, calça social preta, e um sapato preto engraxado, todos nós comemos e bebemos até ficarmos fartos, as conversas superficiais porém muito boas, vinhos abertos e risadas ao ar, palavras camaradas, elogios... depois da ceia grande parte bebia, recebi telefonemas de feliz natal, e a festa passara-se ótima madrugada a dentro, todos estavam satisfeitos.
Posted on: Thu, 03 Oct 2013 22:28:55 +0000

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