Liquidez, fluidez. Edestino era o nome que o batizaram na igreja - TopicsExpress



          

Liquidez, fluidez. Edestino era o nome que o batizaram na igreja quando nasceu. Haveria de cumprir um destino que lhe "aperreava" se não fosse o trocadilho da palavra. Tinha os intestinos muito "trabalháveis", se assim correto fosse descrever. Qualquer alimento mais gorduroso imediatamente dava alarmes de que um banheiro próximo seria necessário. Estava agora com 25 anos de idade e trabalhava numa concessionária de carros usados, princípio dos anos 90, em Belo Horizonte. De repente, o advento do celular apareceu na sociedade de consumo como uma forte arma nos negócios para que a liquidez dos negócios com clientes e fornecedores tivesse um paralelo com seus intestinos, a rapidez e fluidez. Decidiu pela compra e investimento deste equipamento. Comprou um modelo Bosch com antena. Comparado aos modelos atuais parecia uma miniatura de uma geladeirinha , grosso como um câmbio de marchas de caminhão antigo. Entretanto, era o top da época e previlégio de ricos ou investidores decididos pelos seus negócios . Pagou o absurdo de U$ 1.600 dólares , fora a linha que custou mais outros U$ 1.700,00. Não foi brincadeira. Saiu da loja com o aparelho funcionando. Colocou-o no bolso da calça jeans e caminhou pela Avenida Afonso Pena já esperançoso de alguém ligar e assim sentir-se ainda mais incluído e participante na nova era das telecomunicações e negócios. Pôs-se a dirigir com seu Fiat pelas ruas na intenção de voltar para o edifício onde vivia com sua Tia Almerinda, que lhe fazia todos os mimos de uma tia solteirona. Ao avistar uma loja de um famoso fast food, resolveu entrar e fazer uma boquinha, mesmo sabendo que aquele era um lugar proibido para seu delicado aparelho intestinal que nunca perdoava estes pecados. Tinham ambos uma relação conflituosa. Edestino que era consciente e conhecedor por diversas experiências de suas limitações e traições intestinais resolveu mais uma vez comer o que não devia. A solução era , após saborear seus encantos, entrar a todo vapor no carro e dirigir-se com urgência para seu banheiro seguro mais próximo, e assim vingar-se das tripas. Dificilmente fazia necessidades fora de seu habitat. Seria em casa ou nas calças. Estacionou o carro na garagem do prédio abruptamente, subiu as escadas que davam para o segundo andar e abriu a porta do apartamento como um policial federal com mandato judicial arrombando uma casa de um traficante. Por fim chegou à porta do banheiro , virou a maçaneta e finalmente a sua frente o paraíso relativo, um vaso sanitário de porcelana e um rolo de papel higiênico Gigi. Desceu a calça mais rápido que Clark Kent se despia em cabine telefônica e antes que se sentasse esqueceu-se do celular Bosch no bolso da calça que caiu dentro da água do sanitário numa sincronia exata de soltar em cima toda a merda acumulada que parecia haver no mundo. Não houve tempo para nada, e aquele que houve serviu apenas para dizer "que se dane". O intestino desta vez não vingou-se nas calças mas fez pior. Ficou com um celular e um linha telefônica , juntos, no valor de 3.300,00 dólares. Aliviado do mal estar Edestino articula sua vingança. Não dá descarga ainda no vaso. Vai à cozinha , pega num apanhador de saladas e retorna ao vaso. Consegue recapturar o celular "pescando" o aparelho submerso naquele lago marrom e barrento. Lava-o em torneira da lavabo. Enxuga-o com folhas do papel Gigi e na varanda do prédio inicia a desmontagem com uma chave de fendas de relojoeiro. As peças lavadas da merda se secaram . Edestino pôs-se ao trabalho de remontar o equipamento que lhe custou tão caro. Agora restava testar. Apertou a tecla ON. Boas notícias, o painel acendeu! E veio conexão da rede Telemig Celular. Funciona! - Edestino, venha almoçar - chamou a tia, passada uma hora depois. Assim que se sentou e servindo feijão, Tia Almerinda comentou com voz maternal. - Meu filho, você precisa parar de chegar em casa depois que bebe nestes bares da cidade. Você perde memória, está sumindo com as minhas coisas da cozinha. - Eu? Como assim? - Olha que eu encontrei o apanhador de saladas na lata de lixo. Veja só - e apontou para a salada que estava a ser servida à mesa, agora com o tal apanhador já em cima. Por mais que Edestino tentasse explicar a verdade, Tia Almerinda não acreditou. Achou graça e serviu-se da salada com o apanhador. A empregada doméstica da casa riu e também achou que era invenção da cabeça dele. A seguir , o problema foi nas primeiras ligações que fez com o celular. O alto falante interno , que não se difere muito destes que temos nos carros, com superfície parecendo papel, absorveu bosta de Edestino. Todas as vezes que levava o aparelho ao ouvido sentia o cheiro desagradável de merda humana. Chegou a ponto de finalizar mais rápido as conversas devido ao nauseabundo cheiro que vinha de trás das orelhas. Viajando pelo interior de Minas, em conversa particular um amigo, este relatou-lhe que estava entusiasmado com aquilo dos celulares da Telemig. Imediatamente, com seu faro para negócios muito apurado, Edestino avançou. - Ora esta. Eu lhe vendo este Bosch com linha funcionando. Tá no jeito, veja. Estabeleceram um valor e o negócio se fez. Passado 3 dias os dois se encontraram e o amigo disse. - Edestino, não sei se é impressão. Toda vez que atendo este telefone me vem um cheiro de bosta... - Não sei. Tenta falar com o Serviço de Apoio ao Cliente da Telemig. Eles devem saber, uai. Conforme apurei, desde então parece haver mesmo um número de protocolo relacionado com o problema. De assuntos de merda este estado está cheio. (Nomes e lugares foram alterados, mas a história é verídica).
Posted on: Thu, 04 Jul 2013 04:19:52 +0000

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