Histórias IV – O GRANDE SUPREMO Aquele que sabe o que é de - TopicsExpress



          

Histórias IV – O GRANDE SUPREMO Aquele que sabe o que é de Deus e o que sabe o que é do Homem alcançou verdadeiramente o cimo (da sabedoria) aquele que sabe o que é de Deus, molda sua vida segundo Deus. Aquele que sabe o que é do Homem, pode ainda usar sua ciência para desenvolver o conhecimento do desconhecido, vivendo até o fim de seus dias e não perecendo jovem. Eis a perfeição do saber. Nisso, entretanto, há uma falha. O saber correto depende dos objetos, mas os objetos da ciência são relativos e incertos (mutáveis). Como se pode saber que o natural não é realmente do homem e o que é do homem não é realmente natural? Nós devemos, além disso, ter os homens verdadeiros antes de termos a ciência verdadeira. Mas o que é o homem verdadeiro? O verdadeiro homem de antigamente não se aproveitava do fraco, não atingia seus fins pela força bruta, e não reunia ao redor de si os conselheiros. Assim, falhando, não tinha motivo para arrependimentos; sendo bem sucedido, nenhuma causa para satisfação própria. 26 Hueitse várias vezes discute a natureza dos atributos, como a "dificuldade" e a "brancura" dos objetos.HADNU.ORG 36 E podia subir a alturas sem tremer, entrar na água sem molhar-se e passar pelo fogo sem queimar-se. Eis a espécie de conhecimento que chega às profundezas de Tao. Os verdadeiros homens de antigamente dormiam sem sonhos e acordavam sem preocupações. Comiam indiferentes ao paladar e aspiravam fundamente o ar. Porque os verdadeiros homens aspiram o ar até os calcanhares; os vulgares até, apenas, a garganta. Da boca dos perversos as palavras são expelidas como vômitos. Quando as afeições do homem são profundas, seus dons divinos são superficiais. Os verdadeiros homens antigos não sabiam o que era amar a vida ou temer a morte. Não se alegravam pelos nascimentos nem se esforçavam para evitar a dissolução vinham sem preocupações e partiam sem preocupações. Era tudo. Não se esqueciam de onde tinham surgido, mas não procuravam indagar quando voltariam para lá. Alegremente aceitavam a vida esperando pacientes pela redenção (o fim). Eis o que se chama não desencaminhar o coração de Tao, e não suprir o natural por meios humanos. A um homem desses chamar-se-ia com razão um homem verdadeiro. Homens assim são de espírito livre e calmos no agir e têm testas altas. Algumas vezes são desconsolados como o outono, e outras animados como a primavera; suas alegrias e tristezas estão em razão direta com as quatro estações, em harmonia com toda a criação e ninguém pode conhecer-lhes o limite. E assim é que quando o Sábio assalaria a guerra, ele pode destruir um reino e sem perder contudo a afeição do povo; espalha bênçãos sobre todas as coisas, porém isso não é devido a seu (consciente) amor dos semelhantes. Portanto aquele que sente prazer em compreender o mundo material não é um Sábio. O que tem afeições pessoais não é humano. O que calcula o tempo de suas ações não é inteligente. O que desconhece a diferença entre o beneficio e o mal não é um homem superior. O que anda atrás da fama sob risco de perder o próprio eu não é um erudito. O que perde a vida e não é sincero para si mesmo, nunca pode ser mestre dos homens. Assim Hu Puhsieh, Wu Kuang, Po Yi, Shu Ch’i, Chi Tse, Hsu Yu, Chi T’o e Shent’u Ti foram os servos dos governantes e cumpriram o mandato de outros e não o seu próprio. Os verdadeiros homens de antigamente pareciam ser de estatura gigantesca e, contudo, não podiam ser abatidos. Portavam-se como se em si próprios faltasse alguma coisa, mas sem olhar para os outros. Naturalmente independentes de espírito, não eram severos. Vivendo em liberdade sem peias todavia não tentavam exibi-la. Pareciam sorrir quando quisessem e mover-se 37 OS ESCRITOS DE CHUANG TSU apenas segundo necessidade. Sua serenidade fluía da bondade interior. Nas relações sociais conservavam o caráter íntimo. De espírito tolerante, pareciam grandiosos; gigantescos pareciam acima de controle. Constantemente dentro de suas casas, pareciam portas fechadas; de espírito abstrato, pareciam ter esquecido o dom da palavra. Viam nas leis penais uma forma externa; nas cerimônias sociais, certos meios; na ciência, instrumentos de utilidade; em moralidade, uma guia. Eis a razão pela qual, para eles, as leis penais significavam uma administração misericordiosa; as cerimônias sociais, um meio de caminhar com o mundo; a ciência, uma ajuda para fazer o que não podiam evitar; e a moralidade, um guia que os podia fazer andar ao lado de outros para chegar a uma colina. E todos os homens pensavam realmente que eles sofriam para viverem corretamente. Pois o que lhes prendia a atenção era o Único e o que não os preocupava era o Único também. O que consideravam como Único era Único e o que não consideravam como Único era Único outrossim. No que era Único, eles eram de Deus; no que não era Único, eram do homem. E assim, entre o humano e o divino não se produzia nenhum conflito. Eis o que era ser um homem verdadeiro. A vida e a Morte fazem parte do Destino. Sua sequência, como o dia e a noite, é de Deus, acima da interferência do homem. Tudo isso existe na natureza inevitável das coisas. Ele olha simplesmente para Deus como seu pai; se ele o ama com seu corpo, por que não amá-lo também com o que é maior do que o corpo? Um homem olha para o dirigente das massas como para alguém que lhe é superior; se ele quer sacrificar seu corpo (por seu dirigente) não oferecerá também o que tem de puro (espírito)? Quando a lagoa seca e os peixes ficam sobre o solo seco, de preferência a deixá-los procurarem umidade com suas secreções e saliva seria bem melhor deixá-los esquecidos em seus rios e lagos nativos. E seria melhor do que rezar a Yao e censurar Chieh por ter esquecido ambos (o bom e o mau) e perder-se em Tao. O Grande (universo) deu-me essa forma, essa lida na virilidade, esse repouso na velhice e o descanso na morte. E certamente quem é um tal árbitro de minha vida é o melhor árbitro de minha morte. Um bote pode ser escondido numa enseada, ou oculto num pântano, geralmente considerando-se que fica em lugar escuro. Mas à meia noite um HADNU.ORG 38 homem forte pode vir e carregá-lo nas costas. Os de compreensão difícil não percebem que, embora se possa esconder as coisas pequenas nas maiores, sempre haverá uma probabilidade de perdê-las. Porém se você confiar o que pertence ao universo inteiro, dali não haverá fuga possível. Pois é essa a grande lei das coisas. Termos sido lançados nessa forma humana é para nós fonte de alegria. Que alegria maior, além de nossa concepção, saber que o que está agora sob forma humana pode sofrer transições sem fim tendo apenas o infinito por limite? Eis porque o Sábio se regozija com aquilo que não pode perder-se e sim que dura sempre. Pois se imitamos os que aceitam graciosamente unia vida longa ou uma vida curta e as vicissitudes dos acontecimentos, quanto mais não imitaríamos o que anima toda criação da qual dependem todos os fenômenos de transformação? Pois Tao tem sua realidade interior e suas evidências. É desprovido de ação e de forma. Pode ser transmitido mas não recebido. Pode ser obtido, mas não visto. Baseia-se em si mesmo, tem raízes em si próprio. Antes da existência do céu e da terra, Tao existia por si desde muito. Dá o espírito e rege seus poderes espirituais, e deu ao Céu e à Terra seu nascimento. Para Tao o zênite não é alto, nem o nadir, baixo; nenhum ponto no tempo passou-se há muito, nem pelo lapso das eras ficou velho. Hsi Wei obteve Tao e assim pôs o mundo em ordem. Fu Hsi27 o obteve e pôde roubar os segredos dos princípios eternos. A Grande Ursa o obteve e jamais se desviou de seu curso. O sol e a lua, o obtiveram e nunca mais deixaram de girar. Ka’n P’i 28 o obteve e foi morar nas montanhas K’unlun. Ping I 29 o obteve e rege as correntes. Chien Wu30 o obteve e mora no Monte T’ai. O Imperador Amarelo31 o obteve e vagueia acima das nuvens, do céu. Chuan Hsü32 o obteve e vive no Palácio Negro. Yu Ch’ang33 o obteve e estabeleceu-se no Pólo Norte. A Rainha Mãe Ocidental (Fada) o obteve e fixou-se em Shao 27 Imperador mítico (2852 a.C.) a quem se atribui a descoberta dos princípios de mutação de Yin e Yang. 28 Com cabeça de homem, mas com corpo de besta. 29 Espírito do rio. 30 Um Deus montanhês. 31 Um governante meio mítico que regeu 2698-2597 a.C. 32 Um governante semi - mítico que regeu 2514-2437 a.C., pouco antes do imperador Yao. 33 Um Deus aquático com rosto humano e corpo de ave.39 OS ESCRITOS DE CHUANG TSU Kuang, desde quando e até quando, ninguém sabe. P’eng Tsu o obteve e viveu desde o tempo de Shun até o tempo dos Cinco Príncipes. Fu Yueh o obteve e como Ministro de Wu Ting34 viu suas leis obedecidas por todo império. E agora, de carro sobre Tungwei (uma constelação) e puxado por Chíwei (outra constelação), passa tempos entre as estrelas do céu.
Posted on: Fri, 23 Aug 2013 02:34:40 +0000

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