MANIFESTAÇÕES EM LUÍS Sábado 22.06.2013 1 UMA BREVE - TopicsExpress



          

MANIFESTAÇÕES EM LUÍS Sábado 22.06.2013 1 UMA BREVE INTRODUÇÃO Por óbvio, as impressões narradas a seguir surgem de uma perspectiva individual, de um olhar de apenas um dos milhares de participantes que, com seus defeitos (muitos) e virtudes (poucas), estava tentando compreender o que ocorria na dinâmica da Manifestação. Desta vez, desde o início já se sentiu algo diferente, e é isto que se quero passar para os amigos, uma impressão de que algo está mudando. Os eventos serão narrados e, junto com eles, minhas impressões e tentativas de compreender os fatos: 2 EVENTOS E INTERPRETAÇÕES 2.1 Dia escaldante na Belíssima São Luís do Maranhão. Sol à pino, poucas nuvens, manhã magnífica. A manifestação estava marcada para as 14h. Pensei: - Putz, fazer “revolução” duas da tarde é dose! Cheguei na Praça Maria Aragão, local da concentração, às 14h30. Já tinha um número razoável de pessoas. Busquei uma sombra para me proteger (embaixo da cobertura do Memorial). Ao longe era possível se ver nuvens negras se formando. 2.2 Pouco depois, vi uma concentração ao redor de um cara com megafone, de uma das facções que estavam na organização da manifestação. Ouvi o trajeto a ser percorrido: Pça Maria Aragão, Rua do Egito, Pça. Benedito Leite e Pça. Pedro II. Tal trajeto havia sido objeto de negociação com a PM. Achei tudo aquilo ultrapelego! (A estes caras vou dar o nome de facção A) 2.3 De repente, um cara que estava com a camisa do Sampaio Correia começou a mobilizar a galera para invadir a Av. Beira Mar e começar a marchar em direção à Ponte Bandeira Tribuzzi em direção ao Shopping São Luís, caminhado no sentido inverso ao do trajeto “negociado” com a PM. Concordei com esta facção e me juntei a eles, invadimos à avenida. (A este grupo vou dar o nome de facção B) Depois de muita pressão, inclusive dos manifestantes, a facção A cedeu e todos começaram, a marchar em direção à Ponte Bandeira Tribuzzi. O calor estava altíssimo. Uma galera que se encontrava na praça Gonçalves Dias desceu e veio acompanhar a manifestação que estava partindo. 2.4 Era muita pressão no “comando” da manifestação. Inclusive me manifestei e coloquei minhas razões para os membros do comando facção A: a PM havia negociado o trajeto com um intuito muito claro, levar todos os manifestantes para um “deserto” (que seria a Praça D. Pedro II, vazia no sábado à tarde), e que estaria totalmente ocupada pelas forças militares. Era claramente uma arapuca, uma armadilha, ou para desmobilizar, ou para gerar conflito, mas simplesmente afastando o movimento das regiões onde estava o POVO (Shoppings e grandes avenidas). 2.5 Depois de muita pressão e discussão no comando, surgiram os verdadeiros líderes da facção A (dois ou três cidadãos) e aí entendi: os partidos políticos podem não estar vestindo camisas, mas sem dúvidas, estão por trás das facções, nas quais há muitos militantes acreditando que a coisa é apolítica! O mais curioso é que quando a facção B (que não tinha carro de som) queria argumentar, a facção A (que tinha carro de som) gritava “Há infiltrados! Sem partido! Sem partido!”. Ou seja, supostamente ter um partido é usado como uma mácula para desqualificar qualquer outra opinião diferente das lideranças. 2.6 Subitamente, a facção A conclamou os manifestantes a mudarem de rota (muita gente ficou sem entender): subiria pelo Hospital Dutra até a praça Gonçalves Dias (Largo dos Amores) e iria descer de novo para a Beira Mar. Lembrei aos membros da facção A, do carro de som, que ali era um hospital e havia o problema do silêncio. Houve uma advertência aos manifestantes e realmente ficamos todos em silêncio, sem buzinas, sem apitos etc. Todo mundo mandava os barulhentos se calarem. Foi bem legal. 2.7 Na praça Gonçalves Dias, descendo a Av. Rio Branco juntaram a nós mais dois grandes carros de som (com as facções C, D e E) e outras mil e quinhentas pessoas. Ficou evidente que os partidos políticos ali estavam, mas sem suas bandeiras, camisas ou símbolos. O calor estava para matar!!!! Desci pelas escadarias para a praça Maria Aragão. A razão para fazermos este trajeto é que estas outras facções estavam ali em cima esperando os manifestantes. 2.8 Quando chegamos na Av. Beira Mar, caiu um temporal, uma chuvarada incrível!!!! A manifestação, a passeata, subiu pela Rua do Egito e a chuva caiu com uma força fantástica! Foi como que uma catarse, uma purificação! O tempo ainda estava quente, mas aquela chuva agradável me lembrou Engenheiros do Hawaii: “Que a chuva caia/ Como uma luva/ Um dilúvio/ Um delírio/ Que a chuva traga/ Alívio imediato.“. Neste momento vi um cartaz muito engraçado: “Dilma, tudo bem que mulher gosta de BOLSA, mas você está exagerando!”. 2.9 Quando a manifestação chegou na frente Praça Benedito Leite lá se encontrava um veículo blindado (um “caveirão”) do GTA barrando o caminho. Tensão no ar. Negociaram e o veículo recuou. Como estava bem lá na frente fui ver as forças policiais. Desta vez não tinha boquinha. Havia uma forte força militar cercando toda a Praça D. Pedro II, desde a Capitania dos Portos até depois da rua “Montanha Russa”. Todo o perímetro estava muito guarnecido. Havia um efetivo imenso, com vários blindados (uns três) e com uma força numerosa da cavalaria. A chuva continuava a cair, mais forte. No caminho um dos “líderes maiores” de uma facção me indagou se eu era do PMDB. Na hora meu impulso era de elegantemente responder, com classe, “VTNC”, mas como os ânimos poderiam estar exaltados, argumentei com ele, disse quem eu era, que ele me conhecia (e eu a ele) e que deveria ir cuidar de outras coisas... 2.10 Neste momento encontrei dos estimados estagiários da PFN Rubens e Rafaela junto com parentes e amigos. Começamos a conversar e a trocar impressões. Foi muito bacana. Rubens inclusive fez uma colocação bem pertinente, “quem estava pagando todos aqueles carros de som?” Conversamos muito, levamos muita chuva, fizemos uma rápida assembleia e deliberação: decidimos descer para a Ponte José Sarney, para onde tinha ido duas facções (facção A e C). Não estávamos a fim de ficar ali gritando na cara de 2 mil policiais. 2.11 Este foi um dos melhores momentos. A chuva continuava a cair quando descíamos para a Av. B0eira Mar novamente. Parecia muito com Olinda, quando chovia na terça-feira de cinzas, com aqueles casarões velhos ao redor (só não tinha a clássica multidão do Carnaval de Pernambuco e as músicas). Ficamos conversando e quando chegamos na Ponte foi ótimo, muita gente e senti que estávamos indo em direção ao POVO, parando tudo! Muitos helicópteros sobrevoando, a chuva caindo sobre a foz dos rios Bacanga e Anil, a multidão cruzando a Ponte com os carros de Som na vanguarda, o Sol se pondo em uma das paisagens mais belas de São Luís. Uma cena inesquecível! 2.12 De repente, uma correria na ponte! Pânico! Rubens e Rafaela e os amigos saem correndo. Eu paro e tento entender o que acontecia: um “elemento” passa por mim correndo e dois ou três caras atrás dele gritando: - Ladrão! Ele mostra a faca para que ninguém se aproxime. Só que ali ele se lascou, a multidão masculina começa a perseguir o criminoso, correndo atrás dele, só o cercando. O “animal acuado” continua a correr e, na esperança de escapar, larga no chão a carteira da vítima (que a apanha). A turba ameaçadora começa a cerca-lo. Ele se distrai e um cara dá uma voadora nas suas costas. Ele cai e se levanta. Continua a mostrar a faca. Os caras ao redor ficam cercando. O “elemento” se choca com um dos manifestantes (que cai no chão) e perde velocidade. Era o momento. A massa cerca a “alma sebosa” que recua, mas continua a empunhar a faca. O grito da multidão soa no ar: - Lincha! Lincha! Lincha! Um cara vem com pau de bandeira e assusta o marginal. Ele recua até a grade da ponte, passa para o outro lado, tenta se segurar e pula. O cara cai lá embaixo no rio Anil e, depois de nadar, se agarra em um dos grandes pilares da ponte (a correnteza era incrível!). Os helicópteros descem e jogam uma bóia para o criminoso. Ele a segura. Pelo que escutei a PM capturou o cara na margem. 2.13 A passeata continuou pelo bairro do São Francisco. Foi indagado por que não ir até a TV Mirante (a Globo local), na avenida Ana Jansen. A facção A respondeu que o risco de vandalismo era alto. De fato eles tinham razão, o risco era realmente grande. Eles param no retorno do São Francisco e dizem que aquele local será batizado com o seu nome. Eles pedem para rezar para quem está cima de todos nós., olhando para a gente (na hora, curiosamente, passa um helicóptero do GTA...). O carro de som da facção C chega e faz um plebiscito, TV Mirante ou Shopping Tropical? A multidão se divide. Falam para o membros desta facção que o risco de confusão é significativo na TV Mirante. Então a galera decide: vamos para a Assembleia Legislativa! Ótima ideia! Após uma votação por aclamação, a multidão aceita imediatamente e segue em frente. (A facção A, mais uma vez se submetendo ao plano da PM, parou sua marcha no retorno do São Francisco). 2.14 A caminhada pela Av. Colares Moreira foi muito bacana! Muita gente. Muita leitura de cartazes, muitos gritos de guerra, muitos discursos; tudo isto caminhando pelo bairro Renascença, fechando os dois sentidos grande avenida. Todo o comércio fechou. A população apoiava. Um “tiozão” em um dos apartamentos, da sua varanda, começou a soltar fogos de artifício (ultrabarulhentos) e a galera gritava “- Ah, é tiozão! Ah, é tiozão!”, e o aplaudia! Tinha uma mulher que estava vestida toda de preto e passou todo trajeto segurando, com um braço estendido, uma rosa vermelha. 2.15 Ao passarmos pelo Shopping Tropical, logo depois do Carlos Macieira/IPEM, uma belíssima lua nasceu para nós, o céu ficou mais limpo e pudemos apreciar esta bonita cena. Um dos locutores da facção C disse que a gente estava mais parecido com “romeiros” e que na segunda feira iríamos até São José de Ribamar! 2.16 Pouco depois, perto do elevado da Casa do Trabalhados tive o prazer de encontrar o Dr. Nonato, um ex-aluno da Faculdade São Luís. Ficamos conversando e bradando palavras de ordem. Pouco depois o carro de Som conclamou a galera a acelerar o passo porque a Assembleia Legislativa estava bem perto. Foi arretado correr na Av. Jerônimo de Albuquerque, na subida, em uma noite de sábado, na contramão, cercado por uma multidão. Ao passarmos pelo Conjunto Novo Tempo no COHAFUMA, pedimos para o cara do carro de Som chamar a galera do conjunto (“Vem, vem/ Vem pra rua, vem!. Muitos moradores se juntaram nós. Chegamos na Assembleia Legislativa. Helicópteros com fachos de luz na multidão. Cavalaria da PM. O Batalhão de Choque chegou em massa. Os membros da facção C exortaram o público a não cometer vandalismo, até porque a PM ali era composta por trabalhadores também. Muito legal a postura deles e gritamos “Ô fardado/ tu também é explorado!”. Cantamos o Hino Nacional e muitos cantaram o hino do Maranhão. Pouco depois, resolvi ir embora, quando a multidão começava se dispersar. Acredito que na frente da Assembleia legislativa havia umas 1000 a 2000 pessoas, no máximo. 3 Conclusão 3.1 A meu sentir, as próximas manifestações não devem buscar o Palácio dos Leões, onde sequer a governadora atua, mas mirar a Assembleia Legislativa ou o Palácio Henrique de La Rocque e também caminhar para onde o POVO está! Neste trajeto, deveria se mostra para Cidade, deixando que que a multidão seja vista, juntando mais pessoas (em colégios, faculdades (CEUMA, UNDB etc), prédios etc.). Não adiante se isolar naquela região do Centro, pois a vida urbana atualmente acontece também, com muita intensidade, no Renascença, no Calhau, na Av. São Luís Rei de França, na Av. Jerônimo de Albuquerque, na Av. Guajajaras etc. O ponto de partida pode ser o Centro, mas a marcha deveria ir além das grandes pontes!!! 3.2 Por fim, para os amigos, gostaria de deixar bem claro que esta impressões, por óbvio, são bem pessoais. São pontos de vista de um movimento bem multifacetado, complexo e com causa difusas que são expostas de modo bem desorganizado. Não sou um observador neutro, nem vejo os eventos como que pairando sobre eles. Minhas imperfeições contaminam a minha visão, mas também colorem o quadro, tornando-o bem vívido para mim. Tais impressões são retiradas do que vi nas ruas, nas avenidas e praças, sob o calor dos eventos e do Sol que a todos ilumina em São Luís do Maranhão.
Posted on: Sun, 23 Jun 2013 00:27:09 +0000

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